Ele “parece priorizar a criação de confrontos” num momento em que o país precisa de ação conjunta entre União, estados e municípios para enfrentar o momento mais agudo da pandemia”, dizem os governadores. O Brasil está vivendo o pior momento da tragédia sanitária
Em carta aberta, 17 governadores responderam à fake news, divulgada por Jair Bolsonaro no domingo (28), dizendo que ele teria feito grandes repasses aos estados para o combate à pandemia e insinuando que os governadores não estariam fazendo uso adequado dos recursos.
Claramente tentando fugir de sua responsabilidade pela maior tragédia sanitária dos últimos cem anos, Bolsonaro disse que faz sua parte no combate à Covid-19 e publicou em suas redes sociais, uma lista com valores encaminhados pela União para cada estado em 2020.
Os 17 governadores desmentiram Bolsonaro no mesmo dia em que ele divulgou sua mensagem. Disseram que estes são repasses constitucionais da União e que a parcela efetivamente enviada para a área de saúde foi “absolutamente minoritária”. Para os governadores, Bolsonaro tratou os repasses como se fossem uma “concessão” ou um “favor” aos governos estaduais. Eles ressaltaram que, na verdade, se trata de “expresso mandamento constitucional”.
Eles lembraram ainda que entre os repasses estão os valores do auxílio emergencial, que foi “iniciativa do Congresso Nacional, a qual foi indispensável para evitar a fome de milhões de pessoas”. A ajuda emergencial foi aprovada contra a resistência da equipe econômica do governo. Na primeira oportunidade que teve, Bolsonaro reduziu à metade o seu valor e depois extinguiu o auxílio. Agora, com a piora da pandemia, novamente o Congresso Nacional trava um novo embate contra a mesma equipe de Bolsonaro.
A carta desmonta a tentativa do governo de aparentar que está fazendo alguma coisa, quando, na verdade, sabota o tempo todo a luta contra a Covid-19.
“Nesse sentido, veiculada nas redes sociais da União e do presidente da República, a mensagem contabiliza majoritariamente os valores pertencentes por obrigação constitucional aos estados e municípios, como os relativos ao FPE [Fundo de Participação dos Estados], FPM [Fundo de Participação dos Municípios], FUNDEB [fundo para a educação], SUS, royalties, tratando-os como uma concessão política do atual governo federal”, escreveram os governadores na carta.
Os dirigentes estaduais também disseram que Bolsonaro “parece priorizar a criação de confrontos” num momento em que o país precisa de ação conjunta entre União, estados e municípios para enfrentar o momento mais agudo da pandemia. O Brasil esta vivendo a pior crise sanitária dos últimos cem anos. O número de mortos já se aproxima de 255 mil e a cada dia cerca de mil pessoas morrem vitimas da Covid-19. Enquanto isso, Bolsonaro não compra vacina, desrespeita as normas de segurança e prega contra o uso de máscara.
Eles acrescentaram ainda que os valores listados por Bolsonaro são usados para ações em várias áreas, como: “educação, segurança, estruturas de atendimento da saúde, justiça, entre outras”. E lembraram que o governo federal dispõe dos mecanismos para assegurar que os recursos estão sendo aplicados.
“Em relação aos recursos efetivamente repassados para a área de Saúde, parcela absolutamente minoritária dentro do montante publicado hoje, todos os instrumentos de auditoria de repasses federais estão em vigor. A estrutura de fiscalização do governo federal e do Tribunal de Contas da União tem por dever assegurar aos brasileiros que a finalidade de tais recursos seja obedecida por cada governante local”, completaram.
O governador do Espírito Santo Renato Casagrande também criticou o comportamento de Bolsonaro no pior momento vivido pelo país em um ano de pandemia. “Hoje temos 20 estados com dificuldades de atender às pessoas que precisam de UTI. E o presidente, na semana do pior momento da pandemia, dá uma declaração menosprezando as máscaras. Não é fácil. Por isso iremos a Brasília. Já fizemos uma reunião com o Rodrigo Pacheco. Estamos pedindo para que seja nesta terça-feira a reunião com o Arthur Lira”.
Os governadores estão programando para a terça-feira (2) uma visita conjunta à fábrica da União Química, uma empresa brasileira com sede em Brasília, que, em parceria com o renomado Instituto Gamaleia, da Rússia, está em condições de entregar de imediato 10 milhões da vacinas Sputnik V, um imunizante vacina já testado em várias partes do mundo.
Além disso, a fábrica promete entregar 8 milhões de doses por mês, todas elas produzidas no Brasil. Bolsonaro, em seu trabalho de sabotagem às vacinas, além de trabalhar contra todas, está atrapalhando também a aprovação desta vacina pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Os 17 governadores que assinam a carta são:
Renan Filho (MDB), Alagoas
Waldez Góes (PDT), Amapá
Rui Costa (PT), Bahia
Camilo Santana (PT), Ceará
Renato Casagrande (PSB), Espírito Santo
Ronaldo Caiado (DEM), Goiás
Flávio Dino (PC do B), Maranhão
Helder Barbalho (MDB), Pará
João Azevedo (Cidadania), Paraíba
Ratinho Júnior (PSD), Paraná
Paulo Câmara (PSB), Pernambuco
Wellington Dias (PT), Piauí
Cláudio Castro (PSC), Rio de Janeiro
Fátima Bezerra (PT), Rio Grande do Norte
Eduardo Leite (PSDB), Rio Grande do Sul
João Doria (PSDB), São Paulo
Belivaldo Chagas (PSD), Sergipe