Segundo os dados do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), que analisa a média móvel de mortes pela Covid-19, o estado de Goiás, no centro-oeste, registrou a maior média do país na última semana.
A média móvel é a variação da média dos últimos sete dias em relação à média de duas semanas atrás. Goiás saltou da média de 31 mortes para 125. O estado já ultrapassou mais de 440 mil casos da doença.
O aumento na média goiana é de 210%, enquanto Sergipe, que ocupa a segunda posição, está com 122%.
Para tentar controlar a disseminação do coronavírus em Goiás, o governo estadual retomou o fechamento escalonado do comércio não essencial de 14 em 14 dias. As medidas começaram a valer na quarta-feira (17), mas não foram acatadas por todos os municípios.
Um estudo divulgado nesta quarta-feira pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) coloca Goiás na quarta posição dos estados que têm a maior taxa de ocupação de leitos de UTIs do país, com 97% de toda a rede pública ocupada por pacientes com Covid-19. O estado perde apenas para o Rio Grande do Sul (100%), Santa Catarina (99%) e Rondônia (98%).
Na visão dos pesquisadores que realizaram o estudo, trata-se do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil.
CALAMIDADE
A situação da Covid-19 no Entorno do Distrito Federal segue alarmante. Até a tarde de ontem, segundo dados da Secretaria de Saúde de Goiás (SES-GO), das 18 regiões consideradas, 17 estavam em situação de calamidade, e uma em alerta crítico.
No Entorno Sul, formado por Águas Lindas, Cidade Ocidental, Cristalina, Luziânia, Novo Gama, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso, a taxa de transmissão do vírus está em 1,69, sendo que a cada 100 pessoas podem contaminar, em média, outras 169. Além disso, a mortalidade por Covid-19 nessa área aumentou 19,23%, e a ocupação de leitos em UTIs públicas e privadas para pacientes com a doença chegou a 99,67%.
No Hospital de Campanha de Luziânia não havia vagas disponíveis para tratamento da doença. Temendo o agravamento da situação, os prefeitos de Águas Lindas, Cidade Ocidental, Luziânia, Valparaíso e do Novo Gama resolveram aderir ao lockdown estadual.
Algumas delas adotaram as medidas restritivas na semana passada, com validade inicial até 30 de março. As demais começaram a seguir novas normas na segunda (22).
Nesta terça-feira (23), a cidade de Águas Lindas de Goiás ficou sem estoque de oxigênio para atender pacientes com covid-19 internados na cidade. Diante da situação, o prefeito Dr. Lucas pediu ajuda ao governador Ibaneis Rocha (MDB).
https://218d3d18b9e0f9dadaa02d63b6e187bb.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-37/html/container.html Segundo o secretário de Saúde do DF, Osnei Okumoto, a capital federal encaminhou cilindros de oxigênio para o município sem afetar o estoque do DF. “Temos 18 mil metros cúbicos envasados contratados e usamos cerca de 3 mil, isso não estará interferindo no nosso estoque de oxigênio”, afirmou, durante coletiva na tarde desta terça-feira (23), no Palácio do Buriti.
Segundo uma das empresas que atendem a Secretaria de Saúde, o consumo de oxigênio na capital federal aumentou 19% em comparação com os sete dias anteriores.
Sem recursos federais, estado fechou hospital de campanha
Em setembro de 2020, o governo de Goiás pediu duas vezes para que o hospital de campanha construído no estado pela gestão Jair Bolsonaro fosse mantido até o final do ano, mas foi refutado. O espaço com 200 leitos fechou em outubro.
A afirmação veio em resposta ao ofício da Procuradoria-Geral da República (PGR) para que os governadores expliquem o motivo do fechamento dos hospitais de campanha. Os oito levantados pelo estado permanecem abertos.
O governo goiano relata que os pedidos foram feitos por meio de ofício no começo de setembro de 2020 e depois presencialmente, no dia 18 do mesmo mês.
“Com efeito, em 22/10/2020 o Hospital de Campanha de Águas Lindas de Goiás foi desativado, o que se deu, como demonstrado, por decisão do Ministério da Saúde”, diz o documento enviado pelo governo do estado à PGR.
CHACOTA
A Universidade Federal de Goiás (UFG) apontava para o agravamento da crise caso medidas de restrições não fossem tomadas, ainda no início da pandemia, há um ano. Naquele estudo de abril passado, os pesquisadores disseram que os dados mostravam que as mortes chegariam a 8 mil no estado.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), recordou em uma entrevista concedida nesta semana que o estudo foi motivo de chacota à época.
“A UFG disse que chegaríamos a 8 mil mortos e fomos ironizados. Transformaram aquilo em chacota. Falaram que isso nunca iria acontecer. Está aí, chegamos a quase 10 mil óbitos”, destacou Caiado.
Segundo os pesquisadores, as medidas adotadas no primeiro semestre do ano passado ajudaram a frear o contágio, mas um relaxamento no final de 2020 criou um cenário imprevisível. Com a circulação de novas variantes do vírus, principalmente da cepa brasileira identificada pela primeira vez em Manaus, os especialistas não conseguem mais fazer previsões.
“É uma situação bem diferente do que vimos no ano passado. É difícil de pensar em fazer novos modelos de projeções. O que a gente tem feito a partir de agosto é tentar monitorar e acompanhar os dados da forma mais rápida possível”, explicou o pesquisador da UFG José Alexandre Filizola.