O Irã acusou o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, de hipocrisia por cobrar do Irã mais em matéria de programa nuclear exatamente quando o Reino Unido anuncia aumento de 45% do arsenal nuclear.
“Mostrando uma hipocrisia absoluta, [Boris Johnson] diz estar preocupado [com a capacidade nuclear do Irã], mas anuncia que o país vai aumentar o arsenal de bombas atômicas”, disse o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, através de mensagem no Twitter.
“Ao contrário do Reino Unido e seus aliados, o Irã considera que as bombas atômicas e todas as armas de destruição massiva devem ser erradicadas”, acrescentou Zarif.
Segundo um relatório publicado na terça-feira, Londres prevê aumentar de 180 para 260 o número de ogivas nucleares (uma subida de 45% em relação ao limite máximo anterior), terminando com o desarmamento progressivo iniciado após a dissolução da União Soviética, há trinta anos.
Nos termos do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), em vigor desde 1970, o Reino Unido é um Estado que reconhece possuir armas nucleares.
Signatário do mesmo tratado, o Irã integra a categoria dos “Estados não dotados de armas nucleares” com o compromisso de jamais “fabricar ou adquirir” esse tipo de armamento.
O artigo IV do tratado compromete cada um dos signatários a “manter a boa-fé nas negociações sobre as medidas eficazes relativas ao fim da corrida ao armamento nuclear”.
Em paralelo, Israel, que não é signatário do TNP e é reconhecidamente detentor de um arsenal nuclear, que não admite oficialmente, exceto para fazer ameaças aos países vizinhos, jamais teve de se defrontar sequer com um milionésimo da pressão desencadeada contra o programa nuclear pacífico iraniano.
A Grã Bretanha é signatária do Acordo Nuclear com o Irã (JCPOA) ao lado de Rússia, China, França e Alemanha e agora que, sem Trump, os EUA não descartam o retorno ao acordo, tem apostado em pressionar o Irã para novas cláusulas, como se não tivesse partido de Washington as sanções e rompimento do tratado.
Rússia condena carreira nuclear
“Esta decisão prejudica a estabilidade mundial e a segurança estratégica”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, sobre o anúncio feito pelo governo de Boris Johnson de aumento do arsenal nuclear em 45%, dando à redução de armas nucleares que se seguiu ao fim da União Soviética.
“Lamentamos que a Grã-Bretanha tenha escolhido a via que a leva a aumentar as armas nucleares”, acrescentou.
A revisão estratégica da política britânica de segurança, defesa e política externa, de que o aumento do arsenal nuclear é parte, também define a Rússia como a “maior ameaça” para o Reino Unido.
“Não há nenhuma ameaça por parte da Rússia”, enfatizou Peskov, considerando “inaceitável afirmar-se o contrário”.
As medidas vão contra os objetivos internacionais de luta contra a proliferação, poucas semanas depois de a Rússia e os Estados Unidos terem alcançado um entendimento sobre o prolongamento do tratado sobre limitação de armas nucleares, o Start III, quase no último minuto. “A existência de armas nucleares é uma ameaça para a paz na Terra”, concluiu Peskov.