Diante do conflito armado no Estado de Apure, com 17 mortos, 39 feridos e mais de quatro mil desalojados, o governo venezuelano decidiu solicitar à Organização das Nações Unidas (ONU) uma investigação para apurar a crescente presença de grupos paramilitares colombianos em território pátrio.
“Não queremos que [colombianos] desloquem sua violência para o nosso país”, afirmou o chanceler venezuelano Jorge Arreaza, frisando que também foi pedido ao Conselho de Segurança da ONU que “estabeleça um canal permanente” para dialogar sobre os assuntos fronteiriços.
Em relação à atuação de milicianos e narcotraficantes na fronteira com a Colômbia, Arreaza denunciou que, a partir do país vizinho, se busca “perturbar a estabilidade e a paz”, utilizando-se de grupos criminosos. Segundo Arreaza o intuito é a derrubada do presidente Nicolás Maduro.
Por outro lado, apontou, o governo nada tem feito contra a produção de drogas. “70% da cocaína que se consome no mundo é colombiana e 90% dessas drogas vai para jovens estadunidenses. Inclusive nas zonas onde há presença do Estado colombiano se cultiva a droga”, frisou.
Alheio ao assunto, o presidente colombiano, Iván Duque, se concentra em ampliar a militarização da região, anunciando em fevereiro a criação de um “Comando Especializado” para justificar o deslocamento de sete mil militares. O objetivo? “Acabar com qualquer forma transnacional de terrorismo”. Como se a causa do problema não residisse na ingerência norte-americana e nas condições de miserabilidade da população colombiana, empurrada à criminalidade.
O grupo de elite do “Comando Especializado” integra o orçamento do Plano Colômbia Cresce, assinado entre Bogotá e Washington, em agosto de 2020, que planeja investir U$ 5 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões) até 2023. Como se não bastasse, no dia 24 de março, o Executivo assegurou que reforçaria a presença do Exército no departamento fronteiriço de Arauca, com o envio de 1,3 mil soldados, região que abriga uma base militar dos Estados Unidos.
Para completar, no último dia 5, Duque se reuniu com o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, reiterando seu compromisso com manter uma “estreita cooperação” para o cumprimento do plano de intervenção. Os acordos em matéria de “defesa”, assinados entre os dois países, movimentaram cerca de US$ 10 bilhões nos últimos 15 anos.
AVIÕES MILITARES C-17
Conforme foi divulgado pela própria mídia colombiana, chegaram a aeroportos colombianos nos dias 30 e 31 de março quatro aviões de transporte estratégico Boeing C-17 ‘Globemaster III’ da Força Aérea dos Estados Unidos (USAF), um fato com poucos precedentes na história recente do país. As aeronaves aterrissaram nos aeroportos El Dorado, de Bogotá; José María Cordova, de Rionegro; Ernesto Cortissoz, de Barranquilla e no Comando Aéreo de Combate n°2 da Força Aérea Colombiana, situado em Apiay, Meta.
Os Globemaster III são aviões de transporte militar pesado de longo alcance, utilizados para o deslocamento de tropas estratégicas e missões táticas, como o de lançamento de paraquedistas, criando bases avançadas.
O Comando Aéreo de Transporte Militar Colombiano anunciou em sua página web que as “poderosas” aeronaves também transportaram quatro helicópteros da Polícia Nacional, que chegam ao país latino-americano após uma “manutenção maior” com o objetivo de “fortalecer a sua capacidade”.
“DETER A VIOLÊNCIA”
O secretário-general da ONU, António Guterres, ressaltou na quarta-feira (7) que “é urgente frear a violência na Colômbia”. A declaração foi feita ao apresentar seu informe trimestral sobre o cumprimento dos Acordos de Paz de 2016 entre o governo e as desmobilizadas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC).
Segundo Guterres, “continuam se cometendo crimes atrozes no país” contra ex-combatentes, ativistas humanitários e líderes sociais, diante do que conclamou, “uma vez mais, que todas as entidades do Estado se mobilizem decididamente para melhorar a prevenção, a proteção e a resposta” das ameaças ao processo de paz.
Somente entre os dias 28 de dezembro de 2020 e 26 de março de 2021 foram assassinados 14 ex-combatentes das FARC (13 homens e uma mulher), totalizando 262 homicídios desde a assinatura do Acordo Final, em novembro de 2016, aponta o informe da Missão de Verificação das Nações Unidas.