Queda está associada ao encerramento dos programas emergenciais de crédito adotados para amortecer a crise econômica da Covid-19 em 2020, avalia IEDI
Dados recentes do Banco Central (BC) mostram que a concessão de crédito a famílias e empresas despencou em 2021. Segundo o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI) a queda brusca está associada à suspensão dos programas emergenciais pelo governo federal.
“Este comportamento pode estar associado ao encerramento dos programas emergenciais de crédito adotados no ano passado para amortecer a crise econômica da Covid-19. As concessões livres reais declinaram -12,7%, o pior resultado desde mai/20 e a nona queda de uma sequência negativa iniciada em abr/20”, aponta estudo do IEDI.
O fim dos programas emergenciais – incluindo a renda emergencial para as famílias – aconteceu na virada do ano a despeito do recrudescimento da pandemia e da situação em que empresas se encontram devido à queda demanda por conta do desemprego e as restrições de circulação necessárias para conter a Covid-19.
Assim, as concessões totais caíram 10,4% em janeiro de 2021 frente ao período anterior (quando nem havia pandemia ainda), já descontada a inflação.
A flexibilização do isolamento social e a reabertura de comércios, serviços e fábricas poderiam justificar o afrouxamento das medidas. Mas, para além do agravamento da situação econômica e da pandemia, o IEDI chama atenção para o volume da perda de concessão de crédito: dois dígitos tanto para empresas quanto para o crédito para as famílias.
“No caso das empresas, o agravante é que a perda de dinamismo vem do final de 2020 e atinge tanto as operações livres como as operações direcionadas”, alerta o instituto.
Em janeiro deste ano, o ritmo de queda do crédito livre novo acelerou para 11,5%. Para as famílias, a deterioração da virada do ano também foi intensa, com as concessões reais passando de alta de 0,6% no quarto trimestre para retração de 13,6% em janeiro.
O IEDI apurou que o único crédito que “apresentou maior resiliência” no início desse ano são as chamadas concessões de crédito direcionadas, em especial, devido ao financiamento imobiliário.
Outro fator que dificulta o acesso ao crédito é a alta dos juros, diz o instituto. “Outros dados que ilustram a piora no crédito corporativo são: a taxa média de juros de jan/21 (13,4% a.a.) atingiu o maior patamar nominal desde mar/20, principalmente devido às operações com recursos livres, cuja taxa média de juros saltou de 11,7% a.a. em dez/20 para 15,2% a.a. em jan/21”, diz o estudo.
As instituições financeiras públicas emprestaram R$ 1,809 trilhão, representando 45% do volume de crédito. As instituições financeiras privadas concederam R$ 1,481 trilhão, representando 36,8%, e as instituições financeiras estrangeiras contribuíram com R$ 729,7 bilhões, representando por sua vez 18,2% do volume total de crédito no sistema financeiro.
Faturamento em queda
Com o encerramento do auxílio emergencial em 2021, o varejo já projeta uma perda de 12% de seu faturamento para este ano. A crise é pior para micro e pequenas empresas, que permanecem sem capital e sem acesso ao crédito.
“Eu não descarto que 2021 seja pior que 2020, mesmo com algum auxílio emergencial, que já vai ser menor. Vamos lembrar que entramos em 2020 com vendas em ascensão. Já em 2021, entramos no ano com uma situação de empresas já combalidas”, avalia Altamiro Carvalho, assessor econômico da Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo)”.
Para os demais setores, ainda que o auxílio emergencial tenha grande impacto na demanda por conta do desemprego, a situação se agrava com o baque nas concessões de crédito e a dificuldade de acessar os programas que permanecem.
“Existe uma lacuna de crédito para as micro, pequenas e médias empresas que não foi coberta pelas linhas de financiamento abertas pelo governo, como o Pronampe. Empresas maiores têm maior acesso ao crédito, um capital que funciona como colchão na crise”, diz Lauro Gonzalez, coordenador do Centro de estudos em microfinanças e inclusão financeira da FGV.
Um estudo liderado pelo economista mostra que a necessidade atual de crédito apenas para empresas de pequeno porte da indústria, serviços e comércio seria de R$ 202 bilhões.
“Como as linhas abertas pelo governo para esse segmento, como o Pronampe, não chegaram a R$ 50 bilhões, então ainda temos uma grande lacuna”, aponta.