A porta-voz da chancelaria russa, Maria Zkharova, rechaçou como “absurdas” as declarações do loiro ministro das Relações Exteriores inglês, Boris Johnson, acusando a Rússia no caso do ex-agente duplo Seguei Skripal e sua filha, que estão em coma após contato com uma substância desconhecida, “antes de qualquer investigação” e à revelia das leis e dos procedimentos legais. “Qual é a base de tudo isso? “, ela questionou, sobre a ameaça de “novas sanções” e até mesmo de “estudar o boicote à Copa de 2018”.
Skripal, 66, e a filha Yulia, 33, foram encontrados caídos em um banco na cidade de Salibury, no sul da Inglaterra, depois de um passeio ao shopping na tarde de domingo, com sintomas inicialmente descritos como semelhantes a uma overdose de droga, e levados a um hospital em condição crítica. O policial que os socorreu também foi afetado pela substância, agora dita ser um agente de nervos (tipo VX ou sarin, que afeta o sistema nervoso). Após uma troca de espiões ocorrida em 2010 (que incluiu a charmosa Anna Chapman), o ex-coronel da inteligência militar russa Skripal vivia exilado na Inglaterra há oito anos sem qualquer problema, depois de ter recebido perdão do governo de Moscou, com sua mulher e filhos recebendo permissão para emigrar.
A embaixada russa na Grã Bretanha afirmou em comunicado que isso denota que “um cenário para outra campanha anti-russa já foi ajeitado”. O caso de Salisbury levou a novas alturas a histeria anti-russa em voga nos círculos ocidentais, com os desmoralizados tablóides sensacionalistas ingleses – como o The Sun, de Mr. Murdoch – fazendo coro e comparando ao chamado caso Litvinenko, em que um ex-agente de segurança russo radicado na Inglaterra, e de conhecidas ligações com o capo Berezovsky, morreu de intoxicação radioativa por polônio.
Levando-se em conta que haverá eleições presidenciais dentro de 15 dias na Rússia e uma Copa do Mundo no meio do ano, e quando é notório o embuste do Russiagate e do dossiê do ‘doping estatal’, que interesse teria a Rússia com uma figura insignificante como esta e “aposentado”, arriscando-se a fornecer o estopim para mais provocações contra a Rússia? Os jornais ingleses alegam que seria para “meter medo” nos potenciais traidores. Mas, por que fazer isso chamando a atenção de todos, e criando gratuitamente um escândalo, no lugar errado, na hora errada? Ainda com uso de uma substância cujo manuseio, como apresentado nas fotos dos agentes em ação no caso, aquelas roupas ‘de astronauta’ da guerra química e bacteriológica, não poderia ter um resultado mais espalhafatoso. Por que não um reles tiro?
O imbróglio de espiões e ex-espiões, esquemas mafiosos de oligarcas russos em Londongrad (como é chamada a capital inglesa jocosamente entre essa gente), petroterroristas chechenos, especuladores e vigaristas vários, sempre é um terreno pantanoso e arriscado. Assim, não fica claro a razão da queima de arquivo, se foi para fazer um reset de algo lá que ficou lá de trás, ou simplesmente os manipuladores não avisaram o seu instrumento de que havia sido escolhido para ser morto, para que a culpa fosse jogada sobre outrem.
A mídia inglesa também não poupou linhas para asseverar que, dada a natureza do ‘agente nervoso’, teria que “haver um Estado por trás” e uma “instalação” adequada ao manuseio de tão letal substância. No site Sputniknews, o articulista Finian Cunnigham, revela qual pode ser a “fonte conveniente” de que os perpetradores necessitavam. “O laboratório de armas químicas secretas do Reino Unido em Porton Down fica a apenas 10 quilômetros de distância do local em Salisbury, onde Skripal e sua filha foram aparentemente atacadas no domingo. Porton Down é o laboratório onde o VX foi originalmente sintetizado na década de 1950. Ele continua sendo uma das armas químicas mais mortíferas já feitas. E é tão britânico quanto o chá da tarde”. Como ele conclui, “russofobia é o nome do jogo”.
A.P.