A economia do país retraiu 4% em 2020, segundo o Monitor do PIB da Fundação Getúlio Vargas. O resultado consolida retrações disseminadas em diversas atividades econômicas no ano da pandemia, não poupando nem os setores produtivos, nem a demanda, avalia a FGV.
O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve como indicador para a atividade econômica do país. O resultado oficial será divulgado no início de março pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Se os cálculos da FGV se confirmarem, o tombo será o maior desde o início da série histórica do IBGE, iniciada em 1996 (antes disso, era a própria fundação que fazia o calculo). Considerando toda a série, iniciada em 1948, a queda do ano passado será a maior dos últimos 31 anos.
Segundo a nota da FGV, o resultado do PIB de 2020 aponta que a economia “retornou ao patamar de 2016. A preços constantes de 2020, o PIB de 2020, embora seja um pouco maior que o de 2016, ainda é inferior aos do período 2017 a 2019”.
“Os desafios para 2021 mostram-se grandes a partir deste cenário, tendo em vista que devido ao crescimento lento de 2017-2019 a economia não havia sido capaz de recuperar as perdas da recessão de 2014-2016. Com o choque adverso enfrentado em 2020, que ainda não foi totalmente eliminado, os resultados de 2014, pico da série histórica, parecem cada vez mais distantes de serem alcançados”, afirma Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB-FGV.
Pela ótica da produção, dos três grandes setores de atividade (agropecuária, indústria e serviços), apenas a agropecuária cresceu no ano (2,0%).
Enquanto pela ótica da demanda, todos os componentes retraíram, com destaque para o consumo das famílias com retração de 5,2% no ano.
Para a FGV, o crescimento de 3,4% no 4º trimestre e de 1,0% em dezembro, nas comparações contra os períodos imediatamente anteriores, não foram suficientes para compensar a perda expressiva que o PIB sofreu, principalmente, no 2º trimestre, quando o PIB tombou -9,7%.
Consumo das famílias
O consumo das famílias caiu 5,2% em 2020 na comparação com 2019, resultado atribuído ao alto índice de desemprego – e que, teria sido mais alto, se não fosse o auxílio emergencial, que garantiu um fôlego para o comércio, especialmente de alimentos. De acordo com a FGV, o consumo de serviços foi o mais afetado, principalmente pelo recuo do consumo de serviços de alojamento, saúde privada e serviços gerais prestados às famílias.
Taxa de investimentos
Embora o investimento de recursos públicos tenham sido a saída encontrada pela maior parte dos países para enfrentamento da crise da Covid-19, o Brasil seguiu com uma das taxas de investimentos mais baixas do mundo – movimento já observado nos últimos anos. De acordo com o Monitor, a taxa foi de 16,1% em 2020, abaixo da taxa da recessão de 2015 que ficou em 17,3%, exatamente o mesmo patamar baixo do terceiro trimestre de 2019 e de 2018 – embora o momento exija muito mais investimentos.
Formação Bruta de Capital Fixo
A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que registra a ampliação da capacidade produtiva futura de uma economia por meio de investimentos, como máquinas, equipamentos e construção civil, recuou 2,9% em 2020. O segmento de máquinas e equipamentos que mais influenciou neste expressivo recuo do componente foi o de automóveis, camionetas e utilitários.
Exportações e Importações
Tanto as exportações quanto as importações recuaram em 2020. Os envios de produtos, abatidos pela queda em bens intermediários, serviços e bens de capital (este último que recuou 33,5%), caiu 1,9% no ano na comparação com 2019. Os segmentos de produtos agropecuários e produtos da extrativa mineral tiveram resultados positivos, segundo os cálculos da FGV.
As importações caíram 10,3% em 2020. “À exceção da importação de produtos agropecuários, que cresceu 2,3% no período, todos os demais segmentos recuaram em 2020. Conforme apontado, a importação de serviços foi a principal responsável pela queda na importação com recuo de 28,4%, no ano”, aponta a entidade.