O presidente Giammattei vem “submetendo o país a acordos que violam nossa soberania, atentam contra nossa saúde e representam a continuidade da ditadura da corrupção”, destaca, em artigo recém-publicado pelo jornal La Hora, o dirigente da Rede pela Paz e Desenvolvimento da Guatemala, Raul Molina Mejia, que afirma: “a renúncia do presidente Alejandro Giammattei seria sua única ação correta em 13 meses na presidência”.
Conforme denuncia Mejia, reitor da Universidade de San Carlos (USAC) e fundador da Representação Unitária da Oposição Guatemala, em 1982, Gianmattei tem aceitado o “tratamento desumano de Trump contra os migrantes guatemaltecos”.
Abaixo, a íntegra do pronunciamento do intelectual centro-americano:
Sua chegada à presidência foi produto de um processo ilegítimo e fraudulento, porém com o Estado tomado por pessoas sem escrúpulos, herança do governo autoritário e corrupto de Jimmy Morales e à sombra do pior presidente dos Estados Unidos da sua história, foi impossível que o povo elegesse uma autoridade proba e honesta.
Logo nos demos conta que seria a continuidade da “ditadura da corrupção”, com o agravante de ser você um personagem inclinado à repressão. Em 13 meses deixou claro que seu papel é proteger e promover a delinquentes e corruptos, alegando sempre à “presunção de inocência”.
Para completar o engano, vai ao Ministério Público de Consuelo Porras para congelar as investigações, como se viu nos conchavos em torno à Junta Diretiva do Congresso, que permitiu a queima de algumas de suas instalações. Ação que se utilizou como desculpa para a repressão dos protestos pacíficos da cidadania.
Quando o país precisou de que você defendesse os interesses do povo, falhou totalmente. Aceitou o tratamento desumano de Trump contra os migrantes guatemaltecos, ficou mudo diante da morte de adultos e menores nas mãos de agentes migratórios, e se submeteu a acordos que violam nossa soberania e atentam contra nossa saúde.
Sua condução da pandemia tem sido desastroso, sempre recorrendo a mentiras para explicar suas falhas nos procedimentos, nos testes e agora nas vacinas. Embora os acessos do exterior fossem restritos para conter contágios, não havia procedimentos ou testes adequados para analisar a entrada por via aérea ou terrestre.
Aceitou de cabeça baixa os “voos da morte” com deportados dos Estados Unidos infectados com o coronavírus e ônibus com os expulsos do México. O pessoal de saúde foi severamente atingido pela pandemia, por não terem sido fornecidas condições para quem estava na primeira linha de contenção.
Veio à tona a aquisição de um lote de testes falsos para detectar o coronavírus – comprado com dinheiro público, tirado do orçamento e muitas fraudes e armadilhas mais – que mostram, sem deixar lugar a dúvidas, sua irresponsabilidade e o perigo de morte que significa para as pessoas. Há muito mais, porém estas razões já são mais do que suficientes para que renuncie à Presidência.
Com a mudança da administração estadunidense, é questionado o seu compromisso com as máfias de assaltar a todos os organismos do Estado. Surge o dilema de se inclinar a favor da cidadania ou seguir as instruções de quem o colocou no cargo. Diante dessa encruzilhada, acho que você não tem a nobreza de obedecer à opinião pública, o que pode levar à rebelião social.
É urgente, então, que você renuncie ao seu cargo antes de tomar a decisão. Renunciar é a opção ética; porém também é a melhor opção política no momento em que a vacinação está próxima e a população está farta. Somente sua saída do governo pode garantir que não teremos vacinas falsas ou sistemas de vacinação contaminados por tão odiosa corrupção.