“Após o fechamento das atividades não essenciais por cinco dias, a ocupação de leitos e UTIs caiu para abaixo dos 50%. A média de casos diários passou de quase 140 no fim de fevereiro para pouco mais de 60 em meados de março”, informou o dirigente do PCdoB de Araraquara
As decisões tomadas pela prefeitura da cidade de Araraquara, no interior de São Paulo, para deter o avanço da pandemia de Covid-19, mostraram-se bastante eficazes, conforme dados divulgados pelas autoridades locais. “Houve uma queda importante no número de casos, de internações e de óbitos por Covid-19 após a decretação por cinco dias de todas as atividades não essenciais”, afirmou o presidente do PCdoB municipal, e membro da direção nacional do partido, Mauro Bianco, em entrevista ao HP.
Ele comemorou os resultados positivos que surgiram a partir das decisões duras que foram tomadas pela prefeitura contra o avanço impetuoso da pandemia na cidade. “Araraquara já estava desde o começo da pandemia fazendo uma quantidade grande de testes, muito acima da média nacional, graças a convênios com a UNESP e empresas privadas locais. Graças a isso a equipe da Secretaria de Saúde pode rapidamente perceber o crescimento do número de casos, e na sequência, de internações”, disse ele.
VARIANTE DE MANAUS ATINGIU A CIDADE
Bianco explicou que “essas internações logo se revelaram diferentes das anteriores, pela idade média mais baixa dos infectados e pela rapidez da evolução da doença”. “Tudo indicava o surgimento de uma variante mais contagiosa e mais letal, e que atingia também os mais jovens. A USP logo confirmou essa hipótese, identificando a chegada na cidade da variante P1, ou de Manaus”, apontou o dirigente político de Araraquara.
Ele disse que em poucos dias os leitos atingiram 100% de lotação, logo depois foram as UTIs. “Houve colapso também no Oxigênio. As mortes, normalmente de 2 a 3 por dia, subiram para 9. A prefeitura, mobilizando todas as forças ao seu alcance e recorrendo ao apoio do governo do estado aumentou o número de leitos e de UTIs, construiu duas novas usinas de oxigênio; agora faltava mão de obra qualificada para as novas UTIs”, prosseguiu.
“Foi nesse quadro”, acrescentou Mauro Bianco, “que o Prefeito, baseado nas recomendações do Comitê de Contingência local, decretou medidas muito mais severas de isolamento social, logo chamados de lockdow, que incluíram pela primeira vez o fechamento também dos supermercados, que só podiam atender por delivery, além da suspensão do transporte coletivo e barreiras nas ruas. Foram apenas 5 dias, sucedidos por um afrouxamento para a chamada fase vermelha”.
RESTRIÇÃO DE ATIVIDADES NÃO ESSENCIAIS
Com essas medidas, disse ele, “rapidamente a transmissão foi muito reduzida, antes do lockdown, de todos os testes feitos, mais de 50% vinham positivos, com o lockdown caíram para 17%”. “A ocupação de leitos e UTIs caiu para abaixo dos 50%, hoje sendo ocupados por pacientes de outras cidades na ordem de 65%. Tais medidas não teriam esse impacto positivo se a população não tivesse participado ativamente, reconhecendo a gravidade da situação e ficado em casa”.
O dirigente do PCdoB local destacou que “mesmo as entidades empresariais mais resistentes calaram-se, a maioria de suas diretorias apoiou as novas medidas”. Ele chamou a atenção para o fato de que todas as entidades populares e a maioria absoluta da Câmara de Vereadores apoiou. “A cidade ficou deserta. E foi uma derrota profunda para a banda, ou bando, negacionista local, que, inconformado mesmo com as medidas anteriores, vinham procurando causar tumultos e conflitos para propagandear as ideias genocidas de Bolsonaro”, observou Bianco.
Segundo Mauro, “encabeçados por elementos envolvidos nos processos do STF que apura a ação do Gabinete do Ódio, como os assessores do deputado estadual Douglas Garcia e do ministro Onix Lorenzoni, chegaram a realizar uma concentração com pessoas de diversas cidades para que parecesse uma manifestação pelo direito a espalhar a contaminação, com a abertura geral do comércio, em frente ao Tiro de Guerra, onde também clamavam pela volta da Ditadura Militar”.
MILÍCIAS DE BOLSONARO TENTARAM IMPEDIR MEDIDAS E EXEMPLO DE BAURU CAIU POR TERRA
“Foi a última”, disse ele. “Na semana seguinte apareceu apenas o carro de som. Engraçado que desde janeiro esse grupo vinha apresentando como exemplo de condução política e sanitária a prefeita de Bauru, a quem visitaram com grande pompa. Apresentavam a administração de Bauru, com seu negacionismo e inconsequência, como exemplo de como manter o comércio aberto era a saída para a crise econômica e que em nada afetava a pandemia”, lembrou.
“Bastou um olhar mais atento para ver que tudo não passava de mentiras. O comércio aberto, em qualquer cidade, não está resolvendo a crise econômica, pois as pessoas estão sem dinheiro, sem emprego, sem crédito. E a quantidade de casos de Covid19 diagnosticados por dia em Bauru é quase o triplo do que é visto em Araraquara. 180 em Bauru, com 379 mil habitantes, contra 60 em Araraquara com 238 mil. No número de mortos, a proporção é a mesma.
GRÁFICOS COM A COMPARAÇÕES ENTRE ARARAQUARA E BAURU
Mauro citou a reportagem da BBC que comparou as duas cidades. Os dados de casos diários de covid-19 confirmaram que Araraquara, que apostou em lockdown, teve queda de mais de 50% na média de novos casos diários, passando de quase 140 no fim de fevereiro para pouco mais de 60 em meados de março. No mesmo período, o número de casos em Bauru subiu.
BBC COMPAROU ARARAQUARA COM BAURU E A DIFERENÇA FOI GRITANTE
Em março, diz a reportagem da BBC, a quantidade de mortes — que geralmente demora mais a refletir medidas restritivas, devido ao tempo natural que a doença leva para se desenvolver nas pessoas — subiu em Bauru e caiu em Araraquara. Outro dado essencial para entender a situação da doença e a capacidade de atendimento das cidades é o número de internações. As informações sobre fevereiro e março mostram alta na média diária de internações em Bauru, que se aproximou de 130 na segunda quinzena de março.
Em Araraquara, segundo ainda a BBC, a média móvel de internações cresceu no início de fevereiro e, depois, se manteve relativamente estável. A prefeitura diz que os dados gerais de internação não refletem totalmente quedas em casos e óbitos no período porque, depois da desaceleração no ritmo de infecções locais, Araraquara passou a atender maior pacientes de fora do município.
Mauro criticou o comportamento dos bolsonaristas na cidade e deu alguns exemplos de seu desespero. “Importante registrar o isolamento da política bolsonarista, cujos representantes estão dando mostras de desespero. No último dia 4, a UNE e as entidades estudantis fizeram manifestações por todo país exigindo pão, vacina e educação, e colocaram milhares de outdoor em dezenas de cidades pelo país à fora. Colocaram um desses em Araraquara. Depois de frustradas as tentativas de organizar manifestações na frente do Outdoor, na calada da noite o serraram com moto-serra, levantando forte indignação na imprensa e no conjunto da sociedade”, contou.
“O desespero bolsonarista”, disse Mauro Bianco, “se concentra agora em negar o sucesso das medidas tomadas em Araraquara e o apoio e participação ativa da comunidade que garantiram seu sucesso. Incapazes agora de mobilizar, têm que se contentar em xingar na câmara de vereadores, dizer que os professores de história de maconheiros, como vimos na última sessão no discurso do bolsonarista Carlão do Jóia, do Patriotas local, e pagar carros som com mensagens apócrifas contra o isolamento social”. “Araraquara diz não ao genocídio!”, concluiu o dirigente local do PCdoB.