Faltou comida em mais da metade dos domicílios brasileiros durante a pandemia no ano passado, aponta levantamento da pesquisa Olhe para a Fome, divulgada pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar esta semana.
De acordo com as informações colhidas na reta final do primeiro ano da pandemia, 55,2% ou 116,2 milhões de pessoas viviam algum grau de insegurança alimentar. O conceito de insegurança foi medido em três diferentes graus: leve, quando há preocupações futuras com a renda que comprometem a qualidade da alimentação; moderada, quando a família passa viver com restrições de alimentos; e grave, quando há privação e fome.
De acordo com a pesquisa, o número de brasileiros em situação grave de insegurança, ou seja, passando fome, chegou a 19 milhões no ano passado – 9% dos que viviam algum grau de dificuldade para se alimentar. Os maiores índices de fome foram encontrados nas regiões Norte (18,1%) e Nordeste (13,8%).
O período de coleta das informações, em dezembro, coincidiu com a redução do pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 para R$ 300, o que certamente impactou nos níveis de insegurança alimentar.
“Era previsível que a comida, tanto sua disponibilidade como o acesso a ela, viesse a ocupar o centro das preocupações e urgências no contexto de pandemia pela qual estamos passando”, disse, em nota oficial, Renato Maluf, coordenador da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.
Segundo o estudo, o auxílio emergencial ajudou a evitar um cenário pior no país. As cinco parcelas de R$ 600, pagas por iniciativa do Congresso Nacional após tentativas de sabotagem do governo federal, contribuíram para a subsistência de quase 68 milhões de pessoas durante o período crítico de isolamento e falta de trabalho.
O estudo não tem dados antecedentes, mas os pesquisadores afirmam que a sua redução para R$ 300 entre setembro e dezembro e seu encerramento no final do ano com certeza contribuíram para o aumento da fome.
“Com a diminuição do auxílio emergencial e a falta de clareza sobre quem irá, de fato, recebê-lo, o país deve persistir num grave quadro de insegurança alimentar. A forma com que os governos vêm lidando com as crises econômica e política dos últimos anos, sobreposta à pandemia da Covid-19, geraram impactos negativos profundos no direito humano à alimentação adequada e saudável do povo brasileiro”, afirmou em nota oficial Ana Maria Segall, pesquisadora da rede.
Após muita pressão e o crescimento dos índices de rejeição de Bolsonaro, uma nova versão do auxílio emergencial começou a ser paga nesta terça-feira (6) a 45,6 milhões de brasileiros. As parcelas variam entre R$ 150 e R$ 375 – valor muito distante de garantir, ao menos, uma cesta básica, hoje estimada em torno de R$ 600,00.
—