Ao ouvir a pergunta do jornalista, Bolsonaro encerrou abruptamente a entrevista coletiva em Rio Branco, no Acre, na quarta-feira (24). Mais um ato de perseguição à imprensa movida pelo bolsonarismo
O jornalista que fez a pergunta a Bolsonaro sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de anular a quebra de sigilo bancário do senador, seu filho, foi demitido pela prefeitura de Rio Branco (AC), dirigida por Tião Bocalom (PP), aliado do presidente que, ao se irritar com a pergunta, retirou-se abruptamente da coletiva de imprensa.
O jornalista João Renato Jácome estava de folga, na quarta-feira (24), do trabalho como servidor da prefeitura e foi contratado como freelancer pelo Estadão para cobrir a visita de Bolsonaro no Acre, por causa da crise humanitária que atinge o Estado.
O decreto de exoneração foi publicado no Diário Oficial da Prefeitura de Rio Branco desta sexta-feira (26). O jornalista era chefe de gabinete na Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Veja o momento:
Em entrevista ao UOL, Jácome disse que ficou “surpreso e muito triste” ao saber da demissão sumária pela imprensa na quinta-feira (25). “Mas isso não vai fazer eu baixar a cabeça. Vou continuar trabalhando e fazendo o que eu sempre fiz. Uma coisa que ninguém pode me acusar é de ter feito algo errado. Não fui exonerado por um crime, por improbidade, por incompetência. Fui exonerado porque estava trabalhando, e isso incomodou, infelizmente”, disse.
Ele conta que a Secretaria — em que atuava desde 2017 — adota um rodízio de servidores por decreto devido à pandemia no estado.
“Eu já havia trabalhado por dois fins de semana seguidos por conta da enchente, e o secretário disse que eu iria folgar durante a semana – não só eu, como vários outros colegas de lá. E voltei ontem [quinta-feira] e trabalhei normalmente”, diz.
O diretor de comunicação da Prefeitura de Rio Branco, Ailton Oliveira de Freitas, alegou que o motivo da exoneração “é que o jornalista estava em horário de trabalho para o município e estava trabalhando para terceiros”.
Mas a versão do diretor contradiz a do prefeito que, a jornalistas locais, confirmou a exoneração do jornalista e deu a entender que a demissão foi por perseguição mesmo. “Foi exonerado ontem [na quarta-feira] mesmo”, respondeu Bocalom a um jornalista.
O prefeito postou no Facebook uma foto em que está no avião presidencial com Bolsonaro, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, e o ministro da Cidadania, João Roma.
“Com o nosso Presidente do Brasil no avião presidencial, falando sobre projetos para o Acre e nossa Rio Branco, como ajuda emergencial às famílias alagadas e construções de habitações populares mais centrais na cidade, eu, Tião Bocalom – prefeito de Rio Branco, presidente da República – Jair Bolsonaro, Pedro Guimarães- presidente da CEF e João Roma (velho amigo) – ministro da Cidadania”, escreveu o bolsonarista Bocalom.