O bolsonarismo negacionista, definitivamente, não tem limites na revelação de suas crenças mais obscurantistas. Muito menos pudor em exibi-las publicamente.
Hoje (24), durante sessão do Senado Federal dedicada à discussão de soluções para a promoção das vacinas no país, o assessor chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais, Filipe Martins, fez um gesto típico dos supremacistas brancos.
Alguns consideraram um ato de desrespeito aos parlamentares, mas o sinal emitido pelo assessor de Bolsonaro é claro e está associado ao movimento racista originário nos Estados Unidos e replicado aqui pelos que seguem doentiamente o negacionismo do atual presidente e seu guru ideológico da Virgínia, Olavo de Carvalho.
Aliás, na área internacional, a começar pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, um ponto absolutamente fora da curva na diplomacia brasileira – marcada historicamente por uma política externa independente e de respeito ao princípio da autodeterminação dos povos e nações, desde os tempos de Oswaldo Aranha, ministro de Getúlio Vargas, o governo Bolsonaro está povoado de nulidades excêntricas alinhadas ao terraplanismo que se reproduz nas diversas áreas do governo, notadamente – e o que é mais grave, no momento, na condução de uma pandemia que já ceifou a vida de mais de 300 mil brasileiros.
Filipe Martins não se conteve e deixou escapar o que representa a essência do governo Bolsonaro: a ojeriza a tudo e a todos que têm algum compromisso com o povo e a nação. E mais: o racismo, o preconceito e a absoluta incapacidade de conviver com os diferentes, algo típico da tirania.
O gesto, emitido ao lado de Rodrigo Pacheco, representou um desrespeito ao presidente do Senado, aos seus integrantes e àquela Casa de leis, repudiado, de pronto, pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP): “Isso é inaceitável e intolerável”.
“Essa sessão não tem condição alguma de ter continuidade. Não existem mais limites a serem ultrapassados por esse governo”, complementou.
Como bem resgatou o site O Antagonista, o sinal externado por Martins está associado a supremacistas brancos e significa White Power.
Trata-se de uma manifestação racista que não encontra guarida na Constituição Federal, muito menos nas leis do país, devendo ser objeto de condenação, inclusive pelos instrumentos da Justiça.
Aliás, o presidente do Senado instaurou inquérito para apurar o sinal odioso que, ao contrário de uma obscenidade, representou o âmago do governo Bolsonaro, sua substância e verdadeira essência, hoje, responsável pela tragédia vivida pelo Brasil e os brasileiros.
Ao deparar-me com o vídeo em que o assessor bolsonarista emite o gesto, lembrei-me de um livro dos tempos ainda de faculdade, O Corpo Fala, de Pierre Weil e Roland Rompakow, um esforço teórico para desvendar a comunicação não-verbal do corpo humano que, através de gestos e atos corporais, muitas vezes estilizados, expressam sentimentos, concepções ou posicionamentos internos.
O gesto de Martins falou mais do que um discurso inteiro. Falou por uma “ideologia” então submersa nos esgotos da sociedade e que voltou à cena quando um dos seus representantes, por um acidente da política brasileira, ocupou a suprema magistratura do país, para nosso infortúnio, durante a mais grave crise sanitária da história.
Do outro lado, são cada vez mais sonoros e evidentes os sinais emitidos pela população exaurida em suas forças e condições físicas e mentais, por múltiplas organizações sociais e pelos outros poderes da República apontando para a urgente necessidade – e possibilidade – desses excrementos sociais retornarem, celeremente, pelos mesmos bueiros, aos mesmos locais de onde nunca deveriam ter saído, pelo que representam de afronta e negação ao Brasil, sua história e suas conquistas civilizacionais.
MARCO CAMPANELLA