Maioria condena sua rejeição às vacinas. Orlando Silva (PCdoB-SP) diz que “não quer dizer que Bolsonaro derreteu”, mas mostra que o presidente “perdeu a gordura que tinha ganho no fim de 2020”
A pesquisa XP/Ipespe, divulgada na segunda-feira (18), e realizada entre os dias 11 a 14 de janeiro, antes, portanto, do desgaste sofrido por Jair Bolsonaro por seu desprezo pelas vacinas contra a Covid-19 – e sua má vontade com o Instituto Butantan – e do estrondoso desastre da “espetacular logística” do ministro da saúde, Eduardo Pazuello em Manaus, provocando a morte de dezenas de pessoas por falta de oxigênio na capital amazonense, já mostra o presidente perdendo apoio da sociedade.
Subiu de 35% para 40% a parcela da população que considera ruim ou péssimo o governo de Jair Bolsonaro, percentual semelhante ao do início da pandemia de coronavírus, em abril de 2020. Neste período, a doença, que Bolsonaro chamou de “gripezinha”, já matou mais de 210 mil pessoas. Na outra ponta, os que veem a gestão como ótima ou boa passaram de 38% para 32%, diz a pesquisa. Desde maio do ano passado, é a primeira vez que há aumento no percentual dos críticos ao governo e redução no de apoiadores. É também a primeira vez, desde julho, em que a avaliação negativa supera a positiva.
Mesmo antes do desastre de Manaus, dos ataques permanentes de Bolsonaro às vacinas, tanto a do Butantan quanto às demais, e o desrespeito, por parte de membros do governo, às medidas de proteção da população contra o vírus, os brasileiros já vinham se irritando com as atitudes de Bolsonaro. O aumento da rejeição ao seu governo, revelado agora pelo levantamento da XP/Ipespe, já era notado e está associado, portanto, à piora na percepção de sua atuação para enfrentar o coronavírus.
Não por acaso a condução do presidente na pandemia é vista como negativa por 52% dos entrevistados, uma aumento de 4 pontos percentuais em relação a dezembro. Enquanto isso, apenas 23% aprovam as ações do governo Bolsonaro no enfrentamento da pandemia de coronavírus. Ao mesmo tempo, melhorou a avaliação da condução da pandemia por parte dos governadores, que têm se desdobrado no combate às consequências da Covid-19, apesar de toda a sabotagem do governo federal.
Outro dado que chama a atenção na pesquisa é a alta de expectativa de que vá aumentar ainda mais a corrupção no governo Bolsonaro. Isto deve estar associado aos escândalos envolvendo a família, como o cheque de R$ 89 mil depositados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, sem que haja nenhuma explicação plausível até agora. Ou ao escândalo do dinheiro na cueca do senador Chico Rodrigues, aliado de Bolsonaro em Rondônia.
ORLANDO SILVA
Ao analisar os dados da pesquisa, o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) disse que o resultado é “bem ruim” e “prenuncia dificuldades” para o governo. Segundo a pesquisa, a avaliação positiva de Bolsonaro caiu seis pontos, para 32%, e a negativa subiu cinco, para 40%. “Mudança de 11 pontos em pesquisa mensal não é um sinal, é um berro!”, pontuou Orlando. Para o deputado, o quadro indicado no levantamento “não quer dizer que [Bolsonaro] derreteu”, mas mostra que o presidente “perdeu a gordura que tinha ganho no fim de 2020”.
A campanha fúnebre de Bolsonaro contra as vacinas também está tendo cada vez menos aprovação dos brasileiros. Os entrevistados foram questionados sobre a disposição de se vacinar e 69% disseram que tomarão a vacina com certeza. Somente 11% disseram que vão seguir a recomendação de Bolsonaro de não se vacinar de jeito nenhum. Já 18% afirmaram que estão analisando o assunto e poderão tomar a vacina contra a Covid-19. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) aprovou no domingo (17) o uso emergencial da CoronaVac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a chinesa Sinovac, e da vacina da AstraZenaeca em parceria com a Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz).
Bolsonaro está se desgastando mesmo entre seus eleitores, que majoritariamente declaram que vão se vacinar. Destes, 58% afirmaram que irão se vacinar com certeza. A ideia negacionista do presidente da República de comparar a Covid-19 com uma “gripezinha” e recomendar que as pessoas se aglomerem e não usem máscaras é cada vez mais repudiada. Mantém-se em trajetória de alta desde outubro os que dizem estar com muito medo do coronavírus – são 42% em janeiro, ante 28% há três meses. Hoje, 56% acreditam que o pior ainda está por vir, contra 36% que dizem que o pior já passou.
Em relação ao auxílio emergencial de R$ 600, criado por decisão do Congresso Nacional para fazer frente a crise econômica provocada pela pandemia, que o governo reduziu à metade e extinguiu totalmente em final de dezembro, 50% defendem que o governo recrie um benefício semelhante por mais alguns meses, embora apenas 27% digam acreditar que o governo tomará essa decisão e outros 47% acreditam que Bolsonaro não patrocinará uma nova rodada do pagamento.
A rodada de janeiro da pesquisa mostra ainda que Jair Bolsonaro segue à frente na disputa presidencial de 2022, mas perdendo fôlego. Ele aparece com 28% das intenções de voto na pesquisa estimulada, mas tinha 29% no mês passado. Na pesquisa espontânea, ele aparece com 22% enquanto no mês anterior ele estava com 24% das intenções de voto. Ela está em queda em vários cenários de segundo turno e já perde para Sérgio Moro numa dessas simulações. Outro dado é que em outra simulação de segundo turno, Bolsonaro já empata tecnicamente com Ciro Gomes (40%x37%).
“Note-se um dado importante: em todos os cenários, Bolsonaro está em queda e os adversários em ascenso. Isso reflete o desgaste pelo pandemônio de seu desgoverno. Muita água vai rolar, mas, aparentemente, a subestimação negacionista da pandemia e a falta de rumo na economia, somada ao sádico corte do auxílio emergencial, parecem ter atingido Bolsonaro”, disse Orlando Silva.
O parlamentar ressaltou ainda que o mundo político vive momentos decisivos, com a aproximação da eleição da Mesa Diretora da Câmara, com o bolsonarista Arthur Lira (PP-AL) disputando a presidência com Baleia Rossi (MDB-SP) que tem o apoio do bloco de oposição.
Veja a íntegra da pesquisa aqui
S.C.