O fariseu, que atacava o gigante asiático e sua vacina, agora, quando a casa caiu, pede ajuda ao país socialista
É verdade. Quem te viu e quem te vê. Pressionado pelo agravamento da pandemia, pela falta de oxigênio em Manaus e pelo atraso na vacinação, Bolsonaro mudou totalmente o discurso em relação à China. Agora ele é “amigão” do Xi Jinping. Até foto ao lado do presidente da China ele divulgou em suas redes sociais.
Para montar o circo, não faltou nem mesmo a cena de parasitagem ao time mais popular do país, o Flamengo. As torcidas, diga-se de passagem, não gostaram nem um pouco disso.
A situação ficou tão difícil que não dá mais para o chefe do executivo ficar atacando o gigante asiático ou avalizando o idiota do seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro, e o chanceler, Ernesto Araújo, conhecido nos meios diplomáticos por “Beato Salu”, personagem maluco de Dias Gomes, que não pararam um minuto de ofender os chineses e o seu governo.
Ele deu mais esse cavalo-de-pau no discurso também, porque tinha apostado todas as suas fichas na vacina da AstraZeneca, uma empresa do Reino Unido. Ele, inclusive, já pagou R$ 1 bilhão adiantado, só que acabou percebendo que mesmo a AstraZenece dependia da China para fornecer as vacinas e insumos que ela vendeu ao Brasil.
Esses insumos e vacinas da AstraZeneca não chegaram até agora, no volume acertado previamente. A Fiocruz (Fundação Osvaldo Cruz), parceira da farmacêutica, afirmou que ainda não tem data para a saída de seu lote de IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo), que será suficiente para a produção de 7,4 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19.
Bolsonaro, então, teve que mudar o script e agradeceu a colaboração da China pelo fornecimento da CoronaVac, a vacina do Butantan, atualmente a principal vacina do Programa Nacional de Imunização contra a Covid-19.
“A Embaixada da China nos informou, pela manhã, que a exportação dos 5,4 mil litros de insumos para a vacina Coronavac foi aprovada e já estão em área aeroportuária para pronto envio ao Brasil, chegando nos próximos dias”, escreveu.
Ele agora está todo solícito com a mesma vacina que, há algumas semanas, ele mesmo dizia que não prestava e até causaria doenças graves. Apesar das tentativas do Planalto de sabotar, as autoridades do país socialista asiático, com a sua secular boa vontade, desconheceram todo o ódio expelido pelo bolsonarismo e autorizaram a exportação de 5.400 litros de insumos do imunizante da chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan.
A encenação montada por Bolsonaro foi tão ridícula que até o governador João Doria (PSDB) tirou um sarro do presidente, dizendo que ele estava agindo como um “engenheiro de obras prontas”, afinal, o governador de São Paulo já vem negociando com os chineses desde maio do ano passado.
“Todo o processo de negociação com o governo chinês para a liberação de 5,4 mil litros de insumo para a vacina do Butantan foi realizado pelo Instituto [Butantan] e pelo governo de São Paulo, que vem negociando com os chineses a importação de vacinas e insumos desde maio do ano passado, disse o governador.” Doria destacou que, apesar do oportunismo de Bolsonaro, é melhor ele fazer isso do que continuar atrapalhando como vinha fazendo.
Até outras ações, como por exemplo os planos que Bolsonaro encarregou ao “Beato Salu” e a Eduardo Bolsonaro, dois trumpistas, de expulsar a empresa chinesa de telecomunicações Huawei do Brasil, tiveram que ser abortados. No desespero e no bate-cabeça, o Planalto recorreu ao ministro das Comunicações, Fábio Faria – que já encaminhava uma licitação sem a participação da empresa chinesa, para entrar nas negociações com os chineses.
O governo Bolsonaro, que se incluiu na rabeira da guerra que os EUA tenta impor à China por ter perdido a corrida tecnológica, não percebeu, ou não quis perceber, que as autoridades chinesas não atuam de forma sectária ou revanchista com países com quem mantém relações comerciais.
Por isso, o Planalto mobilizou seus ministros, na tentativa de apressar a vinda dos insumos. Estes insumos estavam sendo despachados num clima de intensa demanda em todo o mundo. Esse era, e está sendo, o motivo da demora. Não era, e nunca foi, uma atitude revanchista, tão comum na cabeça e no mundinho miúdo do bolsonarismo.
S.C.