A estranheza e descrédito que sentimos todas as vezes que, nos últimos meses, vemos o ministro da Economia Paulo Guedes comemorar o crescimento de empregos com carteira assinada no país, em plena pandemia, com economia em crise profunda e até a fome se alastrando nos lares brasileiros, não é à toa.
É para estranhar mesmo, porque os números não batem com a realidade e não são reais, mas sim uma escamoteação do governo Bolsonaro, tão afeito à fake news, para enganar os incautos e fazer parecer que a economia vai muito bem.
Isso porque as informações usadas pelo Governo Federal para alardear crescimento recordes de empregos são dadas como baseadas no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), só que a maioria das pessoas não atinou para as mudanças ocorridas nesse sistema, que passou inclusive a ser nomeado como “Novo Caged”, que mascara a realidade, e pode ser visto como uma grande fraude.
Conforme criado na década de 60, o Caged registrava todas as admissões e demissões de todos os trabalhadores sob o regime da CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Já em 2017, com a Reforma Trabalhista do governo Michel Temer, em 2017, a coleta de dados pelo Caged instituiu as primeiras mudanças, incluindo nos números de empregados os trabalhadores em regime intermitente, trabalho parcial e teletrabalho.
Em 2020, os dados passaram a ser mais abrangentes, conforme denunciou matéria do Uol, incluindo trabalhadores temporários e, agora, os trabalhadores desligados por acordo com o empregador, entre outros segmentos, fazendo com que o “emprego recorde” divulgado pelo governo esteja longe de refletir o real número de trabalhadores, de fato, empregados com carteira assinada.
De acordo com levantamento do Uol, “a partir de janeiro de 2020, a divulgação dos dados de emprego divulgados pelo governo, batizado de Novo Caged, “passou a incluir informações de três sistemas: Caged, eSocial e Empregador Web (onde se registram os pedidos de seguro-desemprego)”.
No eSocial, por exemplo, são registrados trabalhadores que incluem bolsistas, temporários, trabalhadores autônomos, agentes públicos e até dirigentes sindicais, ou seja, relações de trabalho que nada tem a ver com os empregos formais baseados na CLT e registrados em Carteira de Trabalho.
“Embora a mudança de metodologia seja informada nas notas técnicas do Ministério da Economia, ela é omitida em publicações oficiais e em discursos do alto escalão —levando a crer que há recordes e que são fruto apenas de medidas tomadas pelo atual governo”, afirma o jornalista Filipe Andrade, na matéria do Uol.