“Infelizmente, é uma tragédia que o Brasil esteja enfrentando isso de novo e é difícil. Esta deve ser a quarta onda que o país volta a enfrentar”, afirmou Mike Ryan. Ele apontou a falta de coordenação nacional como um entrave importante na luta contra a Covid-19
As últimas atitudes insanas de Jair Bolsonaro, em sua cruzada contra as vacinas e as medidas de proteção da população diante do vírus que já matou mais de 250 mil pessoas, está alarmando a comunidade internacional. O diretor-executivo de emergências da Organização Mundial da Saúde (OMS), Mike Ryan, chamou a pandemia no Brasil de tragédia e lamentou que o país enfrente uma nova onda de casos e mortes pela Covid-19.
QUARTA ONDA
“Infelizmente, é uma tragédia que o Brasil esteja enfrentando isso de novo e é difícil. Esta deve ser a quarta onda que o país volta a enfrentar”, afirmou Ryan nesta sexta-feira (26). Ele apontou a falta de coordenação nacional como um entrave importante na luta contra a Covid-19. “O Brasil é muito capaz e tem muitas instituições científicas e de saúde pública fantásticas. Acho que o país sabe o que fazer e muitos estados estão tentando aplicar as melhores medidas. Não é simples. Não é fácil”, disse.
Para o diretor da OMS, o que o Brasil vive “é uma lição de que a pandemia não acabou para ninguém e que qualquer relaxamento é perigoso”. “O vírus tem muita energia. Se não houver medidas, vamos pagar preço”, disse.
A advertência do diretor-executivo da OMS ocorreu no mesmo dia em que Jair Bolsonaro, em visita ao Ceará na sexta-feira (26), ameaçou Estados e municípios que estão adotando medidas mais rígidas para restringir a circulação de pessoas diante do grande avanço da Covid-19. “Esses que fecham tudo e destroem empregos estão na contramão daquilo que seu povo quer. Não me critiquem, vão para o meio do povo mesmo depois das eleições”, afirmou Bolsonaro a uma aglomeração que se formou por causa da sua presença na cidade de Tinguá (CE).
Bolsonaro vem sabotando abertamente também a vacinação da população brasileira. O Congresso Nacional autorizou o uso de R$ 20 bilhões para a compra das vacinas e até agora muito pouco foi adquirido. Ele usa todas as formas possíveis para atrasar a aquisição dos imunizantes. Retardou a assinatura do contrato com o Butantan, usou seu preposto na Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), Antônio Barra Torres, para atrapalhar a aprovação do uso emergencial das vacinas no Brasil.
ATRASO NA ANÁLISE DA SPUTNIK V
Até hoje o órgão não analisou o pedido da União Química, uma empresa nacional, para aprovação da vacina russa Sputnik V, já aprovada em dezenas de países. O laboratório já dispõe de 10 milhões de doses importadas, para entrega imediata, e garante 8 milhões por mês, produzidas no Brasil. O governo mantém um absurdo silêncio sobre o pedido da União Química. Como se não estivéssemos vivendo uma calamidade.
Outra forma de sabotar é usar R$ 1,3 bilhão para comprar uma vacina da Índia, a Covaxin, que ainda não foi nem testada e nem aprovada para uso em massa. Ou seja, as que estão prontas e aprovadas, como a Sputnik V ou a vacina da Pfizer, por exemplo, ele não compra. Vai comprar a vacina que não foi aprovada. Medidas como esta representam uma ação consciente contra a vacinação.
Não é à toa que o Brasil foi o 57º país a iniciar a vacinação e, até agora, imunizou apenas pouco mais de 3% da população. Enquanto isso, estão morrendo mais de 1.000 pessoas por dia, vítimas da Covid-19. É neste quadro dramático que Bolsonaro insiste em ficar fazendo aglomerações e showzinhos ameaçando governadores e atacando medidas de restrição, o uso de máscaras e as vacinas.
Ainda na sexta-feira, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanon, alertou que é necessário aumentar a produção de vacinas contra Covid-19 e acelerar sua distribuição. “Agora é a hora de usar todas as ferramentas para aumentar a produção [das vacinas contra Covid-19], incluindo licenciamento e transferência de tecnologia e, quando necessário, isenções de propriedade intelectual”, pediu Tedros. “Também é importante lembrar que, embora as vacinas sejam uma ferramenta muito poderosa, elas não são a única ferramenta. Ainda precisamos acelerar a distribuição de diagnósticos rápidos, oxigênio e dexametasona”, complementou o dirigente.
MENTIRAS DE BOLSONARO SOBRE USO MÁSCARA
A OMS também havia alertado sobre a importância do uso de máscaras, diante das afirmações de Bolsonaro contra o seu uso. Ele usou sua live de quinta-feira (25) para atacar o uso de máscara. Citando um suposto estudo feito numa suposta universidade da Alemanha, Bolsonaro afirmou que as máscaras são “prejudiciais” às crianças, causando irritabilidade, dor de cabeça e dificuldade de concentração.
“Começam a aparecer os efeitos colaterais das máscaras”, disse ele, depois de listar uma série de problemas supostamente causados pelas máscaras. “Eu tenho minha opinião sobre as máscaras, cada um tem a sua, mas a gente aguarda um estudo sobre isso feito por pessoas competentes”, acrescentou.
Não havia estudo algum de universidade alemã. Era apenas uma enquete on-line sem nenhum rigor científico. Bolsonaro mais uma vez deu vexame ao se apegar às fake news para sustentar suas opiniões negacionsitas. Faz isso o tempo todo em relação ao uso da cloroquina, medicação ineficaz contra a Cocid-19.
O porta-voz da OMS, Tarik Jašarević, questionado por um jornalista brasileiro, confirmou que máscaras e isolamento “ajudam”. “Temos dito de forma consistente que, por si só, usar máscaras não é suficiente. Tais cuidados precisam fazer parte de uma série de medidas tomadas”, afirmou.
“Distanciamento ajuda, reduz os riscos de ser infectado. Máscaras ajudam, especialmente quando o distanciamento não é possível”, declarou. “Cada um de nós pode reduzir os riscos de exposição. Isso não quer dizer que autoridades não devem colocar em práticas suas ações, o que inclui monitorar a transmissão do vírus e quebrar cadeias de transmissão, por meio de rastreabilidade, isolar e testar pessoas”, completou.
S. C.