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Na reunião de eleição, diversos deputados demonstraram preocupação com a gestão ambiental no Brasil. Deputada fez discurso comprometido com a agenda ambiental. A única coisa que liga a deputada com a pauta do colegiado é sua relação de amizade com o ministro Ricardo Salles
A deputada extremista-bolsonarista Carla Zambelli (PSL-SP) foi eleita com 10 votos, na última sexta-feira (12), presidente da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados para mandato de um ano. Seis deputados votaram em branco.
Ao tomar posse, Zambelli listou como prioridades a bioeconomia, a regularização fundiária com direitos e deveres para os ocupantes da terra, o combate ao desmatamento ilegal, o aumento da segurança jurídica e a universalização do saneamento básico no Brasil.
A parlamentar também anunciou que o colegiado trabalhará em conjunto com a Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural.
A lista é bem diferente do discurso terraplanista da deputada, uma das mais ardorosas defensoras da chamada “pauta ideológica” do presidente Jair Bolsonaro.
Nas palavras da nova presidente, o Brasil é exemplo de sustentabilidade para o mundo. “Temos 66% da nossa mata nativa preservada e 84% da Amazônia preservada. Temos a lei ambiental mais restritiva do mundo, uma agricultura de baixo carbono. O Brasil é responsável por menos de 3% das emissões de gases estufa”, afirmou.
COMPLICADAS CONEXÕES
Sem qualquer intimidade com a pauta ambiental, a única coisa que Zambelli tem em seu favor, no colegiado, se é que se pode dar crédito a isso, é a proximidade com o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), a quem defendeu intransigentemente nos últimos anos. No De Olho nos Ruralistas, Luís Indriunas escavou as conexões políticas da dupla Zambelli/Salles e encontrou elo curioso: a empresa de papel e celulose Suzano.
Na última campanha eleitoral, a deputada recebeu doações do empresário Jorge Feffer, um dos controladores da companhia. A Suzano também esteve no centro do processo que resultou na condenação em primeira instância contra Salles, acusado de alterar de maneira irregular o plano de manejo da APA (Área de Proteção Ambiental) Várzea do Rio Tietê durante sua gestão como secretário de Meio Ambiente do governo Alckmin em São Paulo: a empresa foi uma das beneficiadas pela decisão de Salles. Feffer também financiou o Movimento Endireita Brasil, fundado e liderado por Salles antes de ingressar no governo paulista.
A reportagem repercutida pelo portal ClimaInfo, também, destacou a proximidade de Zambelli com o atual secretário de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, o ruralista Luiz Antônio Nabhan Garcia. A deputada manteve em seu gabinete o irmão do secretário, Maurício Nabhan Garcia; já Nabhan empregou o irmão de Zambelli, Bruno Zambelli Salgado, no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
Em tempo: A deputada Aline Sleutjes (PSL-PR) foi eleita, também, na última sexta presidente da Comissão de Agricultura da Câmara. Ela já deixou claro que uma de suas prioridades será passar o projeto da grilagem. O bolsonarismo saiu do “fundão” da Câmara e agora ocupa postos-chave no processo decisório, como a CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), principal colegiado da Casa, agora presidido pela extremista-bolsonarista, Bia Kicis (PSL-DF).
COBRANÇAS
Na reunião, diversos deputados pediram comprometimento de Zambelli em relação ao meio ambiente. Mesmo não sendo integrante do colegiado, a deputada Talíria Petrone (RJ), líder do PSol, cobrou posicionamento contrário da nova presidente a fim de “interromper a boiada que está passando”.
“Queria muito que a gente continuasse tendo essa comissão como espaço de resistência, para fortalecer a proteção da natureza e dos povos tradicionais que dependem da preservação do território para sobreviver”, declarou Petrone. “A lógica do desmonte, que é a lógica do presidente Bolsonaro, da sua base, tem levado a gente a ser chacota internacional. Há uma preocupação internacional de ambientalistas que vêm ao Brasil, que vê sua natureza sendo destruída. Isso leva a sanções econômicas e a entraves internacionais.”
Camilo Capiberibe (PSB-AP), por sua vez, observou que defender o meio ambiente não é ser contra qualquer outra dimensão da vida do País, mas encontrar equilíbrio entre os diversos setores.
Airton Faleiro (PT-PA) também pediu cuidado com a gestão ambiental. “Se nós cairmos no equívoco e facilitar as coisas, abrindo a porteira para a ‘boiada passar’, além de cair em um prejuízo enorme, também cometeremos um ato que não terá apoio da maioria da sociedade. Não é isso que a sociedade brasileira espera dessa comissão. Essa comissão não pode ficar refém do atraso, da lógica depredadora do meio ambiente”, ponderou.
O deputado, também extremista-bolsonarista, Nelson Barbudo (PSL-MT), por outro lado, defendeu o desmatamento legal e disse que “o homem precisa sobreviver na Amazônia, utilizando recursos naturais legalmente”. “Precisamos dar sustentabilidade e legalidade ao garimpeiro em Mato Grosso. Até a ascensão de Jair Bolsonaro, o garimpeiro era tratado como bandido”, reclamou.
Evasiva, Zambelli ouviu a todos e disse que pretende dialogar bastante e “chegar ao possível”.
BIOGRAFIA E PERFIL PARLAMENTAR
Gerente de projetos, Carla Zambelli é natural de Ribeirão Preto (SP), tem 40 anos e está em seu primeiro mandato de deputada federal. Foi eleita com 76.306 votos. Na Câmara, ela foi vice-líder do PSL e do governo. Também integrou como titular diversas comissões permanentes e especiais, como a da Prisão em 2ª Instância (PEC 199/19).
Fundadora do movimento direitista Nas Ruas, Zambelli militou em favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. A parlamentar também publicou o livro Não foi Golpe – Os bastidores da luta nas ruas pelo Impeachment de Dilma.
VICE-PRESIDÊNCIAS
Carla Zambelli assume a presidência da Comissão de Meio Ambiente em sucessão ao deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP). Ele disse ter certeza de que a deputada vai dar continuidade ao trabalho do colegiado.
“O mundo inteiro olha para o Brasil por conta da sua biodiversidade e por conta da importância de suas florestas”, afirmou Agostinho. “Estamos perdendo de 8 a 10 cidades, do tamanho da cidade de São Paulo, por ano com o desmatamento.”
Na mesma reunião que elegeu Zambelli, também, foram escolhidos os deputados Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), Carlos Gomes (Republicanos-RS) e Carlos Henrique Gaguim (DEM-TO) para ocupar, respectivamente, a 1ª, 2ª e 3ª vice-presidências.
Nova reunião da Comissão de Meio Ambiente está agendada para a próxima quinta-feira (18).
M. V.
Com informações da Agência Câmara e do portal ClimaInfo