O ex-diretor da Desenvolvimento Rodoviário S.A (Dersa), Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, e mais quatro pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal de São Paulo, nesta quinta-feira (22). Conhecido por ser o operador do PSDB nas obras do Rodoanel foi o primeiro acusado na Operação Lava Jato no estado.
De acordo com inquérito do MP, ele organizou o desvio de R$ 7,7 milhões, entre 2009 e 2011, nas obras do trecho Sul do Rodoanel, da avenida Jacu-Pêssego e das obras de ampliação da Marginal Tietê. O grupo liderado por Paulo Preto é acusado de introduzir quase 1.800 falsos beneficiários no cadastro de desapropriações e gerado pagamentos indevidos.
Paulo Preto é apontado como arrecadador de recursos de caixa dois para o PSDB. Além dele, foi denunciada uma de suas filhas, Tatiana Arana Souza Cremonini e José Casas Villela, chefe do setor de assentamento. Todos foram acusados por formação de quadrilha, peculato e inserção de dados falsos em sistema público de informação.
O tucano foi entre 2005 e 2006, sob a gestão de Alckmin, coordenador do grupo de investimentos rodoviários entre o Estado e os municípios, e a partir de 2007, quando José Serra assumiu o governo, diretor da Dersa, estatal que cuida das rodovias do estado.
Uma auditoria pela Dersa, encerrada em novembro de 2016, confirmou os desvios e concluiu que a maior perda ocorreu na obra do Rodoanel trecho Jacu Pêssego Sul, com prejuízo de R$ 6,3 milhões.
Uma funcionária da Dersa e a irmã dela também foram denunciadas. A funcionária além de inserir falsos beneficiários, usou parentes e pessoas ligadas à sua própria família, para desviar R$ 955 mil, em valores sem juros e correção. Porém, essas pessoas não teriam ficado com o dinheiro. A irmã da funcionária disse que sacava os valores e entregava a pessoas de confiança de Paulo Preto.
A funcionária contou aos procuradores do MP que, no período das fraudes, circulava muito dinheiro no setor em que trabalhava e que Paulo Preto e Villela mandavam entregar quantias a pessoas que indicavam.
Segundo a investigação, Paulo Preto também incluiu entre beneficiários seis pessoas que trabalhavam para sua família. Entre eles uma empregada doméstica, a babá de um neto, a filha da babá e uma secretária de um genro, por exemplo. Elas foram inseridas como atingidas pelas obras do Rodoanel Sul num trecho que não ocorreu qualquer remoção de moradores, informou a Dersa.
113 MILHÕES
O inquérito sobre o esquema de desapropriações não é o único envolvendo o ex-diretor da Dersa.
Em fevereiro, documentos do Ministério Público da Suíça, enviados ao Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo, revelaram que Paulo Vieira de Souza possui R$ 113 milhões em quatro contas diferentes daquele país.
De acordo com o MP suíço, as quatro contas no banco Bordier & Cie em nome da offshore panamenha Groupe Nantes S/A, “cujo beneficiário é o investigado Paulo Vieira de Souza […] atingiam o saldo conjunto de cerca de 35 milhões de francos suíços, equivalente a R$ 113 milhões, convertidos na cotação atual”. Ainda segundo os suíços, os valores transferidos um banco em Nassau, nas Bahamas.
UNIÃO
Desde o início do ano, o criminoso tenta se livrar das investigações realizadas em São Paulo. Sob o argumento que seus processos são correlatos aos dos tucanos José Serra e Aloysio Nunes, a defesa de Paulo Preto solicita a transferência dos inquéritos para o Supremo Tribunal Federal (STF). Pois, Serra e Nunes possuem mandato de senador, gozando de foro privilegiado.
A investigação foi iniciada em São Paulo após o ministro relator da Lava Jato no STF, Edson Fachin, encaminhar o depoimento de um dos diretores da Odebrecht, Carlos Armando Guedes Pascoal, para o tribunal paulista. Ele afirmou em sua colaboração que 15% de um acordo entre a CBPO Engenharia (ligada à Odebrecht) e a Dersa deveriam ser repassados ao PSDB paulista.
De acordo com as investigações de São Paulo, o operador do PSDB participou de desvios de ao menos R$ 100 milhões em recursos do Rodoanel.
A defesa de Paulo Preto no STF é conduzida pelo ex-subprocurador-geral da República, José Roberto Figueiredo Santoro, que também representa Aloysio Nunes (PSDB).
O pedido para que a investigação suba para o STF por uma “conexão de fatos” foi encaminhado para o gabinete do ministro Gilmar Mendes, aquele que, segundo o ministro Luiz Barroso: “Está sempre atrás de algum interesse que nunca é o da Justiça”.