Candidato à presidência da Câmara disse que não fará “do pedido de impedimento uma bandeira” da sua candidatura. “Mas a minha obrigação é analisar cada um dos pedidos à luz da Constituição”
O deputado Baleia Rossi (MDB-SP), candidato à presidência da Câmara, participou, na segunda-feira (25), do programa Roda Viva, da TV Cultura, e defendeu a democracia, a Constituição e denunciou negligência do governo Bolsonaro em relação à pandemia do coronavírus.
Seu adversário e candidato do governo Bolsonaro, Arthur Lira (PP-AL), também foi convidado e chegou a confirmar sua participação no programa, mas voltou atrás na última hora. A apresentadora do programa, Vera Magalhães, lamentou que o deputado tenha se ausentado do debate.
Baleia Rossi também lamentou, afirmando que seria uma “grande oportunidade de debate em alto nível para mostrar o que cada candidatura significa”.
Ao saber que Lira não iria ao programa, Baleia Rossi comentou no Twiter: “Estarei no Roda Viva. Meu adversário recusou o convite. Uma pena. Fugir do debate sobre os rumos do país é desrespeito aos colegas de Câmara e à sociedade”. “Dá tempo de mudar de ideia. Disposição para o diálogo é pré-requisito para ser presidente da Casa”, escreveu o deputado
Sua candidatura tem defendido que a “Câmara deve se debruçar sobre a questão da superação da pandemia. Isso é urgente, é o que a população espera. Ao mesmo tempo, retomar uma agenda de desenvolvimento econômico que possa levar emprego e renda”.
O deputado, que defende a independência do Poder Legislativo em relação ao governo Bolsonaro, citou projetos de auxílio à população e de combate à pandemia que foram tocados pela Câmara sem apoio do governo Bolsonaro.
Foi o caso do auxílio emergencial, valor sobre o qual Bolsonaro chegou a defender de R$ 200, da ajuda financeira aos estados e municípios, da renovação do Fundo Nacional de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e da liberação de recursos para o desenvolvimento de vacinas.
Para Rossi, a candidatura de Arthur Lira não apresenta um projeto de país, mas apenas um projeto de poder de Jair Bolsonaro. O deputado criticou a falta de clareza nas propostas e a liberação de emendas parlamentares para os deputados aliados.
“Estamos vendo o governo disponibilizando recursos extraorçamentários, cargos para o meu adversário, mas sem um projeto de país. Estamos vendo, hoje, um projeto de poder, um projeto de eleger o presidente da Câmara para que ela [a Câmara dos Deputados] esteja alinhada ao Palácio do Planalto”, afirmou.
Por outro lado, a candidatura de Baleia Rossi é apoiada por 12 partidos, de esquerda, centro e direita, que se uniram em defesa da democracia e da Constituição.
“É a primeira vez desde a Constituição que nós conseguimos unir partidos que têm diferenças ideológicas, que pensam de forma diferente o papel do Estado e da economia. Eles se uniram para defender os alicerces, os pilares que representam a nossa candidatura: a defesa da democracia, a defesa das instituições, do Estado Democrático de Direito, a defesa da Ciência”, declarou Rossi.
“Estamos vendo o governo disponibilizando recursos extraorçamentários, cargos para o meu adversário, mas sem um projeto de país. Estamos vendo, hoje, um projeto de poder, um projeto de eleger o presidente da Câmara para que ela [a Câmara dos Deputados] esteja alinhada ao Palácio do Planalto”
A autonomia da Câmara, disse o deputado, “é importante, porque a autonomia permite que a Câmara discuta os grandes temas”.
Baleia Rossi citou o “orçamento de guerra, que permitiu o auxílio emergencial, que o governo mandou de R$ 200”, mas que a Câmara conseguiu que chegasse a R$ 600, e “permitiu que houvesse a ajuda aos Estados e municípios”, como conquistas da Câmara e do Senado, com pouca ou nenhuma participação do governo Bolsonaro.
O candidato à presidência da Câmara disse que em sua gestão “não vai ter tema proibido” e que irá discutir formas de continuar com o “auxílio emergencial aos desempregados e trabalhadores informais e a prisão após condenação em segunda instância”. “Todos os projetos que visam o combate à corrupção precisam de apoio. O que nós não podemos é criminalizar a política”, disse o parlamentar.
Baleia Rossi também fez uma defesa do Sistema Único de Saúde. “Se o país ainda está dando um pouco de alento à sua população, é graças ao SUS”.
VACINA
Na opinião de Baleia Rossi, “o governo erra muito no enfrentamento à pandemia em momentos cruciais, como foi o caso da vacina, questionando a eficácia da vacina e desrespeitando a comunidade científica, desorientando e desinformando a população. É algo gravíssimo”.
“Nós sabemos que não há possibilidade de voltar à vida normal, a população voltar a trabalhar, as crianças voltarem a ir para a escola, se não for através de uma vacinação em massa”, defendeu.
“Nós temos aqui pessoas que negam a vacina, que são contra a vacina”.
“A autonomia permite que a Câmara discuta os grandes temas”
“Enquanto isso nós vemos em outros países o presidente tomando a vacina, reunindo ex-presidentes para que as pessoas que têm credibilidade possam passar essa confiança para a população: ‘olha, a vacina é segura, é para salvar vidas’”, comentou.
Baleia Rossi também criticou a gestão do governo Bolsonaro em outras questões relativas ao combate à pandemia. Para ele, “o governo [Bolsonaro] muitas vezes errou na condução, na desinformação, negando a importância da vacina, não fazendo o planejamento e o enfrentamento à pandemia”.
“Olha o que aconteceu no Amazonas, uma situação dramática, crítica. Faltou gestão”, exemplificou.
“Eu tenho muitas críticas à condução do enfrentamento da pandemia por parte do Ministério da Saúde principalmente porque não teve um planejamento para acolher as dificuldades da população, para prever aquilo que, muitas vezes, a imprensa já anunciava”. “Absurdos como o que aconteceu no Amazonas”, destacou, “e outros estados, infelizmente, também estão sofrendo”.
“Faltou sensibilidade por parte do Ministério e dos agentes do governo”, continuou.
“Tanto é que o Supremo agora autorizou um inquérito para essa investigação. São erros graves, que podem se configurar como crimes. Acredito que são questões gravíssimas que precisam ser analisadas e investigadas”.
IMPEDIMENTO E FRENTE AMPLA
Outro tema muito discutido durante o programa foi dos pedidos de impeachment já protocolados junto à presidência da Câmara. Baleia Rossi disse que não quer “fazer do pedido de impedimento uma bandeira da minha candidatura. Mas a minha obrigação é analisar cada um dos pedidos à luz da Constituição”.
“Esse é o compromisso que eu fiz com todos os partidos que estão na frente ampla que nós estamos representando”.
O deputado enfatizou que é apoiado por uma “frente ampla”, que tem discordâncias internas em relação à economia e outros temas, mas que se uniu para defender a democracia.
“Nós temos que garantir o que nós nos propusemos, que é defender a democracia e a independência da Câmara”.
Para o deputado, a união das diferentes forças políticas em defesa da democracia fez com que Jair Bolsonaro recuasse em suas ameaças às instituições.
“Quando grupos extremistas quiseram o fechamento do Congresso, nós nos posicionamos em defesa da democracia. Como presidente nacional do MDB, eu tive um posicionamento muito claro”, enfatizou.
“Quando aquele grupo foi para a frente do STF para querer agredir os ministros e atacar as nossas instituições, nós tivemos um posicionamento muito claro em defesa das instituições”, sentenciou.
PEDRO BIANCO