Oito indígenas ficaram feridos por tiros disparados por homens armados e em trajes civis no domingo (9) contra os manifestantes que participavam de uma minga indígena―como são chamadas as manifestações ― na cidade de Cali, local onde acontecem muitos protestos contra o governo de Iván Duque, divulgou o Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC). O fato foi registrado em vídeos que inundaram as redes sociais.
A tensão na terceira maior cidade da Colômbia, de 2,2 milhões de habitantes, aumentou nos 12 dias que transcorreram desde o início das manifestações reprimidas de forma violenta pela polícia a mando de Duque, com pelo menos 27 mortos em todo o país.
O senador Feliciano Valencia, do Movimento Alternativo Indígena e Social (MAIS), um dos líderes indígenas mais conhecidos do país, denunciou que as “famílias ricas de Cali em união com a polícia (…) dispararam de maneira indiscriminada” contra a guarda indígena e a comunidade.
“Persiste a perseguição de indivíduos à paisana armados, com o acompanhamento cúmplice do Exército, da polícia e do Esmad [tropa de choque]”, diz a Associação de Conselhos Indígenas do Norte (ACIN).
No final do século passado, Cali, que funciona como um corredor para o narcotráfico, testemunhou os embates entre os grandes cartéis da droga. A cidade é vizinha de territórios ainda em disputa com forças guerrilheiras no departamento do Cauca, e as autoridades inclusive advertiram para a incipiente presença de emissários de cartéis mexicanos. As mobilizações, confrontos e distúrbios decorrentes dos protestos contra o Governo, somados à violenta repressão policial, se juntaram em Cali, transformando a região em uma das mais perigosas da Colômbia.
As autoridades locais reclamam com insistência a presença das forças nacionais. “Senhor presidente Iván Duque, há um protesto indígena e uma paralisação popular. É um problema político de caráter nacional que tem Cali como cenário. Este problema político exige sua visita e de todo o conglomerado nacional para ser resolvido pela via do diálogo”, declarou o prefeito da cidade, Jorge Iván Ospina.
“Aqui em nosso departamento, os prefeitos dos municípios, da arquidiocese de Cali e os líderes sociais estão trabalhando nas mesas para criar os corredores humanitários, mas a questão indígena é unicamente das alavancas do Governo nacional”, apontou por sua parte a governadora do Valle del Cauca, Clara Luz Roldán. Estas autoridades locais informam que não obtiveram até agora nenhuma resposta a seus apelos.
Atingida também por uma enorme desigualdade, a situação de Cali vem se agravando desde 28 de abril, o primeiro dia de paralisação nacional convocada por centrais
sindicais e organizações estudantis, à qual se somou a minga indígena. Manifestantes de todas as tendências sociais e políticas ocuparam bairros populares, onde fecharam vias, levantaram barricadas e expulsaram a força pública que, apesar do recurso à violência tem sido incapaz de dispersar as manifestações.
O presidente Duque, forçado a reagir, deu uma declaração ao país. O mandatário pediu aos líderes do CRIC que ordenem aos manifestantes a volta aos seus lugares e o fim dos bloqueios viários em Cali “para evitar confrontações desnecessárias”. E, transferindo a responsabilidade, anunciou o envio de uma delegação encabeçada por seu ministro do Interior, Daniel Palacios.
“As imagens que estamos vendo na cidade de Cali merecem, de parte de todos nós, agir com toda a prudência”, declarou o mandatário, a quem diversas personalidades cobraram que ele mesmo viajasse com urgência à região para ver de perto a difícil situação social e de ordem pública. “Eu tomei a decisão, por prudência, de não fazer neste momento uma presença que distraia o trabalho da força pública, que deve estar mobilizada em toda a cidade, mas estou em monitoramento permanente”, disse. Suas palavras geraram uma chuva de críticas, tanto da oposição política como de seu próprio partido, o Centro Democrático.
Os manifestantes divulgaram as seguintes exigências sociais, políticas e unitárias:
- Implementação de um acordo de paz que garanta parar com o assassinato de líderes sociais e políticos.
- Retirar de pauta as chamadas ‘reformas’ de saúde, previdência e trabalhista.
- Renda básica universal e matrícula zero no ensino médio e superior.
- Ajuda financeira às Pequenas e Médias Empresas e perdão de dívidas.
- Educação gratuita e condições seguras para as aulas presenciais.
- Maior investimento financeiro na educação básica, média e superior.
- Creches diurnas e noturnas para crianças na primeira e segunda infância.
- Justiça investigativa e criminal para todos os assassinatos, feridos, torturados e desaparecidos na Greve Nacional.
- Proibição da perseguição policial e militar aos integrantes e participantes da greve nacional.
- Liberação imediata de todos os detidos e que os desaparecidos apareçam.