Temer desistiu de ir ao Rio de Janeiro. A viagem estava programada para domingo, onde o governo pretendia promover uma solenidade, supostamente para apresentar um balanço da intervenção federal no Rio, que completará um mês.
Após o assassinato da vereadora Marielle Franco e das manifestações de indignação que tomaram as ruas do Rio, Temer achou prudente ficar em Brasília.
Nesta sexta-feira, Temer mandou desmontar o evento agendado para domingo, que seria para comemorar o extraordinário sucesso da intervenção federal.
Houve um pequeno grupo de assessores que ainda defendeu que, neste momento, Temer deveria ir ao Rio para reforçar sua suposta intenção de capturar e punir os assassinos de Marielle. Ontem, Temer dissera que “o crime não ficará impune”.
Seria, realmente, natural – talvez até obrigatório – que um presidente da República, diante da comoção geral após o assassinato da vereadora, fosse ao Rio solidarizar-se com o povo daquela cidade.
Mas não é o caso. Temer preferiu conservar-se longe – e limitar-se a declarações que, até prova em contrário, são mera e má retórica.
Porque o Presidente é quase que obrigado à ir ao Rio “solidarizar” com o povo daquela cidade apenas com a infeliz morte de uma vereadora, cujo as pessoas pensam que conhecem os verdadeiros ideais dela? Isso não tem o menor cabimento, vai saber qual diabos é o verdadeiro motivo de quererem ele lá para bancar o bonzinho com a morte de UMA vereadora NEGRA, se milhares de pessoas trabalhadoras NEGRAS ou BRANCAS (que o Temer não tem a minima ideia de que elas existem) e de acordo com meus valores criados em casa tem os mesmos direitos, morrem injustamente pelas mãos de bandidos, sejam ele policiais corruptos ou pessoas anônimas que foram deixadas a deriva pelo próprio governo que agora quer prestar apoio depois de jogar a bosta no ventilador.
Leitor, quem disse que ia ao Rio foi o Temer. E depois fugiu. É sobre isso a matéria. Agora, as milhares de pessoas mortas por bandidos não são – e não podem ser – uma atenuante para o assassinato de uma vereadora, de maneira absolutamente covarde, praticamente no centro do Rio de Janeiro, com o Estado sob intervenção federal e ocupado pelas Forças Armadas. É claro que essa é uma maneira desses celerados dizerem que podem fazer o que quiserem e com quem quiserem – portanto, atinge qualquer um, ou seja, a todos. Por isso causou tanta indignação. Então, que importância têm os supostos “ideais” da vereadora? Ou será que, por não gostarem dos “ideais” dela, justifica-se o assassinato e a covardia? Por fim: também achamos que tanto os brancos quanto os negros têm direito à vida. No entanto, os negros (“pretos” + “pardos”, no critério do IBGE) são 71% das vítimas de homicídio no Brasil (cf. Ipea/FBSP, “Atlas da Violência 2017“, p. 32). É inútil procurar igualdade no assassinato.
Os responsáveis pela morte de Danielle deveriam ser julgados pelo POVO