Índice influenciado pela variação de preços de commodities é questionado por inquilinos e prestadores de serviços: na pandemia, famílias perderam emprego, renda e capacidade de pagar aluguel
A inflação do aluguel, medida pelo Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) subiu 2,58% em janeiro após ter acumulado aumento recorde de 23,14% em 2020. A alta percentual é superior ao apurado em dezembro, quando havia apresentado taxa de 0,96%. Com o resultado de janeiro, o índice divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) passou a acumular alta de 25,71% em 12 meses.
O IGP-M é composto pelo Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) – indicadores influenciados pelas oscilações do dólar e cotações internacionais de produtos primários, como commodities, combustíveis e metais.
“O IGP-M ainda é amplamente utilizado como indexador dos aluguéis residenciais. Só que, no momento, principalmente por conta da pandemia, o mercado imobiliário foi bem afetado. Muitas famílias perderam emprego, renda, sua capacidade de pagar aluguel”, comenta o economista André Braz, Coordenador dos Índices de Preços.
“Como o IGP-M não indexa salário, ele fica um pouco distante da realidade dos inquilinos”, completa.
Além dos salários não serem corrigidos com base no mesmo índice, no ano passado o desemprego bateu recorde no país. Em meio à essa crise, a explosão da inflação do aluguel levantou grande mobilização para que os reajustes, sem nenhuma regulação, não sejam mais indexados pelo IGP-M. De acordo com a Secovi-SP, 90% dos contratos de locação são regidos pelo índice.
Associações de lojistas, com o faturamento reduzido em cerca de 30%, também chegaram a judicializar as negociações para barrar reajustes e fazer com que os contratos passassem a ser regidos pelo IPC (Índice de Preços ao Consumidor) – cuja variação foi bem menor do que o composto pelo IGP-M.
“Qualquer argumento no sentido de não absorver esse aumento do IGP-M é válido. As vendas ainda não voltaram ao patamar de 2019. Além disso, os lojistas não têm conseguido repor os estoques em razão da falta de insumos da indústria”, diz o diretor institucional da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping, Luis Augusto Ildefonso.