Principal elemento linha dura contra as negociações de paz na Colômbia, Álvaro Uribe, do Centro Democrático, foi o grande derrotado das eleições parlamentares de domingo, passando de mais de dois milhões de votos para cerca de 800 mil. Dos 102 senadores atuais, 27 perderam suas cadeiras, entre eles expoentes da ultradireita como José Obdulio Gaviria, primo de Pablo Escobar.
Ainda que o novo Congresso mantenha a maioria de direita, a renovação ocorrida dá um alento à defesa do Acordo de Paz entre o governo e as FARC (ex-Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, atualmente Força Alternativa Revolucionária do Comum). Com palavras de diálogo e respeito à negociação com as FARC – que tem garantidos pelo acordo cinco deputados e cinco senadores – o Câmbio Radical, do presidente Juan Manuel Santos, ganhou sete novos lugares no Senado.
O eleitorado também sinalizou o caminho da negociação pelos mais de 3,3 milhões de votos recebidos pelo ex-prefeito de Bogotá, Gustavo Petro, do Movimento Colômbia Humano, de oposição, nas prévias às eleições presidenciais de maio.
PARAMILITARES
São conhecidas as conexões do uribismo com o fascismo paramilitar, sua trajetória de milhares de execuções extrajudiciais, sumárias, via “falsos positivos” e outras múltiplas e bárbaras violações aos direitos humanos ocorridas durante os seus mandados como presidente, governador de Antióquia e prefeito de Medelin.
A queda do uribismo, conforme o jornal argentino Página 12, teria relação direta com a enxurrada de processos judiciais e acusações que vem acumulando por vínculos seus e de sua família com clãs mafiosas e grupos paramilitares. Entre as senadoras que foram beneficiadas com os rios de sangue – e perderam nas urnas – está Sofía Gaviria, cuja família é acusada pela “compra” de terras nas costas de Urabá após as “incursões” paramilitares que faziam os antigos proprietários desaparecer.
À esquerda, a recente criada lista da Decência conseguiu eleger quatro candidatos, entre eles o ator Gustavo Bolívar Moreno, com 116.505 votos, e ao mesmo tempo assegurar um lugar para a União Patriótica (partido vítima de genocídio que renasceu há um ano) com Aida Avella. O Partido Verde passou de cinco para 10 cadeiras e o oposicionista Polo Democrático conseguiu manter suas cinco vagas.
De acordo com a Missão de Observação da OEA estas foram as eleições mais tranquilas da história da Colômbia, que terão 10 parlamentares das FARC agora no Capitólio: cinco na Câmara e cinco no Senado. Embora o resultado eleitoral tenha sido pouco expressivo, uma vez que não alcançaram 100 mil votos, dirigentes do partido como Israel Zuñiga (Benkos) valorizam os passos dados. “A votação corresponde às condições adversas em que realizamos a campanha, em clara desvantagem e rodeados por um ambiente hostil, chegando ao cúmulo de termos notícias de mais de 400 mil votos nulos sem a possibilidade de recontagem, já que não nos permitiram fazê-la”, denunciou. A partir destes resultados, frisou Benkos, “nosso partido centrará sua atuação em afiançar a implementação do Acordo de Paz e buscar a melhoria das condições de vida do povo colombiano”.