Na prisão, Daniel Silveira continuou ameaçando os ministros do STF. Líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR) prevê que a Casa vai manter a prisão do deputado golpista por uns 350 votos. A atitude de Silveira não foi bem vista pelos seus pares
A Câmara dos Deputados decide, nesta sexta-feira (19), o futuro do abilolado deputado Daniel Silveira (PSL-RJ).
A sessão virtual que vai examinar (e ratificar ou não) a prisão, em flagrante delito, determinada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), está prevista para começar às 17 horas.
O irrelevante e obscuro deputado Daniel Silveira principiou uma crise institucional entre a Câmara dos Deputados e o STF (Supremo Tribunal Federal) ao divulgar, na última terça-feira (16), vídeo em suas redes sociais em que agrediu violentamente a instituição e seus ministros. Em razão disso, o ministro do STF Alexandre de Moraes decretou sua prisão, em flagrante delito. Decisão que foi cumprida na mesma terça-feira, pela PF (Polícia Federal).
Na quarta (17), o plenário do STF se reuniu e ratificou, por 11 a zero, a decisão monocrática de Moraes. Na quinta (18), a audiência de custódia manteve a prisão do deputado. Por essa cronologia observa-se que a situação do deputado só se deteriorou. A decisão colegiada do Supremo e a confirmação da prisão na audiência de custódia deixaram a Câmara em “saia justa” e, segundo muitos líderes na Casa, Daniel Silveira não vale este desgaste.
Mesmo diante desse quadro, em que não houve alívio para o deputado, ele continuou as ameaças ao STF. É contumaz! Mesmo preso, o congressista continuou a provocar o STF e seus ministros.
Na noite de quinta-feira, ele disse que vai “mostrar para o Brasil quem é o STF [Supremo Tribunal Federal]”. Depois disso — ele que estava com dois celulares na sala onde estava preso —, os dispositivos foram tirados de seu poder.
A RESPONSABILIDADE AGORA ESTÁ COM A CÂMARA
O líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP-PR), disse ao blog da jornalista Andréia Sadi, nesta sexta, que prevê 350 votos pela manutenção da prisão do deputado no plenário. Ele disse ainda que o Planalto não interferiu, não se mexeu pelo deputado, a não ser aliados como o deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO) — mesmo assim não há ambiente na Casa, na sua avaliação, para salvar Silveira no plenário.
“Se ele continuar esculachando todo mundo, causando esse constrangimento a todos, a caneta vai ser pesada contra ele no Conselho de Ética. Se quiser seguir fazendo espetáculo para o seu eleitor, vai ficar difícil”, acrescentou Barros.
O RECADO DE FUX À CÂMARA
O presidente do Supremo, Luiz Fux, concedeu longa entrevista à Folha de S. Paulo, nesta quinta-feira, e sobre o deputado Daniel Silveira, disse que a sociedade não espera “uma carta de alforria” da Câmara a favor do parlamentar bolsonarista. O recado está dado.
Sobre a votação unanime (11 a zero) dos ministros do Supremo que manteve a prisão do congressista, Fux disse “que houve consenso de que realmente aquela fala [do deputado] era extremamente agressiva contra a instituição, os valores democráticos e que merecia uma atuação pronta do STF.”
Ao ser indagado sobre a posição da Câmara em relação à decisão do Supremo, Fux disse que está dentro das competências constitucionais da Casa “derrubar” a decisão da Corte. Entretanto, “a sociedade é leiga, a sociedade não conhece essas minúcias constitucionais. Eu acho que a sociedade tem uma capacidade de julgar imediatamente quando os atos são assim tão graves. Então eu acho que a sociedade não está preparada para receber uma carta de alforria em favor desse paciente”, analisou.
DEPUTADO NEOFASCISTA-BOLSONARISTA
O deputado que criou toda essa confusão é um neofascista convicto e militante. Foi eleito na esteira da profunda crise política que dragou o País, iniciada em junho de 2013, e desde então só cresceu, até a eleição de Bolsonaro em 2018. Daniel Silveira é uma dessas aberrações que surgiram com o desmantelamento dos partidos e da política no Brasil.
É identificado na Câmara como “bolsonarista raiz” e tem trajetória social e profissional com graves desvios. Assim, o mandato parlamentar ao invés de dar-lhe mais responsabilidade deu-lhe (imaginou) mais poderes para afrontar as instituições e o Estado Democrático de Direito. É a criatura imitando o criador. Bolsonaro passou toda sua vida parlamentar (28 anos, 7 mandatos) fazendo isso, em menor ou maior nível de agressividade.
MÁ CONDUTA SOCIAL
A Polícia Militar do Rio de Janeiro reprovou, em 2010, a entrada de Daniel Silveira na corporação durante a pesquisa social feita pelo então candidato a soldado. De acordo com o documento, ele descumpriu requisitos como ter boa conduta social e não haver praticado atos considerados incompatíveis com a honra do policial militar.
Ele era investigado pela Polícia Civil pela suspeita de furto do carimbo de uma médica para fraudar atestados quando era cobrador de uma empresa de ônibus em Petrópolis, na Região Serrana do Rio.
Passou em concurso da PMRJ (Polícia Militar do Rio de Janeiro). Para entrar na corporação, Silveira obteve decisão judicial, em 2013, que garantiu seu ingresso na força policial. Em 2014, o caso foi arquivado pela Justiça.
MARCOS VERLAINE (colaborador)