O professor de economia Nilson Araújo de Souza afirmou nesta segunda-feira (12), em entrevista à Radio Independência, que a economia do país continua parada, apesar das encenações otimistas do governo Temer. O economista fez um balanço do ano de 2017, após a divulgação do Produto Interno Bruto. O PIB teve um crescimento pífio de 1,0% no ano passado e foi considerado um “crescimento forte” pelo ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
Nilson disse que isso não corresponde à verdade e que não há o que comemorar, porque o país “não saiu do fundo do poço”. “A comemoração do ministro Meirelles, que é o ministro da Friboi, da JBS, de que há um ‘crescimento forte’ só pode ser cinismo”, disse ele. “Na verdade, o que ocorreu mesmo é que a economia segue patinando no fundo do poço, segue estacionada no fundo do poço. Deu uma pífia melhorada, um crescimento limitado de 1%, um por cento significa crescer quase nada. É estar estagnada”, observou.
INDÚSTRIA
“E o mais grave é o que aconteceu com a indústria. A produção industrial, que é o elemento mais dinâmico da economia capitalista desenvolvida, e mesmo numa economia em desenvolvimento como é o caso da brasileira, foi nula”, destacou o economista. “No setor industrial houve crescimento ZERO. Não cresceu nada. O setor ficou estagnado. Por isso a crise é grave, porque este é um setor chave em qualquer economia do mundo”, acrescentou Nilson Araújo.
“E mais”, prosseguiu o especialista, “o que puxou esse crescimento para 1%, que eu estou chamando ‘patinar no fundo do poço’, foi a agropecuária”. “Se não fosse isso, o desastre seria muito maior”, destacou. “O crescimento da produção agropecuária foi de 13% com basicamente dois produtos, a soja e o milho. Foram o milho e a soja que garantiram esse resultado. O PIB só não foi um desastre total por conta desses dois produtos”, disse Nilson, apontando que “isso revela uma economia fragilizada e dependente”.
Nilson chamou a atenção também para fato de que, mesmo esse resultado na agricultura, não foi fruto de uma política dirigida neste sentido. “Não foi nenhuma política econômica favorável à agricultura por parte do governo que propiciou ter melhorado a produção. A produção aumentou porque São Pedro ajudou. Teve bastante chuva no ano passado e isso levou a agricultura a aumentar. Houve, portanto, um crescimento episódico, devido à chuva”, explicou o professor.
“Além disso”, prosseguiu Nilson, “tem outro dado importante. Ao longo do ano, o crescimento foi desacelerando. Do primeiro trimestre, quando se colheu a maior parte da safra agrícola, o PIB cresceu 1,3%. No segundo trimestre, que ainda tinha alguma sobra de safra agrícola, cresceu 0,7%. No terceiro e no quarto não cresceu nada [0,1%]. Crescimento ZERO. Está havendo, portanto, uma trajetória negativa. Não é trajetória de melhora”.
O professor citou o artigo de Carlos Lopes, publicado em nossa última edição, que diz que o Brasil, antes da revolução de 30 era conhecido como exportador de produtos de sobremesa, que era o açúcar e depois o café, e, agora, com o milho e a soja alavancando esse PIB tão pífio – mas de qualquer maneira alavancou -, se passou a exportar para porcos.
“Não temos nada contra os porcos, até gosto de comer carne de porco, mas sair de sobremesa para virar ração para porco é um retrocesso violento”, frisou o economista.
Ele explicou que o peso da agricultura no conjunto da economia brasileira é muito pequeno e não pode ser o setor principal da economia, como defendem alguns setores retrógrados do país. “O peso da agropecuária no conjunto do Produto Interno Bruto está em torno de 6%”, afirmou Nilson. “Mesmo com grande crescimento, ela só pode alavancar a economia em torno de meio por cento ou um por cento”, prosseguiu. “Para a economia ter um crescimento auto-sustentado, num patamar mais elevado, que é o patamar histórico brasileiro de 7%, não dá para pensar que o setor que representa 6% da economia possa ter grande participação no conjunto da economia”, alertou o economista.
Nilson denunciou que “o peso da indústria no conjunto da produção vem caindo e está na faixa de 11%”. “A indústria de transformação, tirando a parte da construção civil e da extração mineral, já teve um participação no conjunto, em torno de 30%. Um pouco abaixo de 30%, mas em torno de 30%. Atualmente está em 11% e vem sistematicamente caindo”, observou.
“Considerando o conjunto da indústria, (construção civil, extrativa mineral e de transformação), esse setor já representou, na década de 80, em torno de 40% do PIB. Não há como ter um crescimento sustentado com esse nível de participação da indústria na economia”, alertou.
“No ano passado a indústria não cresceu nada e esse ano, o primeiro dado que é divulgado, que é o dado de janeiro, mostra que a tendência segue negativa. Em janeiro, a produção industrial caiu -2,4%. Eles estão dizendo que esse resultado é bom, que a economia vai crescer bastante esse ano, etc. Pode até crescer alguma coisa, mas nada que indique um crescimento auto-sustentado. Esse dado da produção industrial de janeiro já revela isso”, afirmou Nilson Araújo.
SÉRGIO CRUZ