“A mobilização dos prefeitos é crucial dado o histórico da gestão da crise pelo Governo Federal”, disse a Secretária de Relações Internacionais de SP, em entrevista ao HP. Marta informou que já está em contato, através do consórcio, com a ONU, a OMC, a OMS e com as empresas farmacêuticas
A Secretária de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, a ex-prefeita e ex-senadora Marta Suplicy, destacou, nesta sexta-feira (9), em entrevista ao HP, que “é nos municípios que essencialmente se faz o combate à Covid-19”. Ela falou sobrea pandemia e reforçou a importância da participação da maior cidade do Brasil no consórcio “Conectar”, que reúne 1.890 municípios com mais de 80 mil habitantes, para a aquisição de vacinas e insumos na luta contra a Covid-19.
“Em São Paulo, por exemplo”, destacou a secretária, “vacinamos, cerca de 150 mil pessoas ao dia, ainda que pudéssemos vacinar quatro vezes mais, com acesso aos insumos necessários”. “A municipalização da política sanitária é inevitável e indispensável. O ‘Conectar’ é expressão dessa necessidade”, explicou. Marta, que tem uma vasta experiência política, parlamentar e administrativa, foi indicada pelo prefeito Bruno Covas para liderar as articulações internacionais na busca de mais vacinas e insumos para que SP possa enfrentar com sucesso a trágica pandemia da Covid-19.
Acompanhe a entrevista na íntegra.
HORA DO POVO: A senhora foi encarregada pelo prefeito Bruno Covas de representá-lo no consórcio de saúde Conectar, que reúne mais de 1.890 municípios brasileiros com mais de 80 mil habitantes. Como vê a importância desta iniciativa dos prefeitos neste momento grave da pandemia de Covid-19?
MARTA SUPLICY: Estamos no pior momento dessa crise que já dura mais de ano. Atualmente, o número de mortes tem aumentado progressivamente, enquanto a quantidade de vacinas cai de forma acentuada. É nos municípios que essencialmente se faz o combate à Covid-19 e, por isso, essa iniciativa é tão importante. Além disso, a mobilização dos prefeitos é crucial dado o histórico da gestão da crise pelo Governo Federal. Em São Paulo, por exemplo, vacinamos, cerca de 150 mil pessoas ao dia, ainda que pudéssemos vacinar quatro vezes mais, com acesso aos insumos necessários. A municipalização da política sanitária é inevitável e indispensável. O CONECTAR é expressão dessa necessidade.
“A municipalização da política sanitária é inevitável e indispensável”
HORA DO POVO: Marta, você tornou-se se a responsável pelas articulações no exterior para a obtenção de mais vacinas e insumos para a cidade de São Paulo. Como pretende cumprir essa missão já que a aquisição de mais vacinas passou a ser o maior anseio da população paulistana e brasileira?
MARTA SUPLICY: Nós colocamos em prática um Plano de Ação Trilateral. Na frente multilateral, estamos em contato direto com os gabinetes da ONU, da OMC e da OMS, mantendo, no dia 8 de abril, uma reunião com a Dra. Socorro Gross, representante da OPAS no Brasil. Mantemos também contatos bilaterais, com os Estados Unidos, China, Índia e Rússia. Tivemos reuniões com nossos parceiros internacionais e comunicamo-nos, por exemplo, com a Vice-Presidência dos Estados Unidos, bem como com as presidências das comissões de exteriores das duas casas legislativas americanas. Finalmente, é essencial também o diálogo com as companhias farmacêuticas como a Pfizer e a AstraZeneca. Nosso objetivo é conseguir vacinas para salvar vidas.
“Nosso objetivo é conseguir vacinas para salvar vidas”
Nossos diálogos não levam em conta considerações políticas, por isso mantemos diversos canais de diálogo abertos. Pedimos apoio de nossos aliados para intercederem em seus governos e com as fornecedoras de vacinas em um esforço para despolitizar a compra de vacinas e parar o jogo político que agora domina a nova diplomacia da saúde. A cooperação e o multilateralismo são os melhores instrumentos para combater a pandemia.
HORA DO POVO: Há cerca de um mês o prefeito Bruno Covas anunciou a intenção de adquirir 5 milhões de doses da vacina da Jansen. Esta iniciativa já está incluída nos planos do Consórcio? É possível que o consórcio amplie esse número da imunizantes acertados com o laboratório americano?
MARTA SUPLICY: O Consórcio e o Brasil enfrentam um grande problema: a falta de insumos para a produção de vacinas e a indisponibilidade de compra de vacinas prontas para o uso. O CONECTAR está disposto a imediatamente adquirir 20 milhões de doses de vacina. Nossa intenção é conseguir essas doses tanto por meio de aquisição ou empréstimo, tão logo quanto seja possível efetuar essa compra.
“O CONECTAR está disposto a imediatamente adquirir 20 milhões de doses de vacina”
HORA DO POVO: Há uma grande demanda mundial por vacinas e insumos. São Paulo é uma cidade produtora de vacinas e de insumos, mas a pandemia está colocando capacidade produtiva aquém das necessidades. A senhora acha que terá sucesso na busca de ajuda em outros países para fazer frente a esse desafio?
MARTA SUPLICY: Atualmente, o mercado de vacinas está saturado com excesso de demanda e oferta que nem se aproxima do suficiente. Por isso, nossas conversas com diversos parceiros são tão importantes, para estarmos presentes nas mesas de negociação para garantir a vacinação no Brasil. Nosso país tornou-se o epicentro da pandemia e isso não pode ser ignorado pelos países detentores de vacina. Além disso, o Brasil alimenta o planeta. Com compradores internacionais hesitando em adquirir nossos produtos por receio que nossas exportações sejam vetor de contágio, a crise sanitária pode evoluir para uma crise alimentar mundial. A situação atual do país ameaça também a paz e a segurança regional, dado que nossos vizinhos têm muito contato com o Brasil e, em muitos casos, dependem dessa relação bilateral.
Estamos otimistas com a Butanvac, que poderá, no médio prazo, usada no Brasil ou vendida, a preços menores do que as atuais vacinas, para o mundo. Ao passo que a vacinação evolui em países como os EUA e a China, a perspectiva brasileira de um incremento de vacinação melhora, com uma eventual maior disponibilidade de vacinas, que podem ser adquiridas diretamente ou por meio da OMS e o Covax Facility.
HORA DO POVO: Como vê a atuação do governo federal nessas articulações internacionais por vacinas. Acha que ele poderá ajudar de alguma forma ou seguirá atrapalhando como tem feito até agora?
MARTA SUPLICY: Representamos cerca de 150 milhões de brasileiros que querem a vacina o quanto antes. A pandemia mostra seu custo em vidas. Sabemos que o Governo Federal recusou o recebimento de 40 milhões de doses de vacina, articulado pelo Covax Facility da OMS e da descoordenação dos esforços de vacinação. Apesar disso, estamos em contato com o Ministério da Saúde, o que é indispensável. Todas as vacinas que adquirirmos integrarão o Plano Nacional de Vacinação. O SUS tem um potencial extraordinário e continuará a desempenhar um papel admirável, contanto que se tenha as vacinas. Estamos tentando recuperar o tempo perdido e cooperação em todos os níveis da Administração Pública é essencial.
SÉRGIO CRUZ