As sanções anunciadas pelo governo Biden contra autoridades russas e em apoio ao neonazista Alexei Navalny foram rechaçadas pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Maria Zakharova, que repudiou a ingerência nos assuntos internos russos e observou que a Casa Branca, enredada em seus próprios problemas internos, mais uma vez tenta fabricar a imagem de “um inimigo externo”.
O chanceler russo Sergei Lavrov classificou as sanções como “ilegítimas” e disse que a Rússia vai reagir de “forma inequívoca”. “Ninguém cancelou uma das principais regras da diplomacia – a reciprocidade”, advertiu.
As sanções foram decretadas uma semana após a Anistia Internacional retirar de Alexei Navalny o status de ‘prisioneiro de consciência’ em razão do ‘discurso de ódio’ – isto é, por ser neonazista assumido.
Em um famoso vídeo que mantém em seu youtube, Navalny compara imigrantes muçulmanos a baratas, que devem ser abatidos “a chineladas”, ou caso a ameaça se torne maior, “a tiro”. Foi um dos organizadores da ‘Marcha Russa’, que juntava skinheads, xenófobos e neonazis; de tão extremista, Navalny foi expulso do partido liberal Yabloco.
Depois de selecionado pela embaixada russa em 2010 para um curso de verão na Universidade de Yale, Navalny em quatro meses voltou dos EUA transformado no “oposicionista” preferido de Washington e recém formado “caçador de corruptos” na Rússia.
ARROGÂNCIA
As sanções dos EUA têm como alvo o Diretor do Serviço de Segurança Federal Alexander Bortnikov, o procurador-geral Igor Krasnov, o chefe do Serviço Penitenciário Federal Alexander Kalashnikov, o primeiro vice-chefe do gabinete presidencial Sergei Kiriyenko, o chefe do diretório presidencial de política interna Andrei Yarin e os vice-ministros da Defesa Alexei Krivoruchko e Pavel Popov.
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, disse que as sanções vão piorar as relações já lamentáveis com os EUA, mas que as medidas não terão efeito sobre os atingidos. Ele observou ainda, que são medidas “redundantes”. “ esses funcionários não viajam para o exterior, não têm o direito de abrir contas em bancos estrangeiros ou de possuir bens no exterior” pela lei russa, destacou.
Como assinalaram senadores russos, essas sanções são unilaterais e ilegais, já que não foram aprovadas pelo Conselho de Segurança da ONU, que é o órgão que tem essa capacidade segundo a lei internacional. Ao fazer o anúncio, o porta-voz norte-americano chamou as sanções de “resposta robusta ao envenenamento e prisão da figura de oposição Navalny”.
“MOSTRE AS PROVAS”
A acusação de ‘envenenamento por novichok’ foi lançada pelo governo de Berlim, que se negou a apresentar à Rússia qualquer prova do que dizia, como é o protocolo em caso envolvendo armas químicas, como alegado.
Foi uma equipe médica russa salvou a vida de Navalny quando ele passou mal em um voo, e o governo russo prontamente acedeu ao pedido da família para que fosse levado para uma clínica alemã. A alegação foi feita por um laboratório militar alemão, mas sua conclusão jamais foi endossada pelo hospital universitário Charite, que tratou Navalny.
A Rússia tem os exames feitos pelos médicos russos, e Berlim não mostra os que diz ter. As versões de Navalny sobre o suposto envenenamento também foram mudando ao longo dos dias, de “no chá”, para na “garrafa plástica de água” e, afinal, “novichok na cueca”. Como asseveram os especialistas, não haveria como Navalvy estar intoxicado num avião com um agente químico letal de grau militar, e ninguém mais morrer.
Quanto à prisão de Navalny, é pela condenação por fraude em 2014 contra duas empresas, uma delas francesa do ramo de cosméticos, pena que havia sido suspensa, mas a justiça decidiu que ele voltasse à prisão pelos restantes 2,5 anos, depois de repetidas faltas à apresentação ao juiz. Nos dois últimos anos, cerca de 20 mil presos com pena suspensa acabaram de volta à cela exatamente pela mesma razão.
ILUSÃO DO EXCEPCIONALISMO
Todas as tentativas de impor algo à Rússia por meio de pressões de sanções sempre falharam, destacou a porta-voz Zakharova. “Tal política é improdutiva nas condições geopolíticas modernas”, acrescentou, dizendo que os norte-americanos não percebem que “as alegações de seu próprio excepcionalismo não passam de uma ilusão”.
Quanto às encenações sobre o “novichok”, a diplomata registrou que “em vez de serem puxados para uma nova onda de confronto, os EUA deveriam se preocupar em cumprir devidamente suas próprias obrigações, por exemplo, sobre a destruição de armas químicas que a Rússia simplesmente não tem desde 2017”. E que os EUA não cumpriram até aqui, por “falta de dinheiro”.
“Violador em série de tratados e acordos internacionais na esfera de controle de armas e não-proliferação, Washington não tem o direito de dar lições de moral aos outros por definição”, sublinhou Zakharova.
Para tornar o frenesi de sanções mais ridículo, entre as medidas anunciadas em seguida pelo Departamento de Estado está a “proibição de venda de armas americanas à Rússia”. Os russos observaram que não recebem armas norte-americanas desde a II Guerra Mundial…