
“Os campos de extermínio elevaram à escala industrial o morticínio nazista. Só na Polônia, dos quatro milhões de cidadãos judeus, restaram cinquenta mil ao fim da ocupação”, condena Iso Sendacz, na sua matéria “Holocausto, nazismo e negacionismo”.
Nesta primeira parte, intitulada “Lembrar, não esquecer e não repetir. Muito menos no Brasil”, Iso destaca ainda como foi a derrotada do nazismo: “Da URSS ganharam a bandeira vermelha sobre o Reichstag, em 1945. E da Humanidade, a condenação eterna pelos crimes contra ela cometidos pelos nazifascistas”.
A matéria tem por base um debate realizado por iniciativa do professor Ricardo Plaza, do IFSP (Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo) com a participação dos professores de História Ângelo Nanni e Haroldo Hirata e da psicóloga e psicanalista Renata Plaza, professora de Educação e Direitos Humanos do IFSP.
O debate realizado com a participação destes professores que atuam nos Campi de Caraguatatuba e Jacareí teve por título “Holocausto, nazismo e negacionismo” e por subtítulo a frase da professora Deborah Lipstadt “Há os fatos, há as opiniões…e há as mentiras!”
A frase da professora Lipstadt foi dita em uma palestra concedida por ela logo após ter vencido o negacionista do holocausto, David Irving em um tribunal inglês. Irving processou a professora alegando que suas críticas a seu negacionismo careciam de base científica. A professora comprovou a justeza de sua posição e o tribunal acabou por condenar o negacionista considerando suas diatribes como fruto de mentiras forjadas por um “antissemita, racista e preconceituoso”.
Ao introduzir o debate, o professor Ricardo trouxe a problemática do negacionismo para a realidade atual vivida pelos brasileiros: “muitas mortes pela Covid teriam sido evitadas se não tivéssemos um presidente que a todo momento incentiva a aglomeração, incentiva as pessoas a desresepeitarem as normas de boa conduta sanitária e, agora, a não se vacinarem”.
Segue a primeira parte da matéria de Iso.
Boa leitura
ISO SENDACZ*
Lembrar, não esquecer e não repetir. Muito menos no Brasil (Parte I)
A exemplo de seus colegas da UFPB, que encerraram o ano letivo com o Dr. Carlos Lopes e Pós-modernismo e pauta identitária, acadêmicos da IFSP uniram-se a historiadores do Vale do Paraíba e Litoral Norte paulistas para discutir o negacionismo no contexto do nazismo e do holocausto.
Logo à abertura das exposições, o organizador do canal Debate e Consciência, Ricardo Plaza, sediado no campus Caraguatatuba do Instituto Federal, trouxe o depoimento de seu orientador de mestrado e doutorado na USP Iuda Goldman, nascido na Polônia em 1932 e chegado no Brasil quatro anos depois.
Prof. Dr. Iuda Goldman
O veterano titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo contou da influência da Revolução Russa sobre os corações e mentes sobre as minorias perseguidas na Polônia e outros países, entre os quais os judeus; seu pai, proprietário de uma marcenaria, foi fichado como “subversivo” e veio ao Brasil, via Londres, trazendo em seguida a família e se estabelecendo como fabricantes de casacos para senhoras. Aprendeu as primeiras letras com a sua culta mãe e chegou ao ápice da física nuclear por aqui, onde o acesso à universidade pública não lhe era proibido, como na sua terra natal.
Goldman lembrou que os invasores alemães de 1939 não eram os gentlemen da primeira guerra, mas soldados embrutecidos pela crença de que bolcheviques e judeus eram o inimigo da grandeza do Reich. Outra não foi a atitude dos seus pais que apoiar solidariamente as vítimas do nazismo deste a América do Sul. Muitos de seus parentes foram encerrados no Gueto de Cracóvia, berço do Papa João Paulo II e do maior cientista da história polonesa, Nicolau Copérnico.
Acompanhados de Renata Plaza e Ângelo Nanini, Ricardo Plaza e o historiador e professor Haroldo Hirata trouxeram o contexto do surgimento do nazismo e a prática do holocausto.
A unificação alemã de 1871 em um Estado nacional veio seguida de uma profunda depressão econômica, que colocou a Europa em pé de guerra. Derrotados em 1918, a economia germânica não se recuperou na República de Weimar do entre-guerras. Foi esse o cenário da ascensão de Hitler ao poder, pela via eleitoral, em 1933. Seu discurso de então seria inspirador para certo presidente atual: a culpa era dos comunistas, que tomaram o poder e construíam a União Soviética. Da cultura e ciência, bastante desenvolvidas na Alemanha dos anos 1920. E dos judeus.
A estes a truculência do Reich não poupou vidas nem fronteiras. Os campos de extermínio elevaram à escala industrial o morticínio nazista. Só na Polônia, dos quatro milhões de cidadãos judeus, restaram cinquenta mil ao fim da ocupação.
Da URSS ganharam a bandeira vermelha sobre o Reichstag, em 1945. E da Humanidade, a condenação eterna pelos crimes contra ela cometidos pelos nazifascistas.
Renata e Ângelo abordaram essa triste realidade histórica sob o viés da sua negação pelos fascistas mais novos, tema da segunda parte desta cobertura.
(*) Engenheiro Mecânico pela EESC-USP, Especialista aposentado do Banco Central, diretor do Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central, do Instituto Cultural Israelita Brasileiro e membro da direção estadual paulista do Partido Comunista do Brasil
Veja o vídeo com a íntegra do debate que resultou na matéria de Iso no link:
https://www.youtube.com/watch?v=6dJzAKAgAZw&t=10300s
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