
Segundo um dos participantes do jantar que alguns empresários tiveram com Bolsonaro na última quarta-feira (08/04), foram evitadas questões espinhosas – isto é, todas aquelas que constam do manifesto, assinado por quase dois mil banqueiros, empresários e executivos, na segunda quinzena de março (v. HP 26/03/2021, Manifesto da elite econômica já tem 1.700 apoios).
Assim, disse o participante, omitidas essas questões – ou seja, o desastre de Bolsonaro na pandemia e o desastre de Bolsonaro na economia – “foi uma conversa boa, eu gostei, me deu tranquilidade”, porque ninguém questionou nem o “viés ideológico” nem as “ações” de Bolsonaro: “foi uma conversa de alinhamento, não de confusão”.
De onde se conclui que, desde que se omita a hecatombe a que Bolsonaro levou o Brasil, ele é um ótimo presidente. As declarações foram de Rubens Menin Teixeira de Souza, dono da MRV Engenharia e do canal local da CNN.
O jantar foi em São Paulo, em uma mansão dos Jardins. Os principais empresários presentes foram Rubens Ometto, da Cosan; Luiz Carlos Trabuco Cappi, do Bradesco; o indefectível André Esteves, do BTG Pactual, que fez a mesma coisa que fazia nos governos do PT – foi um dos oradores do jantar para Bolsonaro; e o banqueiro David Safra.
Os outros, inclusive o dono da casa, dono de uma empresa de segurança, não eram expoentes do empresariado ou das finanças.
Os oradores – Ometto, Esteves, Alberto Saraiva (dono da rede de lanchonetes Habib’s) e Claudio Lottenberg (presidente do Hospital Albert Einstein) – evitaram qualquer crítica a Bolsonaro.
Mas o único que manifestou seu apoio ao modo do entorno do próprio Bolsonaro, foi o dono da casa, também dono da empresa de segurança Gocil, Washington Cinel: “estamos com o senhor. O Brasil não volta para ladrão e vagabundo”.
Cinel não tentou explicar qual o seu critério para garantir a honestidade e o amor ao trabalho de Bolsonaro e trupe. Nem poderia – mas não deixa de ser uma grande falha para quem é dono de uma empresa cuja função é vigiar e guardar os valores de outras pessoas.
A maior parte dos que compareceram não estava entre os signatários do manifesto da elite econômica que citamos acima.
Quanto a Bolsonaro, em seu discurso, atacou Estados e municípios pelo combate que estes travam contra a Covid-19 e defendeu as aglomerações em cultos neopentecostais para recolhimento do dízimo (v. HP 07/04/2021, O que está em jogo é a ameaça à vida e não a liberdade religiosa, diz Roberto Freire).
Em suma, atacou o próprio combate real à pandemia.
Entretanto, mesmo nesse meio, foi aplaudido quando disse que ia acelerar a vacinação contra a Covid-19 – exatamente o que ele não está fazendo, e, pelo contrário, está obstruindo.
Bolsonaro, portanto, atacou o que de verdadeiro está se fazendo – inclusive a vacinação, que faz parte, também, da ação de Estados e municípios – para acenar com uma falsa adesão às vacinas. Por essa impostura, foi, disse um conviva, “ovacionado”.
Fora isso, exibiu a elegância de sempre:
“Tem de olhar o lado bom do país. Podem me dar porrada à vontade. Falam mal de tudo o que eu faço. A única coisa que a imprensa ainda não disse de mim é que sou boiola”.
E, sobre a permanência do incompetente e irresponsável que levou a economia à atual catástrofe:
“Se o Paulo Guedes deixar o governo, vou pedir uma pensão, porque nossa relação já é de uma união estável”.
C.L.