Economistas projetam o pior PIB per capta dos últimos 120 anos ao final de 2020
O Brasil deve registrar ao final deste ano os piores resultados para uma década de crescimento econômico e de variação de PIB per capita dos últimos 120 anos, segundo um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com os economistas Claudio Considera e Marcelo Balassiano, esse cenário ocorreria mesmo sem a pandemia da Covid-19.
As projeções da fundação para a década (2011 e 2020) é de um crescimento médio de 0,2% na economia, o que seria o mais fraco desempenho das últimas décadas, desde o início do século passado. No caso da soma das riquezas do País dividida pela população (PIB per capita), a projeção é que esse indicador deve finalizar a década com um recuo de 0,6% médio, igual ao observado no período de 1981-1990, e também o pior resultado desde 1901.
“O Brasil caminha para mais uma década perdida na economia ao fim de 2020, a segunda em 40 anos”, afirma o economista Claudio Considera, um dos dois autores do estudo, que foi divulgado pelo Valor na terça-feira (15).
“O caso é que, quando você cresce menos, você tem menos a distribuir”, disse Considera, ressaltando que o fraco ritmo da atividade econômica derrubou o PIB per capita.
No estudo, a FGV usou como base as estimativas de recuo anual no Produto interno Bruto (PIB), que é soma de todas as riquezas produzidas pelo País, de -4,4% em 2020, com retração de 5,1% no PIB per capita, originadas de projeções de mercado, do Boletim Focus do Banco Central (BC) e do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Neste ano, todas as economias do mundo foram derrubadas pelo coronavírus, no entanto, o economista Marcel Balassiano avalia que no caso do Brasil a Covid-19 não pode ser usada como desculpa. Segundo o especialista, se a pandemia não tivesse existido, e o PIB subisse 2% em 2020, como apontavam as projeções pré-covid-19, a década atual já seria a pior em 120 anos, em termos de expansão econômica, já que ela teria um crescimento médio de 0,9%.
No caso do PIB per capita, a projeção seria de alta de 1,2%, nos mesmos cenários de não pandemia. “Nesse caso, a década ficaria estagnada no PIB per capita” disse Balassiano, acrescentando que esse seria também o pior desempenho para uma década. Para ambos os pesquisadores, mais do que a crise na economia causada pelo novo coronavírus, os números demonstram uma trajetória contínua de atividade econômica fraca nos últimos anos, que culminou com o “baque” da pandemia em 2020.
“Mesmo antes da pandemia, nós crescíamos muito lentamente”, lembrou Considera. “Tivemos uma recessão forte a partir de 2016, e recuperação lenta em 2019”, acrescentou Balassiano.
Considera avalia que para o Brasil recuperar perdas de 2020 na atividade econômica e no PIB per capita a partir de 2021, a economia brasileira teria que crescer em torno de 4,4%. “Vamos supor que o PIB do Brasil caia 4,5% em 2020. O PIB tem que crescer pelo menos em torno de 4,4% para se recuperar [em 2021]”, disse o economista, observando que, para ter um saldo positivo na variação do PIB per capita em 2021, seria preciso crescer um ponto percentual a mais do que a alta estimada de 4,4% para repor o tombo da economia no ano da pandemia.