Em vídeo, divulgado no último fim de semana, o ex-senador e ex-governador do Paraná divulga carta que enviou ao ex-presidente se dizendo espantado com sua proposta de privatização da Caixa Econômica Federal
O ex-senador Roberto Requião (MDB-PR) publicou, no último fim de semana , em suas redes sociais, um vídeo onde torna pública a carta enviada por ele ao ex-presidente Lula e à presidência nacional do PT com críticas às propostas defendidas pelo ex-presidente de privatização da Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, entre outras medidas constantes no programa petista.
Ele disse que, com alguns amigos, fez uma análise do programa de 210 páginas, publicado pelo PT. “Eu percebi que havia uma ênfase bem semelhante às propostas do Meirelles, do Marcos Lisboa ou mesmo do Guedes. Tudo centrado na estabilidade macroeconômica”, afirmou Requião, destacando que fez a crítica ao programa e enviou para Lula e à presidência do PT.
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“Assisti ao programa do Lula na Band e, quando eu o vi propondo e dizendo que podia transformar a Caixa Econômica, que é a única empresa inteiramente pública no Brasil, eu me assustei e lembrei que no início do PT no governo o Banco do Brasil tinha 5,7% de ações privadas na sua composição de acionistas, mas, durante os nossos governos isso foi para praticamente 50%, o que significa que não é um banco público mais, parece que existe uma fraçãozinha que dá maioria das ordinárias para o governo”, prosseguiu Requião.
Requião enfatizou que é necessário mostrar a crítica quando ela surge, “depois não adianta mais”. “É supreendente o caráter conservador do programa do PT. Contra tudo o que está acontecendo no mundo, ele tem como âncora explícita o equilíbrio macroeconômico, como se a igualdade entre receitas e despesas públicas fosse o ‘santo graal’ da economia política”, observou o ex-senador.
“Ao contrário do que estabelece essa visão”, prosseguiu Requião, “desequilíbrio macroeconômico é o padrão universal no mundo atual e receita keynesiana permanente das economias em recessão. Isso mais do que justifica pois, se a economia está em recessão, o desequilíbrio macroeconômico pelo lado do aumento das despesas públicas acima da receita, pode financiar a economia sem inflação até o esgotamento da capacidade ociosa. Enquanto houver demanda inferior à oferta”.
“É o que fazem, apenas para citar dois exemplos paradigmáticos, os EUA e a China”, apontou o emedebista. “Se agregarmos isso a um planejamento econômico estratégico, garantimos um horizonte de prosperidade no país”, salientou.
“Há uma péssima reflexão entre os economistas brasileiros relativamente ao período de grande prosperidade econômica dos anos 70. A chave da expansão foi o gasto público. O processo redundou em inflação porque os liberais retiraram os mecanismos de controle de preços, soltando as rédeas da inflação. O que se faz hoje com toda a clareza com o chamado teto orçamentário, filiado ao conceito do equilíbrio macroeconômico, leva o Brasil para além do suicídio em que já se encontra, para muito além”, advertiu Requião.
“A pergunta que se faz relativamente ao tema é a seguinte: por que, mesmo financistas e economistas de mercado resistem tanto ao déficit público mesmo numa situação de recessão? A explicação é simples. O déficit público joga dinheiro na economia, favorecendo o setor empresarial produtivo, mas contraria os interesses do sistema financeiro. Ele pressiona para baixo a taxa de juros, notadamente a taxa de juros de remuneração da dívida pública, por onde escoam bilhões de reais e dólares em favor dos banqueiros”, denunciou.
“Minha gente, nós erramos muito nesse período em que estivemos, eu, do velho MDB de guerra, mas apoiando o governo do PT. Teve a sensibilidade social do Lula incontestável, mas outra vez não. Outra vez política de Meirelles, Joaquim Levy, Nelson Barbosa não”, enfatizou o ex-senador e ex-governador do Paraná.
Ele perguntou se haveria outra vez uma frente ampla com o centrão. Mas, logo em seguida, corrigiu. “Não é com o centrão essa frente ampla. Como vocês estão verificando, é uma frente ampla com o mercado, com os interesses do capital financeiro”, apontou Requião.
Ele disse que essa linha que está no programa do PT busca”alguma política compensatória, mas para deixar tudo como está”. “Companheiro Lula, não é por aí. Espero que esse programa seja revisto e que venha de uma forma que realmente atenda aos interesses do Brasil. Não adianta mudar qualquer coisa para que tudo fique como está. Que os erros que cometemos sejam entendidos como experiência e que a nossa nova prática seja o critério da verdade”, propôs.
“Aliança com o povo brasileiro, com os interesses nacionais, com o nosso desenvolvimento econômico, a nossa soberania, com a nossa valorização tão fundamental do trabalho. Além disso, uma reforma no sistema de comunicação do país”, defendeu.
Requião finalizou o vídeo lembrando de sua trajetória e explicitando suas divergências. “Vocês sabem de que lado estou, de que lado tenho estado, mas não podia deixar, nesse momento em que fico espantado com a proposta de privatização da Caixa Econômica, de colocar estas ideias. É um texto que eu havia mandado só para a presidência do PT e para o Lula, mas torno agora pública sessa minha discordância, essa minha divergência”.
E concluiu: “conversa franca faz bons amigos, ou não”.