No front da guerra comercial que Trump diz que “é muito boa e fácil de vencer”, seu governo sofreu uma baixa importante na quarta-feira (7) para um governo que já tem mais furos que um queijo suíço, a do banqueiro e Goldman-boy Gary Cohn, seu principal conselheiro econômico. Em janeiro, o déficit comercial dos EUA aumentou 5%, para 56,6 bilhões, em relação a igual período do ano anterior. O déficit com a China aumentou 16%, para US$ 36 bilhões.
Na semana passada, Trump impôs alta de 25% sobre tarifas na importação de aço e de 10% na de alumínio. Já em Bruxelas a comissária de Comércio da União Europeia, Cecília Malmström, botou uma jaqueta preta de couro para apresentar uma lista provisória de retaliações: motos Harley Davidson, jeans Lewis, creme de amendoim, bourbon e suco de laranja (no total de US$ 3,5 bilhões).
A explicação – e a lei em que se baseou a alta de tarifas – de Trump foi de que se tratava de uma “questão de segurança nacional”. Madame Malmström se mostrou pasma: “não podemos ver como a União Europeia, amigos e aliados na Otan, podem ser uma ameaça à segurança nacional dos EUA”.
China, União Europeia e mais 16 nações ingressaram na Organização Mundial do Comércio contestando a medida de Washington. A OMC alertou os estados membros para “pararem a queda dos primeiros dominós” de uma guerra comercial.
O economista Michael Hudson chamou a atenção para outro aspecto do uso exatamente de tal lei para elevar tarifas. “Trump disse: qualquer acordo que façamos, podemos quebrar a qualquer momento, dizendo ‘segurança nacional’”. Ele acrescentou que o que isso significa é que “livre comércio” para você. “Nós sempre podemos proteger o que estamos fazendo para a segurança nacional”. E numa situação dessas, o que o Canadá e o México vão fazer?
Com aquele espírito de ‘grandes empreendimentos, maiores negócios’, o porta-voz do Congresso Nacional do Povo da China, Zhang Yesui, disse considerar natural que “exista alguma fricção” entre Washington e Pequim, já que o volume de comércio bilateral supera US$ 580 bilhões.
Quando houve aquela alta de tarifas de até 50% que atingiu máquinas de lavar e painéis solares, que pegou em cheio a China (além da Coreia do Sul), o humor estava um tanto mais cáustico, com advertências de aumento de tarifa sobre importação de soja e sorgo dos EUA. Apesar de produzir atualmente quase metade do aço no mundo, a China fica apenas em 11º lugar entre os maiores vendedores aos EUA.
Até onde vai a guerra ou se é só encenação, ainda está para ser determinado. Um jornalista perguntou a Madame Malmström se “ela estava confiante de que a conversa sobre guerras comerciais que saem da Casa Branca terminará após as eleições especiais na Pensilvânia, onde há muitos trabalhadores siderúrgicos?”. “Seu palpite é tão bom quanto o meu”, ela respondeu, dizendo esperar que a alta de tarifas não acontecesse. Ou, é olho por olho?
A saída de Cohn seria por dois motivos: o primeiro, que a guerra comercial fake de Trump vai dar caca; o segundo, aquilo que o levou ao governo, o maná de corte de impostos para ricaços e corporações, já está no bolso. Missão cumprida. E haja bolso: US$ 1,5 trilhão em dez anos, e imposto de renda das corporações rebaixado de 35% para 21%.
A.P.