Em fevereiro, o IGP-M avançou 2,53%, pressionado pela gasolina que registrou aumento de 17,43%
O Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) registrou variação de 2,53% em fevereiro. Com esse resultado, o IGP-M, que é usado no reajuste dos contratos de aluguel, já acumula em 12 meses alta de 28,94%, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (25), pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
A disparada do IGP-M, em meio à pandemia da Covid-19, complicou ainda mais a vida dos brasileiros que perderam a capacidade de pagar o aluguel frente à recessão econômica, que enfrenta a carestia dos alimentos e o elevadíssimo desemprego.
O IGP-M, conhecido como “inflação dos aluguéis”, é bem diferente do índice oficial da inflação, o IPCA, que também disparou no ano passado por pressão dos preços dos alimentos e dos combustíveis, acumulando alta de 4,57% em 12 meses, mas é referência para os reajustes salariais e se baseia em uma cesta de produtos básicos consumidos pelas famílias. Já o IGP-M tem 60% de sua composição formada pelas variações de custos de produtos agrícolas.
Em 2021, o índice geral acumula taxa de inflação de 5,17%. De acordo com a FGV, em fevereiro o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), que é o indicador com o maior peso (60%) no IGP-M, continua elevado, variação de 3,28%, a exemplo do que ocorreu no mês de janeiro, alta de 3,38%. O Índice de Preços ao Consumidor (IPC), que representa 30% na composição do IGP-M subiu 0,35% em fevereiro, ante 0,41% em janeiro. Os outros 10% no IGP-M são influenciados pelo Índice Nacional de Custo da Construção (INCC), que apresentou alta na passagem de janeiro para fevereiro, de 0,93% para 1,07%, na ordem.
No caso do resultado do IPA, o coordenador dos índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV, André Braz, afirmou que “o resultado mostrou que a pressão exercida pelas matérias-primas brutas se espalhou pelas demais classes do IPA favorecendo o acréscimo das taxas dos grupos bens intermediários (de 2,54% para 4,67%), influenciada por materiais e componentes para a manufatura (de 1,98% para 4,16%), e bens finais (de 1,09% para 1,25%), este influenciado pelo aumento da gasolina, cujo preço subiu 17,43%, ante 6,63% no mês anterior”, declarou.
A trajetória de alta da inflação do aluguel teve início em julho do ano passado e Bolsonaro não propôs até agora nenhuma solução ao problema. Os indicadores que compõem o IGP-M sofrem influências da variação do dólar e da política de paridade dos preços brasileiros com os internacionais (produtos primários como commodities, combustíveis, metais, etc.), política sobre a qual Bolsonaro afirmou que não vai intervir, como no caso do preço dos combustíveis nas refinarias da Petrobrás reajustados de acordo com o mercado internacional e o dólar.
Isso significa que os brasileiros que dependem do aluguel estarão reféns da especulação de grupos monopolistas estrangeiros, que, durante a pandemia de Covid-19, agem para elevar ainda mais os seus ganhos. Cabe destacar, ainda, que atrelar os preços internos aos internacionais significa rebaixar ainda mais a renda do povo, pois no Brasil os trabalhadores não ganham em dólar e há alguns anos que não auferem ganhos reais em seus salários.
Por não corresponder com a realidade dos brasileiros, representantes de lojistas, além de inquilinos, já estão questionando na Justiça o uso do IGP-M como índice de correção dos contratos de aluguel. “Com muitos a negociação está difícil e vai ter judicialização”, disse o presidente da Associação Brasileira dos Lojistas Satélites (Ablos), Tito Bessa Junior, no mês passado, ao declarar que os shoppings estão endurecendo as cobranças em um momento em que as receitas estão cerca de 30% abaixo do que era visto antes do início da pandemia.