“Eu tive meu celular publicado em grupos de WhatsApp e sofri duas tentativas de entrada no quarto do hotel. Coisas absurdas”, contou Ludhmila
A médica cardiologista LudhmiIa Hajjar afirmou, na segunda-feira (15), que, depois que recusou o convite de Jair Bolsonaro para assumir o Ministério da Saúde, foi ameaçada de morte.
Nas últimas 24 horas, afirmou ela, “fui alvo de ameaça de morte, além de tentarem invadir três vezes o quarto do hotel em que eu estava hospedada em Brasília, durante a madrugada”.
“Estou num hotel em Brasília, e houve três tentativas de entrar no hotel. Pessoas que diziam que estavam com o número do quarto – e que eu estava esperando-os. Diziam que eram pessoas que faziam parte da minha equipe médica. Se não fossem os seguranças do hotel, não sei o que seria…”, contou ela, em entrevista para Andreia Sadi, na Globonews.
“Eu tive meu celular publicado em grupos de WhatsApp e [sofri] três tentativas de entrada em quarto de hotel. Coisas absurdas”, contou Ludhmila. A médica afirmou ter ficado “um pouco assustada” com as ameaças, mas disse que esse não foi o motivo de ter recusado o convite de Bolsonaro. “Eu não tenho medo. São pessoas radicais, que estão polarizando o Brasil”, disse.
Ao falar sobre a conversa com Bolsonaro, a cardiologista disse que não houve consenso com o presidente. A médica deixou claro que sua prioridade é salvar vidas, com base na ciência.
“O Brasil precisa de protocolos, e isso é para ontem. (…) Nós estamos discutindo azitromicina, ivermectina, cloroquina. É coisa do passado. A ciência já deu essa resposta. Cadê um protocolo de tratamento? (…) Perdeu-se muito tempo na discussão de medicamentos que não funcionam”, prosseguiu a médica.
“O cenário no Brasil é bastante sombrio. O Brasil vai chegar em 500 mil, 600 mil mortes”, projetou, avaliando a situação atual da pandemia no país.
“Penso para isso, neste momento, para reduzir as mortes, tem que reduzir a circulação das pessoas, de maneira técnica e respaldada por dados científicos. E um Ministério da Saúde forte pode dar esse respaldo que os governos estaduais precisam, esse apoio e essa união. Penso e considero ser emergencial a abertura de leitos com capacitação estrutural e humana”.
“O Brasil tem que falar com a OMS, tem que falar com o mundo todo, tem que pedir ajuda e tem que ser ágil na aquisição de vacinas. A gente esperar que a população seja vacinada até dezembro, a gente vai perder muitas vidas”, defendeu Ludhmila.
Enquanto conversava com a médica, indicada por deputados da base política do governo, Bolsonaro estimulava suas milícias a atacar as medidas de combate ao coronavírus defendidas por ela.
“Infelizmente, acho que esse não é o momento para que eu assuma a pasta, principalmente por motivos técnicos. Eu sou médica, cientista, tenho todas as minhas expectativas em relação à pandemia. Eu acho que isso está acima de qualquer ideologia, essa é a minha posição. Eu fiquei honrada com o convite, mas pautei minha vida toda na ciência”, disse Hajjar, momentos após ter recusado a pasta, em entrevista à CNN.
“Se o presidente me chamou para conversar, [acreditei que] é porque ele realmente estava interessado em mudar. Eu sou uma pessoa conhecida, minhas ideias já estão disseminadas [a favor da vacinação, do distanciamento social e contrária à cloroquina]. Realmente eu acreditei em uma mudança de paradigma. Talvez tenha sido ingenuidade minha como cidadã brasileira”, disse a Drª Ludhmila à GloboNews.