O ex-ministro da Saúde, Nelson Teich, rebateu a fala de Bolsonaro sobre a imunidade de rebanho durante depoimento na CPI da Covid, nesta quarta-feira (5).
Em vez do distanciamento, da quarentena, Bolsonaro dizia que todos deveriam se contaminar para adquirir a tal “imunidade de rebanho”.
“A tese de imunidade de rebanho onde você adquire imunidade através do contato, e não da vacina, é um erro. A imunidade você vai ter através da vacina, não através de pessoas sendo infectadas. Isso não é um conceito correto. Além disso, você teve muito mais casos do que o sistema pode receber […] A imunidade de rebanho, através de infecções, não. Isso é um erro”, declarou.
O ex-ministro disse que saiu do governo porque percebeu que não teria autonomia para atuar e discordava da pressão para recomendar o uso da cloroquina, defendida por Bolsonaro.
“O desejo do uso da cloroquina me fez deixar o ministério”, disse o ex-ministro. “Isso refletia numa falta de autonomia e liderança”, acrescentou.
“As razões da minha saída do ministério são públicas, elas se devem basicamente a constatação de que eu não teria autonomia e liderança que imaginava indispensáveis ao exercício do cargo. Essa falta de autonomia ficou mais evidente em relação as divergências com o governo quanto à eficácia e extensão do uso do medicamento cloroquina para o tratamento da COVID-19, enquanto minha convicção pessoal, baseada nos estudos, que naquele momento não existia evidência de sua eficácia para liberar”, continuou o ex-ministro.
Nelson Teich está prestando depoimento nesta quarta-feira (5) aos senadores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19.
Teich substituiu Luiz Henrique Mandetta no Ministério da Saúde, que ficou apenas um ano e três meses no cargo.
Ele não ficou um mês no comando do ministério (17 de abril até 15 de maio de 2020), também pressionado por Bolsonaro a desrespeitar os procedimentos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para combater a Covid-19, entre eles a quarentena.
E igualmente foi pressionado a seguir o caminho do obscurantismo e do charlatanismo, adotando medicamentos sem eficácia contra o vírus, como a cloroquina, ivermectina e outros. O ministro não aceitou esses absurdos e saiu do governo.
Um dos momentos da política criminosa de Bolsonaro na gestão da pandemia ficou marcado quando ele assinou um decreto para ampliar as atividades econômicas consideradas essenciais e que, portanto, poderiam funcionar em pleno período da pandemia, com a contaminação em alta naquele momento. O decreto incluía na lista salões de beleza, barbearias e academias de ginástica.
Bolsonaro desprezou seu então ministro da Saúde e não avisou Teich sobre o decreto, que somente soube quando estava dando uma entrevista coletiva.
“Saiu hoje isso? Decisão de? Manicure, academia, barbearia…. Não é atribuição nossa, é uma decisão do presidente. A decisão de atividades essenciais é uma coisa definida pelo Ministério da Economia. E o que eu realmente acredito é que qualquer decisão que envolva a definição como essencial ou não, ela passa pela tua capacidade de fazer isso de uma forma que proteja as pessoas. Só para deixar claro que isso é uma decisão do Ministério da Economia. Não é nossa”, disse Teich na ocasião.