Aglomerado no Ceará, ele disse que vai cortar auxílio emergencial dos estados que adotarem medidas restritivas contra a Covid. Praticamente todos os Estados estão tomando essas medidas frente ao agravamento da doença. Ameaça representa afronta à Constituição
Jair Bolsonaro anunciou nesta sexta-feira (26) em visita a Caucaia, na Grande Fortaleza, que daqui para a frente os governadores que “fecharem seus estados” é que devem bancar o auxílio emergencial.
A ameaça aos governadores que estão tomando medidas de restrição de movimentação diante do agravamento da pandemia, além de absurda e arrogante, é um atentado frontal à Constituição.
Bolsonaro acha que pode sair ameaçando governadores dessa forma. Não é à toa que o Supremo Tribunal Federal (STF) a todo momento está derrubando seus arroubos e ilegalidades.
“A pandemia nos atrapalhou bastante, mas nós venceremos este mal, pode ter certeza. Agora, o que o povo mais pede, e eu tenho visto em especial no Ceará, é para trabalhar. Essa politicalha do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois’ não deu certo e não vai dar certo. Não podemos dissociar a questão do vírus e do desemprego”, afirmou Bolsonaro, desdenhando a superlotação e o colapso da saúde e a morte de mais de 250 mil pessoas pela Covid-19. Para o genocida, essas mortes, que não param de crescer, estão “atrapalhando” os seus planos.
Ao contrário do que diz Bolsonaro, não são as ações dos governadores, mas sim a sua sabotagem criminosa à luta contra a Covid-19 que está causando tantos danos ao Brasil. Nos países que foram mais rigorosos no combate ao vírus, como a China, por exemplo, e outros, como Singapura, Coreia do Sul e o Vietnã, aqueles países que investiram rapidamente em vacinas e orientaram suas populações a tomarem cuidado e evitarem aglomerações, a economia já está em processo de recuperação. No Brasil, com a ação deletéria e a sabotagem aberta do Planalto, a situação da pandemia e da economia está piorando.
Contra praticamente todos os chefes de Estado do mundo e toda a ciência, que preconiza as medidas restritivas, a higiene adequada das mãos, o uso de máscara e a vacinação como saída para superar a maior crise sanitária dos últimos cem anos, Bolsonaro promove e incentiva aglomerações, sabota a compra de vacinas e usou sua live desta quinta-feira (26) para fazer carga contra o uso de máscara pela população. Agora ele acha que pode ameaçar os governadores que estão cumprindo suas obrigações na defesa de suas populações.
“São dois problemas que devemos tratar de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. E o povo assim o quer. O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e, daqui para frente, o governador que fechar seu estado, o governador que destrói emprego, ele é quem deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do Presidente da República essa responsabilidade”, ameaçou Bolsonaro.
A ameaça é uma afronta criminosa à Constituição que não permite decisões que não sejam impessoais na administração do dinheiro público. O auxílio emergencial é recurso público. Ele não é de Bolsonaro. Não é dinheiro de rachadinha, como disse o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). Ele foi criado e aprovado pelo Congresso Nacional. Para fazê-lo, os parlamentares tiveram que vencer a resistência da equipe econômica do governo, tanto na primeira vez quanto agora, na discussão da continuidade do auxílio emergencial. Guedes queria, e segue querendo, se aproveitar da situação de drama e calamidade para trocar um valor ínfimo de auxilio (R$ 250) pela intensificação ainda maior do arrocho fiscal sobre o país e o povo.
O discurso do capitão “cloroquina” em Caucaia, ameaçando quem agir contra a Covid-19, é também um desrespeito ao Pacto Federativo que determina a isonomia no tratamento dos entes da Federação por parte da União. Ele não pode discriminar Estados e municípios ao seu bel-prazer, como diz que vai fazer.
A fala foi feita em um momento em que governadores e prefeitos adotam medidas mais rígidas para conter o avanço da Covid-19 em várias partes do País. Na quinta-feira (25), o Brasil teve recorde de mortes registradas em um único dia: 1.582. Diversos estados estão sofrendo com falta de leitos de UTI para atender os doentes.
Diante da afronta de Bolsonaro, o governador do Ceará, Camilo Santana usou as redes sociais e afirmou que “aqueles que debocham da ciência, ignoram a luta dos profissionais de saúde para salvar vidas, e, principalmente, desrespeitam a dor das milhares de famílias vítimas da Covid, receberão o justo julgamento”. “Continuaremos firmes, combatendo o negacionismo, e lutando sempre pela vida”, disse ainda o governador.
O dirigente do estado já havia avaliado a visita como “um grande equívoco” pela possibilidade, que se confirmou, de haver “muitas aglomerações, algo frontalmente contrário” à contenção da pandemia.
O chefe do Executivo cearense informou que não compareceria ao evento para não participar de mais uma aglomeração bolsonarista. “É um momento desafiador e difícil para o Ceará, para o Brasil também, que está com aumento da transmissão do vírus. É importantíssimo que a população colabore nesse momento no sentindo de reduzir a circulação de pessoas, evitar toda e qualquer aglomeração”, frisou Camilo.