
O governo Bolsonaro concluiu às vésperas do Natal a venda da Liquigás Distribuidora para um consórcio formado pela Copagaz, Itaú e Nacional Gás. De acordo com comunicado desta quarta-feira (23), a transação foi de R$ 4 bilhões – valor irrisório frente aos resultados da companhia, que em 2019 teve lucro líquido de R$ 108,2 milhões.
A Liquigás é subsidiária integral da Petrobrás, atuando no engarrafamento, distribuição de comercialização de gás GLP no Brasil inteiro, contando com 23 centros de operação, depósitos e inúmeras bases de armazenagem que atende quase 5 mil revendedores. A sua participação aproximada no mercado de GLP é de 21% – a maior dentre as distribuidoras.
A entrega do patrimônio da estatal faz parte do plano de desinvestimento iniciado ainda durante o governo Dilma. Sob a atual gestão, o objetivo é dobrar a entrega de ativos através da liquidação de seu patrimônio.
A venda da Liquigás foi aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no mês passado depois de inúmeras tentativas frustradas. Em uma delas, o Cade acolheu recursos da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet) e reprovou a compra da Liquigás pela Ultragás, alegando risco de formação de monopólio na distribuição de gás.
Desta vez, quem arrematou a Liquigás e passará a ser a nova controladora foi a empresa privada Copagaz, em conjunto com a Itaúsa – empresa de investimentos de acionistas do Itaú Unibanco. Além de ruim para a cadeia da Petrobrás, a venda pode criar uma concentração de mercado de um produto de primeira necessidade, que em algumas regiões pode chegar a 60%, 70%, com graves consequências para o consumidor. A Nacional Gás vai ficar com uma fatia menor, de 18%, sobre o volume de GLP vendido.
Desmonte
No mês passado, a direção da Petrobrás anunciou o seu “plano estratégico” 2021-2025 que prevê a entrega de mais refinarias, redução de participação na cadeia e a estagnação na produção de petróleo com o objetivo de alcançar até US$ 35 bilhões em vendas de ativos. Começando pela Liquigás, o objetivo é encerrar todas as participações em transportadoras e distribuidoras de gás até 2025. Além disso, prevê a venda de oito das 13 refinarias em operação, venda de 13 terminais aquaviários, alienação de 209 campos de produção em terra, venda da BR Distribuidora, da Gáspetro, de sua participação em petroquímicas, rotas de gasodutos e termoelétricas.
A justificativa é de que a companhia segue endividada, mas o novo plano de desinvestimentos foi divulgado ao lado de previsão de distribuição de dividendos entre os acionistas da ordem de US$ 35 bilhões – ou seja, toda a meta de venda de ativos – até 2025.