
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, advertiu que o descontrole na transmissão do novo coronavírus no Brasil é motivo de preocupação no mundo.
Adhanom recomendou que o Brasil adote medidas “agressivas” para conter a propagação da Covid-19, enquanto distribui a vacina à população. “Nós estamos preocupados, mas a preocupação não é apenas com o Brasil. Têm os vizinhos, quase toda América Latina, muitos países. Isso significa que, se o Brasil não for sério, vai continuar afetando todos os vizinhos, e além. Então, isso não é apenas sobre o Brasil, mas também sobre toda a América Latina e além”, esclareceu.

O diretor-geral da OMS citou que, enquanto em muitos países observou-se uma redução de casos nas últimas seis semanas, no Brasil a tendência foi de aumento.
“Acho que o Brasil precisa levar isso muito a sério”, reafirmou. Para Adhanom, “a adoção de medidas públicas de saúde em todo o país, de forma agressiva, seria crucial”. “Sem fazer nada para impactar na transmissão ou suprimir o vírus, não acho que, no Brasil, conseguiremos uma queda. Quero enfatizar isso: a situação é muito séria e estamos muito preocupados. E as medidas públicas que o Brasil adotar precisam ser muito agressivas, enquanto distribui vacinas”, afirmou.
Nos últimos três dias, os números de mortes por Covid-19 no Brasil se mantiveram acima da marca de 1.500 óbitos. Segundo o Ministério da Saúde, na quarta-feira (3) foram 1.910 óbitos; quinta-feira (4), 1.699; sexta-feira (5), 1.800.
No Brasil, o presidente da República faz propaganda de remédios ineficazes no combate à Covid-19, como a cloroquina, hidroxicloroquina, ivermectina e outros, no chamado “tratamento precoce”.
No auge do colapso da falta de oxigênio em Manaus, com hospitais abarrotados de pacientes com Covid-19, o Ministério da Saúde financiou uma força-tarefa de médicos para impor o uso de cloroquina aos médicos da rede hospitalar da capital. Um ofício do MS foi expedido forçando a prefeitura de Manaus a adotar o “tratamento precoce”. O que foi feito. Muitos pacientes usaram a cloroquina, inclusive em casa, mas não impediu a corrida por internação nos hospitais e a explosão de casos e mortes pelo vírus.
Além do mais, Bolsonaro e a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) travam as vacinas. Só com a pressão da sociedade, governadores, prefeitos, parlamentares e Supremo Tribunal Federal (STF), o governo se mexeu para adquirir as vacinas, assim mesmo com uma lentidão criminosa. A vacina russa, a Sputnik V, que tem disponibilidade imediata de 10 milhões doses, tem sofrido vetos da Anvisa e até agora não foi sequer analisada. Ao contrário de outras que a agência autorizou com uma velocidade espantosa, mas vão demorar a chegar no país.
Até a sexta-feira, pouco mais de 3,75% (7.941.173) da população foi vacinada com a primeira dose.
Por fim, Bolsonaro sabota as medidas de prevenção contra a Covid-19, atacando governadores e prefeitos que adotaram restrições em suas localidades para evitar a propagação do vírus.
Só como exemplo do boicote, na sexta-feira (5), por determinação de Bolsonaro, a Secretaria Nacional de Fomento e Incentivo à Cultura publicou uma portaria que estipula que “só serão analisadas propostas culturais” (pela Lei Rouanet) cujo local de execução não esteja entre as cidades e municípios com medidas de restrição de circulação de pessoas.
Na quinta-feira (4), em uma live, Bolsonaro atacou as medidas tomadas por governadores e prefeitos para prevenir contra o coronavírus e cobrou o retorno da população ao trabalho para se contaminar. Ele disse ainda que a população deve “enfrentar” os problemas: “Chega de frescura, de mimimi. Vão ficar chorando até quando?”.
VARIANTES
A OMS demonstrou preocupação com as mutações e a variante brasileira do vírus. “Nós estamos preocupados sobre a P.1. Ela tem mutações específicas que dão ao vírus vantagens, particularmente na transmissão. Não há dúvida de que ela adicionou à complexidade da situação que o Brasil vive”, destacou o diretor-executivo do Programa de Emergências em Saúde da organização, Mike Ryan.
A líder técnica de resposta à Covid-19, Maria Van Kerkhove, assinalou que, entre as três variantes que estão sendo rastreadas pela OMS, está a amazonense, que, como ressaltou, é associada ao aumento de transmissibilidade. “Se você tem aumento de transmissibilidade, você terá aumento de casos, aumento de pacientes que vão precisar de hospitalizações e aumento daqueles que desenvolvem casos graves. Isso pode ter impacto no sistema de saúde, o que pode ocasionar no aumento de mortes. Vimos isso em outros países”, afirmou.
FNP
Na última quarta-feira, o presidente da FNP, Jonas Donizette, afirmou que o anúncio do governo federal de que comprará as vacinas da Pfizer e da Janssen não conflita com a construção do consórcio de municípios.
“Talvez a adesão maciça dos prefeitos tenha até ajudado o governo a tomar essa decisão. Jamais saberemos se o empurrão foi nosso, mas isso pouco importa”, escreveu o ex-prefeito de Campinas no Twitter. “O que nos interessa, mesmo, é que a vacinação dos brasileiros seja um fato, não uma promessa”.
Segundo Donizette, mesmo que o governo federal compre todas as vacinas, o consórcio liderado pela FNP continuará sendo necessário para adquirir medicamentos, insumos e equipamentos “com possibilidade de negociação de preços melhores, poupando recursos públicos”.