O veto da CUT à participação do governador de São Paulo, João Doria, no ato do próximo Primeiro de Maio, somente pode ser visto como uma ajuda a Bolsonaro, para que continue seu ataque criminoso – e cada vez mais sangrento – aos trabalhadores e ao conjunto do povo brasileiro.
Que outras centrais tenham aceito o veto, com uma proposta de que o governador aparecesse, mas não falasse no ato, é mais do que lastimável.
Doria fora convidado a falar, no Dia dos Trabalhadores, por todas as centrais sindicais, inclusive pela CUT. Por isso, enviou um vídeo (o ato, devido à pandemia, é virtual), que o leitor poderá ver abaixo:
Foi então, depois de convidá-lo e receber o vídeo, que a CUT vetou sua participação – e outras centrais propuseram uma solução que é, no fundo, uma aderência à posição da CUT.
A realização de um Primeiro de Maio unificado tem a motivação de reunir a maioria dos trabalhadores – daí a unificação da liderança em torno do mesmo ato.
No caso do veto ao governador João Doria, temos a submissão da maioria a uma minoria – ou seja, à CUT, de onde veio o veto.
É, portanto, um veto vergonhoso, além de antidemocrático.
Mas não é apenas vergonhoso e antidemocrático por causa disso.
O lema do Primeiro de Maio é “Democracia, Emprego, Vacina para Todos”.
Quem ameaça a democracia no país – e a todo momento, desde que tomou posse na Presidência -, portanto, ameaça a liberdade dos trabalhadores, até a servidão fascista?
Quem é o inimigo atual dos trabalhadores, que começou o governo liquidando o Ministério do Trabalho, que promoveu a asfixia da Previdência, que implementou uma política de desemprego, arrocho salarial e pura e simples exclusão de qualquer regra civilizada de emprego?
Quem sabotou o combate à pandemia, especialmente a produção e aquisição de vacinas, assim como qualquer medida sanitária, juncando o chão do país com cadáveres?
Exatamente por isso, interessa aos trabalhadores unir todos os que se opõem a Bolsonaro. Independente de tal ou qual discordância, quem implementa essa selva no Brasil de hoje é Bolsonaro – e não o governador de São Paulo.
A retórica barulhenta da nota da CUT, que na prática iguala Doria e Bolsonaro, tem apenas o objetivo de esconder a verdade pelo ensurdecimento de alguns cérebros amolecidos.
Mais ainda quando o assassino que está no Planalto já tem 400 mil mortes nas costas em meio à atual pandemia.
Mais ainda quando nesta questão – a da vida e da morte em massa de brasileiros, sobretudo trabalhadores – Doria se destacou na obtenção de vacinas e no enfrentamento ao obscurantismo (e sanha miliciano-fascista) do governo Bolsonaro.
O que pretende a CUT – ou aqueles que, na CUT, forçaram esse veto a Doria?
Ajudar a candidatura de Lula?
Pois, se foi isso, não podiam prestar maior desserviço à sua candidatura, que assim aparece como uma candidatura sectária, intolerante, que não admite outros junto de si, mesmo quando também são contra Bolsonaro.
Aliás, se existe alguém que Bolsonaro tem feito alvo de seu ódio, nos últimos tempos, é Doria.
Não é o único, evidentemente, mas é um dos principais, talvez o preferencial, na medida em que a bile de Bolsonaro se concentra nas vacinas, que Doria conseguiu obter – até agora, quase 80% das vacinas aplicadas no Brasil são Coronavac, produzidas pelo Instituto Butantan em contrato com a chinesa Sinovac.
O ódio de Bolsonaro é, exatamente, porque a ação de Doria impediu, em parte, a sabotagem da vacinação.
Bolsonaro, entretanto, não é o único sabotador.
Vetar João Doria no Primeiro de Maio é também sabotagem.
Sabotagem à resistência contra o governo Bolsonaro, o governo mais devastador, mais assassino, mais criminoso que este país já teve.
O governo mais inimigo dos trabalhadores que já houve no Brasil.
Sabotagem, portanto, ao Brasil.
CARLOS LOPES
Diretor de Redação