José Roselino é professor do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal de São Carlos
“A emergência da China como uma potência industrial e tecnológica é o fenômeno mais importante da economia global desde os anos 2.000”, afirmou o professor José Roselino, da Universidade Federal de São Carlos, ao programa Sala de Visita, apresentado por Isabel Xiaomiao, na Rádio China Internacional, em Beijing.
Autor de artigo publicado no jornal Valor Econômico e escrito em parceria com o professor Antonio Carlos Diegues (Unicamp), Roselino sublinhou que “o atual estágio da disputa tecnológica EUA-China demonstra o sucesso que a China teve”.
“A gente mapeou as diversas tecnologias envolvidas no que se chama indústria 4.0 e é impressionante a capacidade da China de fazer esse – a gente usa o termo – emparelhamento” com as principais potências ocidentais, assinalou.
“Nesses 40/50 anos, a China construiu uma base industrial, pode construir tudo, é a fábrica do mundo?”, inquiriu Xiaomiao.
“As reformas econômicas a partir de Deng Xiaoping foram muito bem sucedidas em se aproveitar do movimento de globalização – em que as grandes corporações globais buscavam transferir elos de suas cadeias produtivas para outros lugares do mundo -, a China foi muito eficiente em atrair esses elos produtivos, mas não apenas isso”.
“Foi capaz de, a partir dessa estratégia, fazer um desenvolvimento interno, o aprendizado tecnológico com base em políticas industriais voltadas ao longo prazo, como se expressa nos planos quinquenais, inclusive no mais recente, o 14º”.
“Nenhum país do mundo conseguiu ampliar tanto o poder de compra das famílias quanto a China”, acrescentou.
“Isso significa um projeto singular: melhora as condições socioeconômicas, há as metas que foram cumpridas agora de erradicação da pobreza extrema; reforça o mercado interno, a China está cada vez mais produzindo para o mercado interno, que é muito forte e que cresce à medida que cresce o poder de compra das pessoas; amplia serviços sociais e empreende uma estratégia bastante coerente de reduzir a dependência, sobretudo nos semicondutores”. Área em que os EUA tentam bloquear o desenvolvimento chinês, sem conseguir.
Roselino apontou, ainda, como a China foi capaz de encontrar soluções inovadoras sobre como usar a tecnologia para melhorar os serviços oferecidos aos cidadãos, conectar áreas menos sofisticadas com os centros urbanos mais dinâmicos, propiciar novos caminhos para gerar renda – pondo em prática, como salientou Xiaomiao, “a tecnologia se tornando um bem público”.
O pesquisador também enfatizou como a China se utilizou dessas tecnologias de uma forma “bastante eficiente”, “extraordinária” até, “no controle da pandemia do coronavírus” – permitindo “rastrear a transmissão do vírus, controlar a difusão da doença, de uma forma que é exemplar”.