O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, prestou depoimento à Polícia Federal e mudou a versão oficial do governo, dizendo, agora, que não foi informado no dia 8 de janeiro que iria faltar oxigênio medicinal em Manaus.
Segundo o ministro, a informação foi passada pela Advocacia-Geral da União (AGU) por causa de um engano cometido por um funcionário.
O depoimento do ministro aconteceu no dia 4 de fevereiro, no Hotel de Trânsito de Oficiais do Exército, em Brasília.
A declaração de Pazuello à PF contradiz uma manifestação assinada pelo ministro-chefe da AGU, José Levi, que afirmou que o Ministério da Saúde ficou sabendo da “crítica situação do esvaziamento de estoque de oxigênio em Manaus” no dia 8 de janeiro, a partir de um e-mail enviado pela White Martins, fabricante do insumo.
“O documento mencionado nunca foi entregue oficialmente ao Ministério da Saúde, bem como a empresa nunca realizou contatos informais com representantes do Ministério”, declarou Pazuello no depoimento obtido pelo Estadão.
A versão de Pazuello é contraditória com a própria manifestação do ministro. Em entrevista à imprensa no dia 18 de janeiro ele afirmou que soube por meio da própria White Martins, no dia 8, sobre a falta do insumo. “Nós tomamos conhecimento de que a White Martins chegou no seu próprio limite quando ela nos informou. Ou seja, se nós tivéssemos tido essa informação, por menor que seja, ou se nós fizemos imediatamente quando nós soubemos. Nós só soubemos no dia 8 de janeiro. Quando nós chegamos lá, no dia 4, o problema não era oxigênio”, disse o ministro à época.
Pazuello alega que houve um “equívoco” e que se deu “em virtude do prazo exíguo de 48 horas para apresentação da resposta junto ao STF”, continuou.
Na nova versão de Pazuello, ele reconhece que recebeu pedido do governo Amazonas de envio de 150 cilindros no dia 8 e que o Centro de Operações de Emergência (COE, do Ministério Saúde) avisou, em 9 de janeiro, sobre “colapso dos Hospitais e falta da rede de oxigênio”.
Porém, ele diz que “não houve qualquer tipo de menção ao iminente colapso de fornecimento de oxigênio na cidade de Manaus-AM” até aquele momento, segundo registra o depoimento.
O ministro disse à PF que apenas na noite do dia 10 o governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), relatou “um problema de abastecimento de oxigênio”. O ministro diz que, a partir desta data, o Ministério da Saúde passou a centralizar ações para entrega do insumo ao Estado, com a criação de um centro de controle com participação do governo local, Comando Conjunto Amazônia e agências envolvidas no combate à pandemia.
O ministro não disse uma data exata em que foi notificado do colapso da falta de oxigênio na cidade.
A verdade é que o governo ignorou a crise de oxigênio em Manaus. A preocupação do Ministério da Saúde foi fazer, naquele período, propaganda do “tratamento precoce”, com cloroquina e hidroxicloroquina, medicamentos ineficazes contra a Covid-19.
O Ministério até financiou uma força-tarefa para pressionar os médicos a receitarem esses medicamentos.
O Ministério da Saúde enviou ofício à Prefeitura de Manaus obrigando o uso da cloroquina e invermectina no “tratamento precoce” da Covid-19. O documento é assinado por Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação da Saúde.
O ofício contém “orientações do Ministério da Saúde para manuseio medicamentoso precoce de pacientes com diagnóstico da Covid-19”.
O depoimento de Pazuello aconteceu por causa do inquérito que corre no Supremo Tribunal Federal (STF), que investiga as omissões do ministro durante a crise no Amazonas.
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