Um levantamento feito pela consultoria Novelo Data, a pedido do site Congresso em Foco, mostrou que 385 videos de 34 canais de apoiadores do bolsonarismo no YouTube foram excluídos desde abril, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou que a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid fosse instalada pelo Senado.
A pesquisa apontou que houve uma limpa de vídeos tratando de conteúdos sobre tratamento precoce contra a doença.
O tratamento à base de medicamentos como cloroquina, hidroxicloroquina e ivermectina tem sido defendido por Bolsonaro desde o início da pandemia, mas foi considerado ineficaz após estudos científicos avalizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Segundo a Novelo Data, vídeos como “Exija a HIDROXICLOROQUINA do seu médico” e “HIDROXICLOROQUINA está funcionando sim!” sumiram do canal do comentarista Alexandre Garcia em 18 de abril, por exemplo. A ex-apresentadora de TV Leda Nagle, que hoje comanda um canal com entrevistas, também retirou do ar 23 vídeos nas últimas semanas.
O levantamento mostrou também que o vídeo “Amanda Klein tenta deixar prefeitos em saia justa mas leva resposta à altura” foi deletado pelo jornal Gazeta do Povo, do Paraná, e que a publicação “CPI já tem conclusões antes de começar”, do canal Notícias Política BR também sumiu. O canal do youtuber Gustavo Gayer desapareceu com o vídeo “Na Noruega, a vacina da Pfizer e mortes de idosos”.
De acordo com a Novelo Data, não é possível apontar se os vídeos foram apagados ou apenas ocultados. O YouTube informou que a plataforma tem regras públicas sobre o tipo de conteúdo aceito e cabe aos criadores saberem a respeito delas e das consequências em não segui-las.
O fato é que os influenciadores digitais estão de orelha em pé, desde que a CPI sinalizou que esses comunicadores estão entre os alvos das investigações. No final de abril, os membros da comissão aprovaram requerimentos para saber se a Presidência da República, por meio da Secretaria de Comunicação (Secom), fez pagamentos para que canais defendessem teses alinhadas ao governo. Outro requerimento no mesmo sentido foi encaminhado ao Ministério da Saúde.
Para Guilherme Felitti, um dos fundadores da Novelo Data, o timing do apagamento de vídeos é “curioso”, justamente quando uma investigação ameaça ir atrás de possíveis fontes de financiamento de propaganda. “É muito curioso ter limpezas gigantescas de canais negacionistas durante a instauração da CPI da pandemia e dos depoimentos”, comentou.