No pior dia da pandemia, falta de oxigênio mata pacientes de Covid em Manaus. Bolsonaro premia o cartel do oxigênio entregando a empresa de distribuição de gases da Petrobras
MIGUEL MANSO (*)
Todos assistimos estarrecidos, consternados e principalmente indignados, a morte de centenas de brasileiros em Manaus nos últimos dias por falta de Oxigênio nos hospitais superlotados pelo recrudescimento da pandemia no Brasil que o presidente da República insiste em minimizar.
As imagens trágicas de homens e mulheres recebendo massagens cardíacas nos corredores e no chão dos hospitais, parentes das vítimas chorando desesperadas e fazendo apelos para que enviassem Oxigênio a Manaus e a absurda visita do Ministro da Saúde – General Pazzuello, pressionando pelo uso da Cloroquina, criticando governador, prefeitos e médicos por não usar as “medicações precoces” e a incapacidade de mobilizar os recursos para o envio emergencial de Oxigênio para Manaus chocaram os brasileiros e todos no planeta.
Governadores, artistas, personalidades, médicos se apresentaram e se mobilizaram para a emergência enquanto Bolsonaro e Pazzuello mais uma vez desinformavam, mentiam, sabotavam as medidas emergenciais e tumultuavam a chocante crise de Manaus, com centenas de mortes por asfixia por falta de Oxigênio.
Nas dificuldades alegadas para a incapacidade de suprir de Oxigênio as vítimas da pandemia muitos se perguntavam como podia faltar Oxigênio para a capital amazônica. Não se trata de equipamentos ou remédios, apenas de Oxigênio. Oxigênio limpo e puro sim, mas simplesmente Oxigênio, algo que a humanidade sabe produzir há séculos e que o Brasil tem vasta produção, embora totalmente monopolizada nas mãos de um criminoso cartel.
As mortes e o desespero entristeceram corações e mentes no dia mais terrÍvel da pandemia e nas manchetes dos noticiários, brotou a solidariedade em todos os cantos do planeta, a insensibilidade e hostilidade do presidente e seu governo mais uma vez chocou os brasileiros que, de imediato, foram, em todo o Brasil, protestar nas ruas e sacadas contra a violência e o brutal descaso.
A empresa que detém o abastecimento avisou, o Sistema de Monitoramento do Governo do Estado avisou o Ministro, o Sistema de Monitoramento do SUS avisou, mas o mercantilismo, a frieza do governo e da empresa que detêm o monopólio da produção e é cabeça de um cartel, que busca o controle da industrialização, logística e comércio, não apenas dos gases medicinais e hospitalares, mas da cadeia de gases industriais foi criminoso e brutal contra a indefesa população de Manaus.
Notícias foram surgindo, para o espanto de jornalistas e das pessoas que acompanhavam mais de perto essa tragédia, e era incompreensível como o presidente Bolsonaro havia autorizado, no meio da pandemia, o aumento da alíquota da importação do Oxigênio, beneficiando mais uma vez o cartel da White Martins em detrimento do abastecimento do vital Oxigênio para os pacientes, não apenas de Covid, mas de todos os tratamentos que exigem a internação em terapia intensiva, bem como cirurgias e mesmo os tratamentos de urgência de asma, bronquite, acidentes traumáticos, cirurgias de emergência e tantos outros procedimentos de socorro e hospitalares que exigem o uso de doses de Oxigênio.
Mas o noticiário é ainda mais escandaloso e não resiste a uma simples pesquisa sobre a atuação do criminoso cartel da White Martins, que é a recordista no Cade em multas por formação de cartel para cometer crimes de abuso econômico, praticando, não apenas preços abusivos, mas obrigando o SUS a pagar o preço mais caro do Planeta pelo Oxigênio e por outros gases industriais.
Escândalos que uma simples pesquisa, não precisa nem da Abin, que está ocupada protegendo os filhos milicianos do presidente de seus crimes de corrupção e de desvio de recursos públicos, os arautos do negacionismo e da campanha contra a vacinação, nem precisamos da PF, nem do Ministério Publico ou do Procon, para verificar que há crime, superfaturamento, abuso criminoso, prática contumaz e continuada de saqueio contra a economia nacional e o orçamento público por parte do Cartel.
Os crimes e responsáveis vem à tona, crimes de tremenda gravidade, na incapacidade do governo federal de dar resposta à urgência do fornecimento de Oxigênio para evitar as mortes que se aceleravam por asfixia em Manaus e da ausência de estoques do único fornecedor em meio à crise, que em suas plantas industriais espalhadas pelo Brasil teria como atender a demanda. É acintoso o fato do presidente Bolsonaro, poucos meses antes, resolver premiar o cartel da White Martins com o controle da principal empresa de logística de gases industriais, com a venda de 40% das ações da empresa que era controlada pela Petrobras, para aumentar o poder do monopólio e do cartel da White Martins, empresa que pertence à alemã Liden AG.
O Brasil se perguntava o que acontecia? Não produzíamos o Oxigênio hospitalar em volume necessário para essa emergência? Não há mesmo logística, aviões, ou cilindros para levar o Oxigênio para Manaus? O Brasil não tem cilindros e tanques necessários para esse socorro? Por que o governo não tomou as medidas de emergência para intervir e obrigar o fornecedor a abastecer os hospitais de Manaus? Precisamos do fornecimento do Oxigênio de outros países?
Em meio à mais grave crise sanitária do país, os cilindros para armazenamento de gases medicinais, que eram um dos produtos que estavam isentos desde março de 2020, por ser considerado essencial para o combate à pandemia, e com a segunda onda do Covid se alastrando no Brasil e no Mundo, o governo Bolsonaro decidiu taxar e aumentar o imposto dos cilindros de Oxigênio, em recente Resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do governo Bolsonaro, de 24 de dezembro de 2020, o governo revogou a medida que os isentava e a partir de 1° de janeiro de 2021 voltou a ser cobrado o imposto de 14% sobre os cilindros de ferro e de 16% sobre os de alumínio. Outros produtos, como álcool 70% e respiradores, também voltaram a ser cobrados o imposto.
Insensibilidade, incompetência ou crime? Quem paga pelas mortes em Manaus? Como evitar novas mortes por falta de Oxigênio quando os hospitais do RJ estão já com 100% de capacidade ocupada e nos demais estados tudo caminha novamente para o caos no sistema de saúde. E as mortes por asfixia continuam acontecendo nas cidades menores do Amazonas e Pará e ameaçam também ocorrer nas capitais e grandes cidades.
Assim que as mortes por asfixia em Manaus aconteceram e Bolsonaro mais uma vez dizia que nada podia fazer, a White Martins prontamente veio a público para dizer que o aumento de 15 mil para 75 mil metros cúbicos de consumo nos hospitais de Manaus pegou a empresa de surpresa, que havia informado ao governo e que vai mobilizar a sua planta industrial do Ceará, para suprir semanalmente e o mais rapidamente possível com 70 mil metros cúbicos. A maior unidade do Brasil e uma das maiores da América Latina, a planta da White Martins localizada na ZPE Ceará tem capacidade total de produzir mais de duas mil toneladas de gases por dia. Além do oxigênio, o nitrogênio, dedicado à preservação do sangue e tecidos vitais. Por que então não abasteceu antes Manaus? Por que esperar e provocar a morte por asfixia de centenas de pacientes, bebês recém-nascidos e gestantes? Por que não manter estoques suficientes para enfrentar essa crise sabendo que essa empresa é a monopolista do mercado?
Nos relatos, como o de Jesem Orellana, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostrou o quão graves eram as condições na capital do Amazonas. “Acabou o oxigênio e os hospitais viraram câmaras de asfixia”, diz Orellana, que afirma que “os pacientes que conseguirem sobreviver, além de tudo, devem ficar com sequelas cerebrais”. Nos depoimentos de médicos e profissionais que nada podiam fazer sem o Oxigênio e se sentiam impotentes diante das mortes em massa por asfixia que se generalizavam, se agigantava o sentimento de que os dias mais terríveis da pandemia tinham responsáveis e que esses crimes precisam ser parados e responsabilizados. O povo revoltado busca explicações e os responsáveis.
A White Martins, claro, agiu para afastar e abafar as pressões que viriam contra o seu monopólio e prontamente alegou surpresa no desabastecimento. Mas como sabemos é nas regiões de maior custo operacional que o monopólio faz o desabastecimento. Não há compromisso se não houver controle e cobrança do Governo e Bolsonaro nada quer fazer.
Centenas de pessoas morrem por asfixia, o governo federal diz que não pode fazer mais nada porque o STF proibia, mentira atrás de mentira, novamente os governadores se prontificaram a receber, em transporte complexo, levando pacientes graves e equipes de avião para outras capitais do Brasil, o que agrava o alastramento da nova cepa do vírus que é ainda mais contagiante, mas a noticia estarrecedora de que bebes recém-nascidos, prematuros e gestantes também estavam sendo vítimas da falta de Oxigênio mobilizou de imediato governadores que passaram a receber as vítimas da criminosa omissão de Bolsonaro e da cumplicidade do cartel da White Martins.
Bolsonaro não apenas tentou lavar, mais uma vez suas mãos sujas de sangue de brasileiros, mas acoberta que engordou o criminoso cartel com mais fatias das estatais brasileiras que ele e Guedes tratam de desmontar e vender aos pedaços.
Enquanto a pandemia mata e Bolsonaro asfixia o Brasil, a “boiada passa” e o cartel WM se locupleta
Poucas semanas antes desta terrível tragédia em Manaus a imprensa publicava:
Petrobras fecha com White Martins venda de fatia de 40% na GásLocal
Redação – 25 de setembro de 2020 Negócios Sergio Moraes/Reuters
O valor da negociação, sujeita ao cumprimento de condições precedentes, tais como a aprovação pelo Cade, não foi divulgado.
A Petrobras informou hoje (25) que assinou contratos com a White Martins para a venda da participação de 40% da estatal na empresa GNL Gemini Comercialização e Logística de Gás (GásLocal), que atua no setor de distribuição e transporte de gás natural liquefeito por meio de carretas criogênicas.
O acordo envolve o encerramento de pendências societárias, de arbitragem e temas em discussão judicial referentes às operações da GásLocal.
A indignação mudou de patamar, a rejeição a Bolsonaro e seu governo dispara e nas ruas e no Congresso Nacional cresce a luta pelo fim do governo do Presidente Genocida.
Não há crime sem culpado e sem motivo, assim como não deve haver crime sem castigo!
(*) Engenheiro Eletrônico formado pela USP São Carlos.