Queda vertiginosa está relacionada aos ataques o presidente às vacinas, ao horror das mortes em Manaus e ao criminoso fim da ajuda emergencial, avalia Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da consultoria Quaest
No último fim de semana, Jair Bolsonaro caiu quase 20 pontos percentuais e teve a pior pontuação do mês de janeiro no ranking do Índice de Popularidade Digital (IPD), elaborado pela consultoria Quaest. A Quaest avalia o desempenho de personalidades da política nacional nas plataformas Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, Wikipedia e Google. A mesma pesquisa detectou um crescimento de João Dória, do PSDB.
O desempenho pífio de Bolsonaro nos últimos dias nas redes sociais, observado pela consultoria, foi relacionado à sua conduta contrária às vacinas contra a Covid-19. A debacle do presidente na internet, área onde sempre manteve uma dianteira em relação aos seus adversários, se acentuou no domingo (17) com a aprovação do uso emergencial da CoronaVac, do Instituto Butantan, e da vacina da AstraZeneca, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), no último domingo (17).
A queda de Bolsonaro, que atacou de todas as formas possíveis as vacinas contra a Covid-19 e desestimulou a população brasileira de fazer uso dos imunizantes foi de 17,1%, ou seja, ele caiu de 83,4% em 1 de janeiro para 66,3% em 17 de janeiro – o IPD é medido em uma escala de 0 a 100, em que o maior valor representa o máximo de popularidade.
Neste mesmo estudo, enquanto Bolsonaro desabava, João Dória (PSDB), que investiu todas as suas forças na criação de uma vacina contra a Covid-19, cresceu vertiginosamente. Saiu de 22,8% em primeiro de janeiro para 43,9% em 17 de janeiro. Ou seja, um crescimento de 21.1 pontos percentuais.
Para o cientista político Felipe Nunes, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor da Quaest, “há uma combinação explosiva neste momento contribuindo para a queda na popularidade digital de Bolsonaro. O fim do auxílio emergencial, as dificuldades da equipe econômica em produzir reação e a postura conflitiva do governo em relação à vacina. Tudo isso junto, fez com que houvesse uma queda significativa na ‘valência’ de Bolsonaro – a dimensão do IPD que mede o sentimento nas redes sociais.”
O desastre que atingiu a “popularidade” de Bolsonaro nas redes sociais está relacionado também, segundo o especialista, aos episódios da crise de oxigênio em Manaus, que matou dezenas de pessoas asfixiadas e sem conseguir respirar. O governo estava avisado de que o sistema de saúde de Manaus estava próximo de entrar em colapso e não tomou nenhuma providência séria.
Ao contrário, o ministro Pazuello e Bolsonaro mandaram uma “força-tarefa” ao Amazonas para obrigar os postos de saúde da capital a receitarem a cloroquina, invermectina, a azitromicina e outras drogas sem eficácia contra a Covid-19. Quando faltou oxigênio para os pacientes graves, o governo disse que não tinha aviões para levar o produto ao estado.
Segundo Felipe Nunes, “para a elaboração do IPD, são monitoradas seis dimensões nas redes: fama (número de seguidores), engajamento (comentários e curtidas por postagens), valência (reações positivas e negativas às postagens), presença (número de redes sociais em que a pessoa está ativa) e interesse (volume de buscas no google, youtube e Wikipedia”.
“Um modelo estatístico pondera e calcula a importância de cada dimensão, e os candidatos analisados são posicionados em uma escala de 0 a 100. A métrica é relacional, ou seja, varia a depender das personalidades que estejam sendo comparadas”, prossegui o professor da UFMG, para quem a queda de Bolsonaro foi bastante significativa.