O presidente nacional do Cidadania23, Roberto Freire, enviou carta aberta ao presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, pedindo que a Ordem se integre na mobilização contra a insanidade do governo Bolsonaro.
“A hora é agora. Cabe à OAB assumir o seu papel histórico mais uma vez e, com base na fundamentação proposta por alguns dos mais renomados juristas do país, apresentar o 113º e derradeiro pedido de impeachment de Bolsonaro”, diz Roberto Freire na carta em que denuncia a catástrofe no país promovida por Bolsonaro.
“Não há Fiat Elba ou pedalada fiscal que se compare a essa tragédia social e humana fomentada pela ‘absoluta indiferença’ de Bolsonaro que transformou o Brasil na ‘República da Morte’”, diz o ex-ministro e ex-deputado federal.
Em entrevista ao Estadão, Felipe Santa Cruz faz um paralelo dos pedidos de impeachment assinados pela OAB – Fernando Collor, Dilma Rousseff e Michel Temer – e conclui que não é a hora do impeachment de Bolsonaro porque “não tem ninguém na rua, não tem manifestação” e destaca que a “pandemia é o assunto mais grave” para tratar no momento.
Segundo o presidente do Cidadania, “lá, nas redes sociais, onde o povo pode se reunir, a pressão é constante” pelo impeachment.
“A democracia brasileira clama agora pela liderança da OAB, que a história legitima de forma incontestável”, diz Roberto Freire na carta.
Leia o documento na íntegra:
Carta aberta a Felipe Santa Cruz
Prezado Felipe,
Vivemos num país que colapsou. A hora exige altivez, responsabilidade e ação.
Me permita, por gentileza, começar destacando marcos históricos bastante conhecidos.
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) teve papel fundamental nos dois processos de impeachment que o Brasil já enfrentou. Precisamos que a Ordem se apresente para o terceiro. Não há movimento de rua cobrando a queda de Jair Bolsonaro, como você bem já observou. E nem o contexto pandêmico permitiria mobilizações, como se diz hoje, orgânicas.
Quem prega a favor de aglomerações são os negacionistas e charlatões que trabalham afinados com o vírus e contra as vacinas e a vida. E, nessa guerra particular contra seus próprios cidadãos, o governo federal já concorreu para a morte de centenas de milhares, como atesta inclusive a comissão de juristas reunida por você e liderada pelo ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto.
O senhor já deu uma olhada nas ruas digitais? Lá, nas redes sociais, onde o povo pode se reunir, a pressão é constante. Somente neste ano, segundo a consultoria Arquimedes, superam 2 milhões as menções ao impeachment. No Twitter, são mais de 1,1 milhão de #foraBolsonaro, o termo #genocida aparece 5,5 milhões de vezes e a hashtag #impeachmentBolsonaroUrgente tem mais de 100 mil citações.
Números semelhantes foram observados no auge da pressão sobre Dilma Rousseff. Nas pesquisas de opinião, quase 60% da população já rejeitam o atual presidente.
Quantos não estariam nas ruas se a pandemia permitisse? Sabemos quem certamente não estará: os mais de 365 mil brasileiros mortos de Covid-19. Todos os dias, esse total aumenta em cerca de mais 3 mil mães, pais, filhas e netos. Não há Fiat Elba ou pedalada fiscal que se compare a essa tragédia social e humana fomentada pela “absoluta indiferença” de Bolsonaro que transformou o Brasil na “República da Morte”.
As palavras grifadas são do robusto, necessário e urgente documento entregue a você, que menciona, ainda, “sistemáticas ações e omissões” de um presidente que usou o coronavírus como arma biológica contra os brasileiros. Conforme levantamento da Agência Pública, no total, 1488 pessoas e mais de 500 organizações assinaram pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Há 106 deles aguardando análise.
No Congresso Nacional e fora dele, um grupo de nove partidos, entre eles o Cidadania, que tenho a honra de presidir, passou a atuar nesta semana de forma conjunta para “enfrentar a gravíssima crise brasileira”. Na visão deles, isso só será possível “com um combate efetivo à pandemia e a Jair Bolsonaro, responsável por transformá-la num verdadeiro genocídio”.
Não é possível mais esperar.
Por mais longo que seja o caminho, é sempre preciso dar o primeiro passo. A hora é agora. Cabe à OAB assumir o seu papel histórico mais uma vez e, com base na fundamentação proposta por alguns dos mais renomados juristas do país, apresentar o 113º e derradeiro pedido de impeachment de Bolsonaro.
CIDADANIA, PCdoB, PDT, PSB, PSol, PT, PV, REDE e Unidade Popular, os nove partidos que mencionei, secundarão a Ordem como signatários.
A eles, certamente se somarão outros partidos democráticos e movimentos sociais, além dos quase dois mil autores de outros pedidos.
Para isso, basta convocar a Plenária Nacional do Impeachment, conforme proposta desses partidos e outras lideranças, a fim de aprovar e subscrever a petição da Ordem, tão logo seja formulada.
E, dali, em ato solene, encaminhar o documento ao presidente da Câmara, Arthur Lira, que não se furtará, tenho certeza, de seu papel constitucional: dará início ao fim desse pesadelo.
Em nome dos que ainda estariam vivos.
Em nome dos que ainda perderão a batalha para a doença e para a desídia governamental.
Em nome dos princípios éticos e humanistas que devem guiar a sociedade.
A democracia brasileira clama agora pela liderança da OAB, que a história legitima de forma incontestável.
Brasília, 16 de abril de 2021
Roberto Freire
Presidente Nacional do Cidadania