O desgoverno e a insanidade do governo Bolsonaro estão criando um clima que até multinacionais não confiam mais em seus negócios no país e buscam outras economias. Um exemplo disso é a decisão da Ford de fechar suas fábricas no Brasil, mantendo sua produção na Argentina e no Uruguai.
A realidade é que, frente aos descalabros de Bolsonaro, o mercado interno passa por uma das suas piores dificuldades econômicas da história, e o governo não tem nenhum plano que faça a economia reagir. Sem mercado interno não há venda, sem venda não há produção que aguente. Além disso, Bolsonaro se nega a manter os incentivos econômicos emergenciais que possam aliviar os impactos da pandemia do coronavírus na economia. Nem mesmo um plano de vacinação foi apresentado para proteger a população, enquanto em outros países a vacinação já começou.
Em apenas dois anos de mandato, os desatinos de Bolsonaro fizeram US$ 72,7 bilhões deixarem o País, entre 2019 e 2020, segundo dados do Banco Central (BC).
O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes, ao comentar o anúncio feito pela Ford, na segunda-feira (11), destacou em seu Twitter que “no ano passado, o Brasil atingiu a menor participação na produção industrial desde 1990. Hoje a Ford anunciou que vai fechar todas as fábricas em nosso país, em um momento que nosso povo sofre com fome, miséria e desemprego recorde. Com a saída de mais uma montadora, nosso país segue afundando no processo de desindustrialização. Bolsonaro vai liquidar nossa Nação! Congresso, cumpra com seu dever: Impeachment Já!”.
Na terça-feira (12), ao conversar com apoiadores, Bolsonaro minimizou o fim das atividades da multinacional no Brasil e acusou a empresa de querer subsídios. “Mas o que a Ford quer? Faltou a Ford dizer a verdade. Querem subsídios. Vocês querem que continuem dando R$ 20 bilhões para eles, como fizeram nos últimos anos? Dinheiro de vocês, do imposto de vocês”, disse. “Repito: lamento os cinco mil empregos perdidos… Agora, negócio é negócio. Deu lucro? O cara fica aqui. Não deu lucro? O cara não produz mais aquilo, fecha”, concluiu.
É fato que as montadoras de veículos no Brasil receberam incentivos fiscais da ordem de R$ 30 bilhões, entre 2009 e 2019. Mas também é fato que os estímulos fiscais às montadoras se mantiveram no atual governo. Em outubro de 2020, Jair Bolsonaro sancionou a lei que prorrogou os incentivos fiscais à montadoras de veículos ou fabricantes de autopeças instalados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Lei de iniciativa do executivo, através da Medida Provisória 987/2020. A renúncia fiscal foi estimada em R$ 150 milhões.
Bolsonaro não é contra os subsídios, só tem preferências, como fez ao zerar os impostos para importação de armas. Ao mesmo tempo que fez isso, vetou a desoneração da folha de pagamento para 17 setores que mais empregam no país, até o final de 2021, medida que foi aprovada pelo Congresso Nacional para proteger empregos durante a pandemia.
O veto presidencial foi derrubado pelos parlamentares em novembro e o governo, no mês seguinte, apresentou uma ação direta de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) para suspender a prorrogação da desoneração da folha.
Com o fechamento das fábricas da Ford, em Taubaté (SP), Camaçari (BA) e Horizonte (CE), cerca de 5 mil postos de trabalho deixarão de existir. Em Camaçari, a previsão é que ao todo sejam demitidos 60 mil trabalhadores, diretos e indiretos, em cerca de 30 empresas, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos do município baiano.
No governo Bolsonaro, além da Ford, a Mercedes-Benz informou o encerramento de suas atividades no Brasil, assim como a Sony e a empresa farmacêutica Roche, que encerrará suas operações até 2024.
Para o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon) e diretor da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais) da PUC-SP, Antônio Corrêa de Lacerda, a decisão da Ford está diretamente ligada a um cenário de desindustrialização do Brasil.
“O Brasil vive há anos um processo agudo de desindustrialização, desnacionalização de empresas e desmobilização de cadeias industriais. Estamos ‘reprimarizando’ nossa economia, cada vez mais dependente de commodities”, declarou Lacerda ao Uol.