No auge da pandemia e sem o auxílio emergencial, o percentual de famílias que relataram ter dívidas subiu para 67,3% em março, apontam os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Assim, o endividamento das famílias brasileiras encerrou o primeiro trimestre de 2021 no maior nível, em seis meses.
Ao comentar os dados divulgados pela pesquisa, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, alertou que o agravamento da pandemia pode representar uma piora nesse índice ao longo do ano.
“Com auxílio emergencial no ano passado e as rápidas adaptações das empresas, as famílias ainda conseguiram se equilibrar minimamente e estão controlando seu orçamento no que é possível. Mas a imunização coletiva precisa avançar logo, senão essa balança doméstica vai ficar cada vez mais insustentável, podendo aumentar a inadimplência”, avaliou Tadros.
Entre as dívidas estão: cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa.
Segundo a economista da CNC, Izis Ferreira, responsável pela pesquisa, “a atividade econômica deve ter desempenho negativo no primeiro trimestre do ano, com o agravamento da pandemia e atrasos no calendário de vacinação, que aumentaram as incertezas sobre as medidas de auxílio, e a evolução do mercado de trabalho influenciou decisões de consumo e investimentos, além das expectativas para o curto prazo”.
A situação é agravada pelo aumento na taxa básica de juros (Selic) pelo Banco Central com sérios efeitos sobre a economia, o que provocará aumento nos preços e nos juros ao consumidor, já bastante endividada, “embora o crédito possa funcionar como ferramenta de recomposição da renda nessa conjuntura desfavorável”, como diz a economista da CNC. O aumento dos juros, se por um lado inibe o endividamento e os gastos, por outro lado, compromete ainda mais a renda do trabalhador com as taxas extorsivas.
Dentre os tipos de dívidas apurados, o cartão de crédito seguiu como principal modalidade de dívida, sendo apontado por 80,3% dos entrevistados. “O cartão é o meio de pagamento que cobra a maior taxa de juros e é a causa número um do endividamento do brasileiro”, afirma o pesquisador da Proteste e especialista de crédito Rodrigo Alexandre. Em fevereiro a taxa de juro do cartão ultrapassava 350% ao ano, segundo o Banco Central.
INADIMPLÊNCIA
De acordo com a CNC, a parcela das famílias que declararam não ter condições de pagar suas contas ou dívidas em atraso – e que, portanto, permanecerão inadimplentes – ficou em 10,5%, igual ao de fevereiro, mas de 0,3 ponto percentual acima do registrado em março do ano passado. Já o percentual de famílias com dívidas ou contas em atraso caiu ligeiramente, de 24,5% para 24,4%, em março.
A alta no endividamento das famílias em março foi de 0,6 ponto percentual, em relação a fevereiro de 2021, e de 1,1 ponto em relação a março de 2020. Este é o quarto aumento seguido registrado pelo indicador Peic, e a segunda maior proporção histórica, abaixo apenas do percentual apurado em agosto de 2020 (67,5%).