“Precisam parar com essa sacanagem de a toda hora ficar metendo a mão no bolso do trabalhador”, afirma Adilson Araújo sobre a decisão do ministro de transferir apenas para janeiro de 2022 o pagamento do benefício do Abono Salarial
Depois de suspender por quatro meses em plena expansão catastrófica da pandemia, Guedes impôs o adiamento, de julho deste ano para janeiro de 2022, do início do pagamento do Abono Salarial – um salário mínimo que todo trabalhador que ganha até dois mínimos tem direito, condicionando a renovação do Benefício Emergencial de Preservação de Emprego e Renda (BEm) à postergação daquele benefício.
A reunião de emergência do CODEFAT, fundo gestor do Fundo de Amparo ao Trabalhador, responsável pelo Seguro Desemprego e pelo Abono Salarial, foi realizada na noite de terça-feira. Trabalhadores e empresários aprovaram o adiamento em defesa da preservação dos empregos e salários, com a anuência do Palácio do Planalto que “acenou” com a ampliação para quatro e oito anos de estabilidade prevista no programa.
A MP 936, que criou o Programa de Benefício Emergencial, em 2020, garante contrapartida proporcional de até 1800,00 para a suspensão dos contratos e redução da jornada de trabalho. A medida permitiu a concretização de 20 milhões de acordos, tirando da guilhotina o emprego de 10 milhões de trabalhadores, livrando da falência um milhão e meio de micros, pequenas e médias empresas, e garantindo a estabilidade por igual período depois do término do acordo. Custo R$ 32 bilhões. Os números foram apresentados pelo Ministério da Economia.
Adilson Araújo, presidente da CTB, em declaração ao HP, considerou que “em 2020, fruto da pressão das Centrais, alcançamos um diálogo com o Congresso, que polarizou com o Palácio do Planalto a necessidade de garantir um auxílio emergencial diferente do que queria o Guedes. Conseguimos quebrar o ranço do governo que não queria dar nada, assim como também conquistamos o estado de calamidade e o orçamento de guerra”, afirmou.
A proposta de Bolsonaro, em 2020, rejeitada pelo Congresso, não tinha contrapartida do Tesouro. Na prática, é o que Guedes tenta repetir agora, primeiro, propondo que a contrapartida fosse paga pelos recursos destinados ao Seguro-desemprego. Depois, adiando de julho para janeiro o pagamento do Abono Salarial, jogando nas costas do trabalhador a redução de seu próprio salário. Segundo, “são as maldades geradas no laboratório do ódio”.
Empresários
Empresários do Instituto Para o Desenvolvimento do Varejo (IDV), que estiveram reunidos em São Paulo com os presidentes da Câmara Federal, Arthur Lira, e do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, apoiaram a reedição do programa de emprego e renda.
Em nota, o presidente do IDV, Marcelo Silva, declarou que a MP precisa ser editada logo para evitar demissões. Flávio Rocha, dono da Riachuelo, declarou a O GLOBO que é preciso que o governo reedite a MP 936 e os sindicatos de trabalhadores homologuem logo, sob o risco de termos “uma onda de demissões devastadora”.
Trabalhadores
Na semana passada, as Centrais Sindicais assinaram nota no mesmo sentido: “Diante do agravamento da pandemia, se faz urgente recriar o benefício aos trabalhadores com objetivo de evitar uma nova onda de demissões”, argumentaram.
Segundo Adilson, “as dificuldades dessa ocasião, nos exigiram uma certa construção para garantir e salvaguardar a manutenção do BEm, o programa de proteção ao emprego. Mas nós precisamos resistir, vamos ter que radicalizar de forma consequente. Essa conta não pode ser jogada nas costas do trabalhador de forma alguma.
O dirigente considerou que “esse governo é célere em atender os banqueiros e o capital estrangeiro, mas hostil para com o povo brasileiro’. É um governo negacionista, no que resultou na tragédia de 300 mil mortos”. E completou, lembrando as iniciativas de outros países de apoio aos trabalhadores: “O Congresso norte-americano aprovou 1,9 trilhão de dólares em investimento público para infraestrutura, tecnologia e a metade para auxílio desemprego e auxílio emergencial para as famílias e no mesmo sentido, vimos o Reino Unido liberar 6,5 milhões de Libras”.
Sobre essas experiências, concluiu afirmando que “o Brasil deve seguir neste caminho. Precisam parar com essa sacanagem de a toda hora ficar metendo a mão no bolso do trabalhador”.
CARLOS PEREIRA