A direção da regional de Pernambuco da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) manifestou solidariedade à professora Erika Suruagy, que foi convocada para depor em inquérito aberto pela Polícia Federal por conta da instalação de outdoors com críticas ao governo Bolsonaro.
Colocadas ainda em 2020, quando o país atingiu 120 mil mortes, as peças foram patrocinadas por um pool de associações sindicais. Na época, a professora era presidente da Sessão Sindical dos Docentes da Universidade Federal Rural de Pernambuco (Aduferpe).
Atualmente ela ocupa o cargo de vice-presidente na entidade.
O outdoor trazia a imagem de Bolsonaro usando capuz e foice, como é representada a figura da morte, com as frases: “O senhor da morte chefiando o país. No Brasil, mais de 120 mil mortes por Covid-19”. Também continha a hashtag #ForaBolsonaro.
A mando de Bolsonaro, o inquérito aberto pela PF em 29 de janeiro investiga a professora pelo crime de injúria, descrito no Artigo 140 Código Penal como “ofender a dignidade ou o decoro de alguém”.
A pena é de detenção, de um a seis meses, ou multa. No caso de injúria contra o presidente da República, a pena é aumentada em um terço.
Segundo a nota da SBPC-PE, Erika Suruagy está sendo injustamente investigada, uma vez que o outdoor foi uma iniciativa coletiva e não exclusivamente da professora. “Por entender que a iniciativa partiu de um coletivo, e não de uma única pessoa, e dentro da premissa de que numa democracia, o direito de expressão individual ou coletivo deve ser respeitado, assim como o deve ser a Constituição Federal brasileira, reiteramos nosso repúdio a todo e qualquer ato de intimidação”, diz a entidade.
O texto também condena o negacionismo do governo, que está mergulhando o país na mais grave crise sanitária da história.
“Considerando ainda, o número atual de mortes desta pandemia ultrapassando 279 mil, a SBPC-PE manifesta-se contrária às ações do negacionismo científico, a serem superadas nesta fase descontrolada da enorme crise sanitária que atinge o Brasil, e defende a vida e a livre expressão científica, cultural ou artística dos integrantes da comunidade universitária”, afirma a nota.
A professora também recebeu apoio da reitoria da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“A Reitoria da UFRJ lamenta e repudia o ataque à liberdade de expressão, garantida pela Constituição. Prestamos solidariedade à Erika Suruagy neste momento de tensão. Lembramos, ainda, que a universidade federal é instituição de Estado e, por isso, não é subserviente deste ou daquele governo, sendo portadora de autonomia didático-científica, conforme a Carta Magna afirma”, diz a reitoria da UFRJ em nota.
“A Reitoria da UFRJ se posiciona, inabalável, pela defesa da autonomia universitária, pela liberdade de cátedra, pelo pensamento e pela criação, que se encontram no ethos da universidade”, conclui.
A Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO) é outra entidade que divulgou nota em apoio à professora e à ADUFERPE.
“A professora Erika foi intimada a depor na Polícia Federal a partir de inquérito criminal aberto a pedido do presidente da república pelas críticas às ações do governo federal na ausência das medidas de controle da pandemia. Entendemos que esse ato evidencia censura e mais uma violação de diretos humanos, traduzindo a total falência desse governo para salvar vidas num momento de crise tão grave”, afirma a ABRASCO em nota.
“Temos um governo autoritário que, além de não enfrentar a grave crise sanitária, despreza a vida e destrói políticas sociais, o que não cabe numa sociedade democrática. Reiteramos aqui todo nosso apoio ao coletivo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), às professoras das Universidades Brasileiras e aos movimentos que defendem a vida acima de qualquer outro valor”, prossegue.
A professora Erika Suruagy recebeu ainda apoio dos movimentos sociais.
Leia a nota na íntegra:
NOTA DE SOLIDARIEDADE DOS MOVIMENTOS SOCIAIS À PROFESSORA ERIKA SURUAGY
Nós que fazemos parte da União Brasileira de Mulheres, Confederação das Mulheres do Brasil, União da Juventude Socialista, União de Negros pela Igualdade, União Nacional LGBT e Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil viemos, por meio desta nota, prestar solidariedade à Professora Erika Suruagy, que recebeu recentemente uma intimação para depor em um inquérito criminal que apura os outdoors com críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro.
Vivemos em um período no Brasil onde a fome, o desemprego, a doença é uma realidade da grande maioria dos trabalhadores e Trabalhadoras do país, o menosprezo a vida e a liberdade fazem parte da ordem do dia do desgoverno Bolsonaro, diariamente milhares de pessoas vítimas de uma doença que se encontra fora de controle no Brasil, o COVID 19, destruindo vidas, famílias e sonhos.
O direito a se manifestar não pode ser roubado, manifestações públicas que denunciam as atrocidades do governo Bolsonaro é a maneira democrática que os movimentos sociais encontraram de colocar sua opinião nas ruas.
É inadmissível a perseguição que a professora Erika está vivendo! O caráter de censura que este inquérito carrega fere a liberdade humana de manifestação. Nós prestamos toda nossa solidariedade a professora Érika Suruagy e a ADUFERPE, nos colocamos a disposição de ambos e reafirmamos que nada irá nos calar.
Ditadura Nunca Mais!