Já na pobreza extrema, vivem 19,3 milhões de brasileiros, diz pesquisa Made-USP
Pesquisa realizada pela Universidade de São Paulo (USP) identificou um crescimento exponencial da pobreza e da pobreza extrema no país após os meses sem auxílio emergencial e do retorno no programa reduzido em abril.
O estudo publicado nesta quinta-feira (22) pelo Centro de Pesquisa em Macroeconomia das Desigualdades da Universidade de São Paulo (Made-USP) aponta que o número de pessoas vivendo em situação de pobreza chegou este ano a 61,1 milhões; outras 19,3 milhões vivem em situação de extrema pobreza. Os dados coincidem com o pior momento da crise sanitária causada pela pandemia da Covid-19 no país e, também, com o corte e redução da renda emergencial mesmo com o desemprego atingindo níveis recordes.
A pesquisa considera os mesmos critérios do Banco Mundial para avaliar os níveis de pobreza. Pobres são os que vivem com renda mensal per capita inferior a R$ 469, ou o equivalente a US$ 1,90 por dia. Os que se encaixam na extrema pobreza vivem com menos de R$ 162 mensais.
Usando dados antecedentes como referência, brasileiros abaixo do nível da pobreza somavam 51,9 milhões em 2019 – isso significa que, de lá pra cá, o país tem mais 9,1 milhões de pobres. A pandemia também levou para a pobreza extrema mais 5,4 milhões de pessoas.
Os autores do estudo ressaltam que o pagamento do auxílio emergencial ano passado em nove parcelas contribuiu para que os níveis de pobreza até diminuíssem em 2020. Mas, o novo valor, em média, de R$ 250, é insuficiente para compor a renda do mais pobres.
“Já havia um crescimento da pobreza antes da pandemia, isso só não se agravou no ano passado devido ao auxílio emergencial de R$ 600 a R$ 1.200”, observa a pesquisadora Ana Luíza Matos de Oliveira. O estudo identifica que a pobreza recomeçou sua escalada em 2015, ainda durante a crise do governo Dilma.
Em julho de 2020, mês em que o efeito do benefício atingiu o seu auge, a taxa de extrema pobreza do país foi reduzida a 2,4% e a de pobreza a 20,3%, estima o estudo com base em dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) Contínua do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
“O novo modelo do auxílio, que sofreu um corte significativo, está deixando grande parte da população desamparada”, acrescentou a economista. Para ela, a economia também se beneficiou do auxílio: a queda de 4,1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020 só não foi maior porque o auxílio permitiu que parcela significativa da população mantivesse algum nível mínimo de consumo.
“Estamos no pior momento da pandemia em termos sanitários, com diversas cidades voltando a restringir atividades e, justamente agora, foi reduzido o estímulo fiscal”, observa Oliveira.
“Isso deve ter um impacto não só para a população vulnerável, mas também um efeito macroeconômico muito grande. Então é um problema para os mais pobres e para o Brasil como um todo”, assinalou.
A população pobre e sem trabalho ficou de janeiro a abril sem receber nenhum auxílio. A partir deste mês, o benefício voltou reduzido a uma média R$ 250, variando entre R$ 150 a R$ 375 para mães solo. O número de beneficiários também caiu: de 68,2 milhões de pessoas em 2020 para 45,6 milhões de famílias.
Luiza Nassif-Pires, também autora do estudo, acrescenta que é necessário manter o auxílio porquanto durar a pandemia e que dinheiro para isso, há.
“O espaço fiscal poderia existir, mas existe um embate político por esse espaço”, afirma. “Pensando de forma estratégica, o custo do auxílio emergencial não é somente o seu valor de face, porque há um retorno disso. Ele faz com que a economia continue funcionando, então seu custo líquido é muito menor do que aquele que vai aparecer no Orçamento”, diz a economista.
“Manter a economia funcionando apesar da emergência de saúde, às custas de as pessoas precisarem se expor para sobreviver, tem impacto sobre a própria continuidade da pandemia. O problema econômico é resultado do problema sanitário”, sentenciou.
O estudo completo do Made-USP pode ser acessado aqui:https://madeusp.com.br/wp-content/uploads/2021/04/NPE-010-VF.pdf